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Trump volta à carga contra imprensa e forja ‘surra’ na CNN no Twitter

Presidente dos EUA tuita um vídeo em que dá vários socos em um homem no qual puseram digitalmente o logotipo da rede de TV

Pablo de Llano Neira
Imagem do vídeo em que Trump raspa a cabeça de Vince McMahon.
Imagem do vídeo em que Trump raspa a cabeça de Vince McMahon.WWE

A dois dias do Dia da Independência dos EUA, símbolo da unidade dos norte-americanos, Donald Trump criou seu próprio espetáculo de fogos de artifício e má vontade política. Os Estados Unidos, um país já quase curado dos espantos com os tuítes de seu presidente, mas em constante renovação do nível de assombro, assistiu neste domingo à publicação por parte de Trump de uma montagem de vídeo na sua conta pessoal de Twitter na qual o máximo dignitário da nação aparece como um valentão golpeando ao lado de um ringue uma pessoa com o logotipo da CNN –nêmesis midiática do presidente– sobreposto na cabeça.

Ou seja: a imagem física do presidente dando uma surra em um jornalista de um meio de comunicação, setor que Trump categorizou como “o inimigo do povo americano”.

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O tuíte viralizou rapidamente e passou de imediato do terreno do absurdo ou cômico para o da crispação política, clima que o presidente endossa sistematicamente, convencido de que a razão de ter chegado à presidência, e que pode mantê-lo no poder, é a transformação da política nacional em uma permanente briga-espetáculo entre sua América popular e a América das elites, encarnada, segundo ele, pelo status quo político de Washington e os órgãos de mídia de massas. Trump concebe sua presidência como um combate de luta livre norte-americana. Um show exacerbado que excita o público e no qual se deve tomar o partido de um lutador: neste caso, o presidente contra a CNN ou The New York Times ou The Washington Post..., ou sintetizando em seu jargão: os fake media ou mídias mentirosas.

A CNN reagiu ao grotesco vídeo com um comunicado. “É um dia triste quando o presidente dos Estados Unidos incentiva a violência contra os jornalistas.” “Em vez de preparar sua viagem ao exterior, seu primeiro encontro com Vladimir Putin, as relações com a Coreia do Norte, e trabalhar em seu projeto de lei de saúde pública, envolve-se em comportamentos infantis muito abaixo da dignidade de seu cargo”, ressalta a rede. Antes de publicar este comunicado, a equipe de relações públicas da CNN havia respondido ao presidente através da rede social Twitter citando as palavras de sua própria subsecretária de Imprensa, Sarah Huckabee Sanders, que apenas três dias atrás disse: “O presidente de nenhuma maneira ou forma alguma promoveu ou estimulou a violência, muito pelo contrário”.

De Hulk Hogan a Donald Trump

Trump –33 milhões de seguidores no Twitter– emprega em sua mensagem um vídeo real de 30 segundos que foi gravado em abril de 2007, quando o magnata assistiu a um duelo na WWE, liga de luta livre –sobre a qual durante um período houve rumores de que seria adquirida por ele. Dentro do estilo artificial desses combates de luta, Trump se lança sobre Vince McMahon, o presidente dessa empresa de pressing catch, que tinha entre seus contratados o célebre bigodudo Hulk Hogan. Depois de vencer McMahon, ao qual golpeia no chão com o punho fechado, Trump o coloca sentado no ringue e lhe raspa a cabeça. Aquilo era uma piada. Agora é uma provocação: o logotipo da CNN foi sobreposto na cara do rival de Trump e o vídeo termina com uma imagem em que o logo da CNN é trocado pelo satírico FNN, Fraud News Network (Rede de Notícias Falsas).

Linda McMahon, a mulher do presidente da liga de pressing catch em quem Trump dá uma surra no vídeo, foi escolhida por Trump como chefa da agência de seu Governo que supervisiona as políticas relativas ao pequeno comércio. Durante a campanha, doou seis milhões de dólares a uma organização de apoio à candidatura de Trump, segundo The Washington Post.

Ainda na manhã deste domingo, no calor da polêmica, senadores de seu partido expressaram desagrado com o tuíte do presidente. Mike Lee (representante de Utah) disse que “não contribui para nada de bom” e Ben Sasse (Nebraska) mostrou sua preocupação com que Trump continue semeando a “desconfiança” na mídia para utilizá-la como uma “arma” política.

Pouco depois de lançar o tuíte deste domingo, a conta oficial do presidente o retuitou a seus 19 milhões de seguidores. Em duas horas, a mensagem do presidente, que se encontra este fim de semana em seu clube de golfe em Nova Jersey, foi retuitada 72 milhões de vezes, o que a situa entre seus tuítes mais replicados. Para entrar no top 10 terá de chegar aos 100 milhões.

Funcionários da CNN e jornalistas de outros órgãos da mídia demonstraram sua repulsa à publicação de Trump, justificada no Governo. “Ninguém pode perceber isso como uma ameaça. Espero que não o façam”, afirmou o assessor de Segurança Nacional, Thomas Bossert.

A imprensa se transformou em um adversário prioritário para Trump, que esta semana insultou duramente o casal de apresentadores do matutino da rede MSNBC –chamou Mika Brzezinski de “burra como uma pedra” e Joe Scarborough de “louco”— e que qualifica de falsos todos os órgãos da mídia que informam sobre seus escândalos.

O presidente tem usado o Twitter desde sua campanha eleitoral para açoitar a mídia. Alvo de uma maré de críticas por seus excessos, incluindo em seu próprio partido, o Republicano, Trump as despreza e se orgulha de sua atitude. “Meu uso das redes sociais não é presidencial, é MODERNAMENTE PRESIDENCIAL [sic]”, tuitou neste sábado.

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