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“Assinava os e-mails com o nome dela e me tratavam pior”: um experimento sobre o machismo no trabalho

Martin se apresentou como Nicole aos seus clientes: "Vivi um inferno. Todas as minhas sugestões eram questionadas"

Emilio Sánchez Hidalgo

Martin R. Schneider é um blogueiro que vive na Filadélfia (Pensilvânia, Estados Unidos), assim como Nicole Hallberg. Há cerca de três anos, os dois trabalhavam em uma agência de empregos, que funciona como ponte entre pessoas desempregadas e empresas interessadas em contratar. Martin contou em seu Twitter um experimento que fizeram durante uma semana: ele assinava com o nome dela os e-mails e vice-versa. "Isso serviu para comprovar o machismo que as mulheres sofrem no trabalho", diz o norte-americano ao EL PAÍS por e-mail. Esse é o seu relato publicado no Twitter (excluímos algumas das mensagens que consideramos redundantes).

Essa é uma pequena história sobre quando Nicole me ensinou como é impossível que profissionais do sexo feminino recebam o respeito que merecem

Eu e Nicole trabalhávamos em uma pequena agência de empregos. E nosso chefe sempre tinha uma queixa: ela demorava demais para lidar com os clientes.

(Esse chefe tinha um fetiche por eficiência e era um idiota apaixonado pela economia, mas isso já é outra história).

Como supervisor de Nicole, eu acreditava que isso era um incômodo sem importância, na melhor das hipóteses. Entendia que o motivo pelo qual eu fazia as coisas mais rápido era porque tinha mais experiência que ela.

Mesmo assim, eu me atinha a controlar seus tempos e a pressionava por conta do que o nosso chefe dizia. Nós dois o odiávamos, e, por isso, ela fazia todo o possível para acelerar sua forma de trabalhar.

Um dia, eu estava trocando e-mails com um cliente sobre seu currículo e era INSUPORTÁVEL. Ele era grosseiro e desrespeitoso, além de ignorar as minhas perguntas.

Já estava de saco cheio dessa merda quando me dei conta de uma coisa. Como usávamos o mesmo e-mail, eu estava assinando (sem querer) as mensagens como 'Nicole'.

MELHORA IMEDIATA. Respostas positivas, agradecimentos pelas sugestões, me respondia rápido e me dizia: "boas perguntas!". Transformou-se em um cliente exemplar.

Quando eu perguntei a Nicole se isso acontecia sempre, sua resposta foi: "Bem, nem SEMPRE... mas, sim. Muitas vezes".

Fizemos um experimento: durante duas semanas, mudamos os nomes. Eu passei a assinar como Nicole e ela com o meu nome. Amigos, foi horrível.

Eu vivi um inferno. Todas as minhas perguntas ou sugestões eram questionadas. Os clientes com os quais normalmente era fácil lidar passaram a ser condescendentes. Um deles me perguntou se eu estava solteiro.

Nicole teve a semana mais produtiva de sua carreira. Então, me dei conta de que o motivo pelo qual ela demorava mais era ter que convencer os clientes a respeitá-la.

Quando ela conseguia fazer com que os clientes aceitassem que ela sabia o que estava fazendo, eu já tinha conseguido chegar à metade do processo com outro cliente.

Eu não era melhor do que ela no trabalho. Tinha, apenas, essa vantagem invisível.

Eu mostrei tudo para o nosso chefe e ele não acreditou. Então eu disse que tudo bem, mas que já não iria pressioná-la para que fosse mais rápida com os clientes.

E o pior de tudo é que, para mim, foi algo surpreendente. Ela estava acostumada. Simplesmente entendia que era parte do trabalho.

O primeiro tuíte, publicado no dia 9 de março, foi compartilhado mais de 10.000 vezes e recebeu mais de 12.000 curtidas. Martin explica ao EL PAÍS mais detalhes sobre o experimento: "Nicole era uma excelente funcionária e sempre fazia tudo o que podia. Isso estava claro". Schneider garante também que nenhum dos dois trabalha atualmente na companhia, que já teria trocado os responsáveis: "Agora são gente boa". "Decidi compartilhar a história no Twitter porque é necessário levantar a voz", comenta.

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"O que aprendi com esse experimento é que há muitos comportamentos sexistas que não são realmente intencionais. Não fazemos certas coisas de forma consciente nem pensando que as opiniões das mulheres valem menos. Mas, muitos homens cometem esses erros assim mesmo", afirma Martin. E acrescenta: "já devíamos nos dar conta (...) Isso começa com a disposição para escutar as experiências pessoais de cada mulher, em vez de pedir justificativas".

O norte-americano acredita que esse tipo de atitudes se deve a que "crescemos em uma sociedade que desvaloriza as mulheres de uma forma geral". A outra participante do experimento, Nicole, concorda com Martin. Em um artigo publicado no dia 9 de março no Medium, expõe seu ponto de vista sobre o episódio: "Depois de trocar as assinaturas, vivi uma das semanas mais tranquilas da minha carreira profissional".

"O chefe não acreditou quando lhe contamos. Disse que podia haver milhares de razões pelas quais os clientes tinham reagido de outra forma após a troca de assinaturas. Pela primeira vez, nos dois anos que passei ali, quase perdi as estribeiras. Sempre me perguntei o que o meu chefe ganhava negando a existência do machismo, inclusive quando um companheiro me apoiava. Nunca soube, mas deixei a empresa", acrescenta.

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