FMI: Brasil e Argentina puxam lenta recuperação da América Latina
Projeção de crescimento teve ligeira queda e região é considerada a mais vulnerável pelo órgão

A recuperação da economia mundial avança “a passos firmes”, com riscos que estão “bastante equilibrados”, confirma o Fundo Monetário Internacional na atualização de suas projeções, as quais, no entanto, apontam para uma mudança na distribuição do crescimento nos últimos três meses. O crescimento foi melhor do que se esperava em países como Brasil, México e Espanha, mas não cumpriu as expectativas nos Estados Unidos, Reino Unido e no conjunto da América Latina.
O FMI mantém a previsão de uma expansão global de 3,5% neste ano, contra 3,2% registrados em 2016. O crescimento para as economias avançadas passará de 1,7% há um ano para 2%. Os riscos relacionados a eleições, segundo a equipe de economistas dirigida por Maurice Obstfeld, “se atenuaram”, mas a incerteza a respeito das políticas a serem adotadas em algumas economias importantes não só se mantém como poderá “se agravar”.
Trata-se de uma referência clara à situação dos Estados Unidos. A maior potência mundial crescerá 2,1% em 2017 e 2018, o que representa um salto do meio ponto percentual com relação a 2016. É uma estimativa compatível com as projeções do Federal Reserve (banco central dos EUA) e do Escritório Orçamentário do Congresso. Entretanto, representa um corte de 0,2 ponto em relação à projeção do trimestre passado, e de 0,4 em relação à estimativa de abril.
E, sobretudo, é uma cifra distante dos 3% de crescimento prometidos pelo presidente Donald Trump. A revisão para baixo, segundo Obstfeld, é “importante” para os EUA e se justifica, como já antecipava o relatório do país no final de junho, porque o plano de estímulos do novo Governo ainda não saiu do papel. “Em curto prazo, é menos provável que a política fiscal dos EUA seja expansionista”, indica o economista-chefe do FMI.
Algo similar acontece com o Reino Unido, que viu sua projeção de crescimento para este ano ser reduzida em 0,3 ponto percentual, de 2% para 1,7%. Obstfeld cita dois motivos. Primeiro, que o rendimento da economia britânica se mostrou “morno” no primeiro semestre. Segundo, que o impacto da desfiliação britânica da União Europeia continua incerto, à espera do resultado da negociação com Bruxelas. A estimativa foi mantida em 1,5% para o ano que vem.
Zona do euro e Espanha
A percepção é diferente para a zona do euro, com uma expansão prevista em 1,9% este ano e 1,7% em 2018. Obstfeld diz que um resultado “mais robusto” é possível graças ao vetor da demanda, mais sólido do que se previra anteriormente. O crescimento da Espanha será o mais expressivo do grupo, com 3,1% em 2017, frente a 1,8% da Alemanha e 1,5% da França. Isso é meio ponto acima do que se previa em abril, mas deve desacelerar para 2,4% em 2018 – ainda 0,3 ponto percentual melhor do que se antevia.
Os países emergentes e em desenvolvimento são os que continuam puxando o crescimento, com uma cifra estimada em 4,6% neste ano e 4,8% no próximo. A Rússia supera a recessão, e a China deve retomar a trajetória de aceleração, com 6,7%. Para 2018, a previsão é de uma redução de 0,3 ponto percentual em relação a este ano, o que ainda é 0,2 melhor que a estimativa de abril. Esse ritmo robusto acarreta um risco, porque alimenta a rápida expansão do crédito.
Embora os técnicos do FMI estejam otimistas, o que mais lhes preocupa em curto prazo é que os bancos centrais das economias avançadas mostrem um interesse maior por retirar os estímulos monetários, como está fazendo o Federal Reserve. Isso afetaria os países emergentes e em desenvolvimento que receberam capital a juros muito baixos. Por isso, aproveitando que a inflação continua baixa, o Fundo pede cautela.
Aproveitando a atual fase de vigor econômico, Obstfeld reiterou a necessidade de reformas que permitam recuperar o potencial prévio à grande crise. Neste sentido, ele observa que o baixo crescimento não só impede uma melhora na qualidade de vida, “como também gera o risco de exacerbar as tensões sociais” e as políticas protecionistas. Concluiu que a cooperação multilateral também é crucial para garantir a prosperidade e sua distribuição.
Lenta recuperação na América Latina
O Fundo Monetário Internacional certifica que a América Latina está superando a recessão. Projeta um crescimento de 1% neste ano, que quase dobrará para 1,9% em 2018. A região, entretanto, continua sendo a mais vulnerável. “Segue arrastando um crescimento abaixo do potencial”, diz Maurice Obstfeld. A projeção para os próximos dois anos é 0,1 ponto percentual menos otimista do que há três meses.
"A atividade econômica irá se recuperando pouco a pouco, à medida que países como Argentina e Brasil se recuperem da recessão", afirma o organismo em sua atualização. No caso da economia brasileira, passará de uma contração de 3,6% a um tímido crescimento de 0,3%, antes de chegar a 1,3% em 2018. É uma melhora de 0,1 ponto para este ano, explica ele, "graças ao vigor do primeiro trimestre". Mas o crescimento em 2018 será 0,4 ponto percentual mais moderado do que se previa, o que se deve "à persistente fragilidade da demanda interna e ao agravamento da incerteza em torno da situação política e da política econômica".
O FMI acrescenta que as revisões para o resto da região são “principalmente para baixo” e indicam “uma nova deterioração das condições econômicas na Venezuela”. O México, enquanto isso, vê sua projeção melhorar em 0,2 ponto para este ano, chegando a 1,9%. Os técnicos do FMI admitem que a economia rendeu melhor do que o esperado no primeiro semestre, e isso permitirá que a desaceleração não seja tão brusca como se temia há três meses. A estimativa se mantém em 2% para 2018, o que seria 0,3 ponto percentual a menos que o crescimento registrado em 2016.