_
_
_
_

Paris pede a Trump que evite iniciativas unilaterais sobre o Oriente Médio

Netanyahu afirma que está mais voltado para o futuro que se aproxima com a Presidência de Trump

O presidente da França, François Hollande, participou neste domingo da Conferência para a Paz no Oriente Médio organizada em Paris por seu próprio Governo para defender a iniciativa. “Pretende ser útil e propiciar o diálogo entre ambas as partes”, afirmou. Mas também disse que é “um alerta”, porque a solução de dois Estados está se afastando. Uma das razões principais, segundo Hollande, é “a aceleração da colonização”’. Incide assim o mandatário francês na resolução da ONU aprovada em dezembro sobre o mesmo assunto, que tanto incomodou o Governo de Benjamin Netanyahu.

Hollande na Conferência de Paris sobre a paz no Oriente Médio, neste domingo.
Hollande na Conferência de Paris sobre a paz no Oriente Médio, neste domingo.REUTERS

Netanyahu, primeiro-ministro israelense, deixou entrever neste domingo que seu Governo olha para outro lado e está mais voltado para o futuro que se aproxima uma vez que o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, tomar posse — na sexta-feira — do que para a conclusões da conferência de Paris, a qual classificou de “inútil”. “Essa Conferência é a última sacudida do mundo de ontem. Amanhã será muito diferente, e o amanhã está muito próximo”, afirmou Netanyahu durante a reunião semanal de seu Gabinete. Mais uma vez citou a reunião como uma tentativa orquestrada de “forçar Israel a aceitar compromissos contra seus interesses”, e insistiu que só conseguirá “afastar a paz”, uma vez que esta só se conseguirá através de negociações bilaterais diretas, como já fizeram com Egito e Jordânia.

Mais informações
Jerusalém desiste de aprovar 600 novas moradias em um assentamento
Editorial | Netanyahu isola ainda mais Israel

Horas antes do comparecimento de Hollande à conferência de Paris, que termina neste domingo, o Palácio do Eliseu cancelou o encontro previsto com o presidente palestino, Mahmoud Abbas. Este havia viajado de Roma a Paris a convite do Governo francês, que planejava reunir Abbas e Netranyahu após a reunião. O israelense recusou o convite. Teria sido um fecho de ouro para a conferência internacional.

A França insiste em exercer um papel de mediadora, que Israel rejeita. Paris já conseguiu uma vitória de Pirro: 70 países participam da conferência, mais que o dobro da reunião anterior em 3 de junho. Não estão presentes as partes decisivas (Israel e Palestina) para se conseguir definitivamente a estabilidade na região. “É como um casamento em que não existe noiva nem noivo”, criticou em Israel a vice-ministra de Relações Exteriores, Tzipi Hotovely. “A França não quer impor a paz. Israelenses e palestinos devem decidir juntos seu destino comum”, respondeu o ministro de Relações Exteriores francês, Jean-Marc Ayrault, às críticas do Governo israelense.

Mahmoud Abbas saudou, no entanto, a iniciativa francesa. “É a última oportunidade para a solução de dois Estados”, disse ao Le Figaro antes de viajar ao Vaticano no sábado. Paradoxalmente, a França não é um dos 138 países que reconheceram o Estado palestino. Doze embaixadores franceses reivindicaram que o país o faça em um manifesto publicado na segunda-feira no Le Monde.

A conferência de paz ocorre em um péssimo momento para Israel. O Conselho de Segurança da ONU aprovou em 23 de dezembro a resolução 2334 contra os assentamentos israelenses na Palestina. Todos os membros do colegiado votaram a favor, inclusive a França, membro permanente, menos os Estados Unidos, que se abstiveram, o que gerou um grande mal-estar em Israel com a Administração de Obama. É provável que o comunicado final da reunião deste domingo chame atenção para essa situação. Hoje existem 600.000 colonos israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.

Além disso, a conferência ocorre cinco dias antes da troca de comando na Casa Branca e será provavelmente a última participação internacional de John Kerry como secretário de Estado norte-americano. Qual sentido tem? “Não é demais lembrar que a única solução possível é a criação de dois Estados; lembrar antes que entre a nova Administração de Donald Trump”, defendeu-se o Ministério das Relações Exteriores francês. Trump já cogitou a possibilidade de reconhecer Jerusalém como a capital do Estado israelense e transferir para lá a embaixada dos EUA. “Isso poderia acarretar graves consequências”, alertou Ayrault.

Paris afirma que não quer liderar um novo processo de paz, mas, simplesmente, organizar reuniões que o propiciem. “Sabemos que a única forma de chegar à paz é que ambas as partes negociem diretamente”, disse Hollande. “As críticas de Israel a essa conferência só demonstram uma falta de entendimento”, dizem fontes diplomáticas. Em 3 de junho se organizou a primeira conferência em Paris. À época, o então primeiro-ministro francês, Manuel Valls, indicou onde reside o problema: a posição de força de Israel a respeito da Palestina levaria a uma negociação muito desigual, afirmou.

Durante esses meses, a comunidade internacional comprometida com a paz no Oriente Médio tentou aumentar a assistência econômica à região, reforçar a capacidade palestina para construir um verdadeiro Estado e relançar um debate na sociedade civil. Nele participaram 150 organizações não governamentais.

Entre os 70 países que enviaram representantes a Paris estão todos os membros da União Europeia, os 15 membros do Conselho de Segurança da ONU, os membros do Quarteto e os integrantes da Liga Árabe, entre outros.

Coincidindo com a abertura da cúpula, um grupo de 250 ex-militares e ex-oficiais de segurança israelenses — entre eles o ex-chefe do Mossad Shabtai Shavit e o ex-chefe do Estado-Maior do Exército israelense general Dan Halutz — aderiram a uma campanha de impacto “pela separação agora” de israelenses e palestinos. Com anúncios em árabe insertados na imprensa israelense com as cores da bandeira palestina e sob o lema “logo seremos maioria”, tentam conscientizar os judeus que a solução de dois Estados é necessária porque anexando os territórios palestinos só conseguirão maior insegurança e serem minoria.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_