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Conflito por terras no Maranhão termina com denúncia sobre mãos decepadas

Conselho Indigenista Missionário denuncia 13 feridos por ataque a aldeia Secretaria de Segurança local instaurou inquérito para investigar o ocorrido

Um dos indígenas hospitalizados após o conflito.
Um dos indígenas hospitalizados após o conflito.Ana Mendes (Cimi)
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O conflito por terras no Maranhão deixou 13 índios feridos neste domingo, como consequência do que o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) classificou como um ataque de fazendeiros. Segundo o Cimi, dois dos indígenas terminaram o confronto com as mãos decepadas — o governo local confirmou apenas uma vítima com as mãos decepadas, mas, horas depois, corrigiu a informação para "fratura exposta". O enfrentamento entre seguranças de duas fazendas contra os índios Gamela ocorreu no povoado das Bahias, localizado no município de Viana e, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública do Maranhão, três fazendeiros também saíram feridos dos atritos.

Na descrição do Governo do Maranhão, que classificou o evento de "violência lamentável", foi "registrado no último domingo (30) um confronto entre índios Gamela e seguranças de duas fazendas nessa região". As autoridades acrescentam que "as fazendas teriam sido ocupadas pelos índios". Durante o confronto, sete pessoas ficaram feridas, nas contas do Governo, "cinco gamelas e dois não-gamelas".

A Polícia Militar foi acionada "para impedir a continuidade do confronto" e os policiais "prestaram socorro às vítimas encaminhando-as para hospitais da região". Os policiais permanecem no local com reforço efetivo.A Secretaria de Estado de Segurança Pública informou ainda que já instaurou inquérito para investigar as circunstâncias em que ocorreram os acontecimentos.

O governador do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB), lembrou em seu perfil no Twitter que o Governo local não é responsável legalmente por "conflitos envolvendo supostas terras indígenas", mas disse que "o governo do Estado, tão logo tomou conhecimento, tomou todas as providências para evitar continuidade de conflitos violentos". Segundo Dino, "o governo do Maranhão também apura se políticos instigaram ou não atos de violência, pois isso também é inadmissível". O Governo informa que "encaminhou ofício ao Ministério da Justiça, pois compete ao Governo Federal definir se as terras em questão são indígenas ou não".

Feridos

Segundo o Cimi, "cinco indígenas foram transferidos durante a noite de ontem [domingo] e madrugada de hoje para o Hospital Socorrão 2, Cidade Operária, na capital São Luís". "Todos baleados em várias partes do corpo e dois chegaram à unidade com membros decepados: um teve as mãos retiradas a golpes de facão, na altura do punho (foto ao lado); outro, além das mãos, teve os joelhos cortados nas articulações", relata em nota o conselho.

Já a Secretaria de Estado da Saúde do Maranhão informou que três pessoas deram entrada na noite de domingo no Hospital Regional Dr José Murad, em Viana. O indígena Aldenir de Jesus Ribeiro, de 37 anos, sofreu ferimentos com arma branca nos antebraços, nos quais tinha fratura externa, "e também ferimentos por arma de fogo no tórax direito com fratura de costela". No primeiro boletim da Secretaria de Saúde, ele foi identificado como o indígena que teve as mãos decepadas e foi "encaminhado em estado gravíssimo" para o Hospital Clementino Moura, na capital São Luís. O Governo local, agora, fala apenas em "fratura exposta" nos membros superiores.

Ainda segundo a Secretaria de Saúde, Domingos Gomes Rabelo, de 60 anos, e Jorge Albuquerque Rabelo, de 36 anos, foram atingidos de raspão por arma de fogo e foram liberados na manhã desta segunda-feira. Outros indígenas foram encaminhados para o mesmo hospital em São Luís. Seguiam em recuperação José Ribamar Mendes, de 46 anos, que sofreu fratura exposta, e José André Ribeiro Camelo, de 45 anos, com trauma craniano por agressão física. Os indígenas Inaldo da Conceição Vieira Sereno, de 43 anos, que tinha ferimento por arma de fogo, e Francisco Jansen Mendonça da Luz, de 43 anos, vítima de agressão física, já tiveram alta.

Segundo o Cimi, "não é o primeiro ataque sofrido pelo povo Gamela, que luta para que a Funai instale um Grupo de Trabalho para a identificação e demarcação do território tradicional". O Conselho diz que "devido a morosidade quanto a quaisquer encaminhamentos pelo órgão indigenista, os Gamela decidiram recuperar áreas tradicionais reivindicadas". As tensões na região levaram, em 2015, a um ataque a tiros. Em 26 de agosto de 2016, novo atrito: três homens armados e trajando coletes à prova de bala invadiram outra área e foram expulsos pelos Gamela.

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