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Valesca Popozuda: “Sou feminista desde que nasci”

Considerada por muitos uma 'musa' feminista, a cantora já foi até objeto de estudo

Considerada por muitos uma musa do movimento feminista e LGBT, a cantora Valesca Popozuda já foi tema de estudo sobre a sua relevância para o feminismo no Brasil nos dias atuais. Autora de músicas como Minha Poussey É O Poder, Quero te Dar e Sou Gay, ela rebola e manda beijo para as inimigas sobre o palco, mas fora dele, defende que as mulheres se unam na luta pelos seus direitos e se assumam como "poderosas" e donas de seus próprios corpos e destinos.

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Embora não esconda o cuidado com as curvas (a carioca de 36 anos não bebe cerveja, segue uma dieta equilibrada e malha "bastante"), e admita o orgulho que sente em ser chamada de "gostosa", faz questão de repetir que é mais que um par de peitos, coxas e uma bunda, como já disse em várias ocasiões. Devido a frases como essas, foi objeto de uma tese de mestrado sobre o seu papel na luta feminista no Brasil e a relevância do funk para a luta pelo direito à liberdade sexual das mulheres.

Também chegou a ser chamada de "grande pensadora" da atualidade em uma prova de um colégio do ensino médio em Brasília, o que causou enorme repercussão nas redes sociais e na mídia em 2014. Ela, porém, reagiu com inteligência à polêmica que isso gerou. Em seu Facebook, comentou à época que se não fosse uma funkeira, mas uma cantora de MPB, o caso não teria dado tanto o que falar.

Em entrevista ao EL PAÍS ela falou sobre feminismo, a carreira e o cenário político atual.

P. Pra você, o que é feminismo?

R. Feminismo para mim é todo o ato de lutar pelo o que nos indigna, nos deixa triste. Sou feminista desde que nasci. Vim de um berço onde a minha melhor inspiração foi e continua sendo a minha mãe. Uma mulher guerreira e que nunca teve preguiça para ir atrás dos seus sonhos. Feminismo é ter voz para lutar contra a desigualdade.

P. Mas há quem critique o modo como as mulheres são retratadas pelo funk, como "objetos”, por exemplo. O que você acha disso?

R. O funk, como é a manifestação pura do desejo e imaginativo popular, tem algumas letras que realmente denigrem a mulher. Sabe o que eu faço? Penso em mudar o que posso, cantando ao contrário, enaltecendo as mulheres! Mostrando que somos fortes e com o mesmo poder de fogo que qualquer um.

P. Outra crítica às suas músicas é que algumas perpetuam alguns "mitos" sobre as mulheres. Por exemplo, de que não existe amizade verdadeira entre mulheres. Você tem amigas?

R. É mito mesmo. Claro que existe amizade entre duas mulheres, apesar de haver disputa algumas vezes, o que na amizade entre homem e mulher não tem. Eu tenho algumas grandes amigas, que são leais, divertidas e que somam. O importante em qualquer amizade é que exista o amor. Quem ama, não disputa, acrescenta.

P. E as inimigas?

R. Que eu saiba não tenho nenhuma.

P. Algumas das suas letras falam de sexo de maneira mais explícita. Mas isso tem ficado cada vez menos em evidência na sua carreira...

R. Eu sempre usei a liberdade a meu favor e como a minha voz, que aí não era só minha, virava a de muitos. No caso de algumas letras que eu gravei, eu era a intérprete de um conceito que os autores viam nas ruas, nas festas, no cotidiano. Eu e meu empresário, o Pardal, sempre fomos a favor da criatividade, de enxergamos adiante, o que várias vezes ia pro lado do feminista, em ser ativista. Estou começando o trabalho do meu novo single, o Sou Dessas, que conta com a participação de Claudia Leitte, minha grande amiga e ativista nas questões femininas. Estamos na produção a todo vapor para que saia tudo lindo. A Sou Dessas fala da mulher guerreira, que faz o que quer e quando quer. E que não abaixa a cabeça para nada que a desagrade, tudo isso aproveitando muito a vida, é claro!

P. Uma das bandeiras do feminismo é dar às mulheres liberdade para fazer o que quiserem com o próprio corpo. Qual a sua opinião sobre a legalização do aborto no Brasil?

R. É um tema muito delicado. Eu aprendo todos os dias a não julgar o próximo, já que como pessoa pública, recebo diariamente julgamentos, alguns extremamente grosseiros e sem razão. Por essas e outras, acredito que cada um tem a liberdade de escolha. Mas que para cada decisão, você paga um preço.

P. Você tem um filho adolescente. Como é ser mãe e funkeira? Que valores tenta passar pra ele?

R. Meu filho é educado diariamente por mim e pelo pai para ser um homem de bem, respeitando o próximo, sendo lutador, trabalhador. E sem dúvida, para tratar a todos da mesma maneira.

P. Agora, falando um pouco sobre política... Você declarou que votou na Dilma e o Lula nas eleições. Qual a avaliação faz dos governos do PT?

R. Como todo brasileiro que ama o nosso país eu acredito que o poder não está nas mãos de um só governante, por isso o descontrole que estamos vendo hoje. A nossa presidente, a Dilma, e o Lula fizeram reformas preciosas no nosso país. No começo da minha carreira, ainda na época da Gaiola [Gaiola das Popozudas, grupo em que ela era dançarina], o Lula foi um dos grandes incentivadores do meu trabalho, um presidente acessível ao povo. Eu avalio diariamente o que vejo por onde passo, o que vejo quando vou ao supermercado. E torço, para que o nosso país se reorganize.

P. Falando sobre o Congresso agora. Recentemente, a Câmara deu um passo rumo à aprovação da redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. O que você acha disso?

R. Sou a favor de que a Câmara discuta mais temas sobre como educar melhor a nossa juventude. Não admito ver as pessoas discutindo problemas de falta de segurança, quando na verdade o que importa e fará a diferença é um país com pessoas que estudem, que pensem, daí, não será necessário pensar em maioridade penal.

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