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A luta pelo funk no Senado: a história mais brasileira nunca contada?

Projeto que pode proibir o funk será discutido no Senado. A música será defendida por Anitta, Valesca Popozuda e Romário

Tom C. Avendaño
A cantora Anitta.
A cantora Anitta.INSTAGRAM
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A legislação brasileira permite que qualquer proposta que consiga angariar 20.000 apoiadores em menos de quatro meses seja, pelo menos, debatida no Senado. O que as regras não previam é que por essa fresta passasse uma história tão arquetípica como a que está sendo proporcionada por uma proposta cidadã de tornar ilegal o funk, uma música popular que, mais do que pelo seu ritmo, se define pela atitude desafiadora de seus autores e intérpretes e pelo fato de ter forte penetração no universo das favelas. Em outras palavras, é “música de pobre”, em um país marcado pela desigualdade e pelo elitismo. E, também, uma música de muito sucesso, para desgosto de muitas pessoas das classes mais altas.

O relator escolhido para encaminhar a discussão é Romário, jogador de futebol que atuou no Barcelona de Johan Cruyff nos anos noventa e foi eleito senador pelo Partido Socialista Brasileiro. Como era de esperar, Romário, que em 1994 chegou a discutir com Cruyff sobre a quantidade de saídas noturnas permitidas aos atletas e deu um fecho à questão com a famosa frase “se eu não saio, não faço gols”, já adiantou que irá votar contra a proposta.

Vários especialistas no assunto foram convidados para a sessão, ainda sem data definida, que debaterá o tema em uma comissão no Senado. Por exemplo, a cantora de funk Anitta, o maior fenômeno musical dos últimos anos no Brasil. A multifacetada comissão, verdadeira metáfora de como o país pode ser divertido fora das instituições, incluirá também uma veterana, Valesca Popozuda, e um símbolo comercial, Nego do Borel, que se tornou bastante conhecido nos últimos anos.

A mente que criou a proposta se localiza no extremo oposto desse grupo. Trata-se de Marcelo Alonso, um web designer que afirma em sua página no Facebook, entre memes homofóbicos e islamofóbicos, que o funk é “um crime de saúde pública” e que a ideia de proibi-lo não vem dele apenas, sendo, segundo suas palavras, “a vontade do povo”. Não constitui motivo de alegria o fato de que a proposta, que expressa esse espírito elitista, tenha reunido 20.000 assinaturas tão rapidamente. Tendo de enfrentar agora figuras icônicas das favelas e um ex-jogador de fama internacional, ela conseguiu –ainda que de forma muito simplificada— se transformar em uma das histórias mais brasileiras dos últimos anos.

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