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Marcelo Odebrecht, um ‘príncipe’ na masmorra por dois anos

Preso desde 2015, empresário é retratado em biografia não autorizada lançada nesta quinta EL PAÍS publica com exclusividade capítulo sobre as relações pessoais do herdeiro do grupo

As quatro gerações da família Odebrecht
As quatro gerações da família OdebrechtDivulgação

Quando o herdeiro do Grupo Odebrecht foi preso, em 19 de junho de 2015, o Brasil era um país diferente. Da prisão, Marcelo Odebrecht assistiu ao desmantelamento do esquema de corrupção criminoso que montou dentro da construtora para comprar políticos e funcionários públicos. Viu também a queda do Governo de Dilma Rousseff, o agravamento da crise econômica, a prisão de diversos ex-parceiros políticos e antigos parceiros de cartel assinarem seus acordos de delação. É do inconveniente camarote que acompanha ainda a via-crúcis enfrentada pela empresa da família para tentar evitar a ruína, em um escândalo classificado por Deltan Dallagnol, procurador da força-tarefa do Ministério Público Federal para Operação Lava Jato, como “pior que Watergate", por ultrapassar as fronteiras do país e afetar democracias por toda a América Latina.

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Também assistiu ao empresário Joesley Batista admitir tantos crimes quanto ele, mas sair ileso, em um esquema que envolve de corrupção e lavagem de dinheiro que atinge até mesmo o presidente Michel Temer. Mesmo com a delação premiada, tem pela frente uma uma pena de dez anos de reclusão. Após deixar a penitenciária, o que deve acontecer no final deste ano, ainda terá pela frente sete anos e meio a serem cumpridos em regime de prisão domiciliar, afastado de qualquer tipo de atividade da companhia.

Há tempos a sorte parece ter deixado o Príncipe, apelido que ganhou da Polícia na Operação Lava Jato. E a virtude, uma qualidade dos grandes líderes, tampouco lhe sobra, como mostra o livro O Príncipe - uma biografia não autorizada de Marcelo Odebrecht, escrito pelos jornalistas Marcelo Cabral e Regiane Oliveira, e editado pela Astral Cultural. O livro, lançado nesta quinta-feira (06), baseia-se na trajetória de Marcelo Odebrecht, para falar sobre ambição, poder e seus paradoxos no Brasil.

Na obra, Marcelo é retratado como uma espécie de anti-Eike. Enquanto o empresário carioca mantinha na sala de sua casa, como objeto de decoração, um modelo esportivo Lamborghini Aventador, avaliado em R$ 3 milhões — pelo menos até o veículo ser apreendido pela Polícia Federal, no início de 2017, Marcelo dirigia um modesto Chevrolet Meriva, substituído por necessidade por um Kia Carnival. O bilionário que não teve pudores em revelar para o país que comprava licitações, nunca gostou de ostentar. E essa é só uma das contradições da complexa personalidade dele presentes no livro.

Sem o carisma do pai, Emílio, nem o espírito empreendedor do avô, Norberto, Marcelo encontrou na corrupção o cenário ideal para fazer valer o lema da empresa – "sobreviver, crescer e perpetuar" – para expandir os negócios da empresa. Ganhou dinheiro, mas falhou como o "cidadão de bem" que queria ser. Tinha tanta confiança que nunca seria pego que sequer tentou esconder o departamento de propina criado para gerir a corrupção. Ficará para a história como o homem que descortinou o maior esquema de corrupção do país. Quem diria que o trabalho de delator cairia tão bem a um príncipe.

O livro O Príncipe - uma biografia não autorizada de Marcelo Odebrecht será lançado nesta quinta-feira (6), na livraria Saraiva Megastore, do Shopping Paulista, em São Paulo.

Leia o capítulo "O cidadão de bem", sobre as relações pessoais do Príncipe.

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