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França investiga suposto esquema de propina na escolha do Rio como sede olímpica

Diário francês ‘Le Monde’ aponta que empresário brasileiro, amigo do ex-governador Cabral, pagou propina a filho de membro do COI

Lula, Carlos Arthur Nuzman, presidente da candidatura olímpica e o ex-governador do Rio Sergio Cabral comemoram a escolha do Rio como sede em Copenhague.
Lula, Carlos Arthur Nuzman, presidente da candidatura olímpica e o ex-governador do Rio Sergio Cabral comemoram a escolha do Rio como sede em Copenhague.AFP
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O Ministério Público Financeiro da França está colocando em dúvida a legalidade do processo que levou a Rio de Janeiro a se tornar sede dos Jogos Olímpicos no ano passado. Segundo o jornal Le Monde, há “provas concretas” de que aquela eleição, celebrada em 2 de outubro de 2009, não foi jogo limpo e que dinheiro de propina poderia ter sido usado para influenciar os votos que acabaram descartando as concorrentes Tóquio, Chicago e Madri.

Os investigadores franceses afirmam que, três dias antes da escolha do Rio, o empresário brasileiro Arthur Cesar de Menezes Soares Filho pagou 1,5 milhões de dólares (4,8 milhões de reais) ao filho de Lamine Diack, então presidente da Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF, nas suas siglas em inglês) e membro influente do Comitê Olímpico Internacional, órgão responsável pela eleição da cidade-sede. Arthur Soares, apelidado de “Rei Arthur” pelo seu poderio nos negócios e capacidade para captar concessões públicas, é amigo do ex-governador do Rio Sergio Cabral, preso desde novembro acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, e uma das autoridades que comemorou em Copenhague a vitória do Rio como anfitriã. O Rei Arthur, na mira da mesma operação que prendeu Cabral, era visto como o maior fornecedor de mão de obra terceirizada para o governo fluminense, ao receber quase três bilhões em contratos durante o Governo Cabral (2007-2014).

A operação, revelada graças a documentos facilitados pelo fisco norte-americano, foi feita através de empresas dos interessados. Segundo Le Monde, o dinheiro saiu de uma conta da Matlock Capital Group, um holding de Arthur Soares baseado nas Ilhas Virgens britânicas, e foi transferido para a Pamodzi Consulting, uma companhia fundada por Papa Massata, filho de Lamine Diack, em Dakar, no Senegal. Papa Massata Diack, sempre segundo Le Monde, recebeu ainda, no mesmo período, mais 500.000 dólares da Matlock Capital Group em uma outra conta da Rússia.

Foi o escândalo de dopagem do atletismo russo, investigado originalmente por Mônaco, sede da IAAF, em colaboração com a França, que levou os investigadores a toparem com atividades que consideraram suspeitas ligadas a escolha do Rio. Papa Massata, que já foi consultor de marketing da IAAF e mora no Senegal, é alvo de uma ordem de busca emitida pela Interpol e foi afastado de maneira permanente do mundo do atletismo por suspeitas de corrupção e chantagem no escândalo de doping russo. O pai, Lamine Diack, está sob custódia na França acusado de corrupção e lavagem de dinheiro no mesmo caso que investiga a existência de um esquema de propinas para ocultar o sistema de dopagem institucionalizado de atletas na Rússia. Perguntado pelo diário francês sobre as acusações, Papa Massata limitou-se a dizer: “Boa sorte com a matéria!”. Mario Andrada, porta-voz do Comitê Rio2106, afirmou que a eleição foi limpa: “Rio ganhou por 66 contra 32 votos, a vitória foi clara”.

Um segundo membro do COI estaria, segundo Le Monde, envolvido no suposto esquema de compra de votos. Conforme revelam os documentos do fisco norte-americano, Papa Massata Diack transferiu, através da sua empresa e no dia da eleição do Rio como sede, 299.300 dólares a uma companhia chamada Yemli Limited. A empresa, baseada no paraíso fiscal das ilhas Seychelles, está associada a Frankie Fredericks, ex-atleta namibiano, auditor dos votos da escolha da sede e presidente da comissão que avaliará a escolha da sede olímpica de 2024.

Nesta sexta-feira, o COI afirmou que pedirá às autoridades francesas informações mais detalhadas sobre a denuncia feita pelo diário francês. “Continuamos totalmente comprometidos em esclarecer essa situação, trabalhando em cooperação com o procurador”, disse em um comunicado o porta-voz da entidade, Mark Adams. “Essa cooperação já levou ao fato de que Lamine Diack, que foi membro honorário do COI, não tenha mais qualquer função dentro da entidade desde novembro de 2015”, completou Adams.

O COI defendeu a inocência do seu outro colaborador. “De acordo com Fredericks, o suposto pagamento foi feito pela Pamodzi Sports Consulting, administrada por Papa Massata Diack e em conexão com a promoção, desenvolvimento de propriedades esportivas relacionadas com o programa de marketing da IAAF”, disse a entidade em um comunicado. “O COI confia no fato de que Fredericks apresentará todos os elementos para provar sua inocência contra essas alegações feitas pelo Le Monde”.

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