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Quando toda a esperança se desvanece

Parentes das vítimas começam a chegar a Medellín para buscar os corpos dos mortos

S. P.
Torcedoras homenageiam a Chapecoense depois da tragédia.
Torcedoras homenageiam a Chapecoense depois da tragédia.Heuler Andrey

No aeroporto Olaya Herrera, no sudoeste de Medellín, não para de chegar gente. Algumas horas depois do acidente com o avião que transportava jogadores da Chapecoense, torcedores e jornalistas, em um corredor deste lugar, que serve de terminal aéreo alternativo na cidade, foi pregado um cartaz em que está escrito Embaixada. Pode ser a do Brasil ou a da Bolívia, as duas nacionalidades do acidente. Não há distinção.

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O embaixador do Brasil na Colômbia, Julio Ginternick Bitelli, caminha de um lado para outro sem largar o telefone. Recorrem a ele para saber sobre os parentes das vítimas, sobre a repatriação dos corpos. “Em um primeiro momento pensamos que era necessário que viessem as famílias de todos os mortos, mas à medida que a identificação dos corpos avança, acreditamos que não é prudente”, diz Ginternick Bitelli. O trabalho desenvolvido pelas corporações da Polícia Federal do Brasil (que chegou na noite de terça-feira) e da Colômbia permitiu que até agora o reconhecimento dos cadáveres seja eficaz.

O diplomata diz que os parentes e pessoas próximas das vítimas que decidirem viajar deverão fazer isso com seus próprios recursos. Alguns já estão a caminho. Espera-se que à tarde, em um voo comercial, cheguem as famílias de vários jogadores. Deverão seguir o protocolo que a Prefeitura de Medellín e a Imigração começaram a aplicar aos que vieram buscar o corpo de Sisy Arias (29 anos), uma das comissárias de voo que morreram no acidente. Seus pais, Jorge e Gloria, foram os primeiros a caminhar, em meio aos jornalistas, tradutores e psicólogos no estreito corredor do Olaya. Ele, que é um conhecido jornalista esportivo da Bolívia, pediu que os mantivessem longe das câmeras. Depois de ir ao setor de Medicina Legal, onde permanecem os 71 corpos dos mortos no acidente, sofreu uma alteração no ritmo cardíaco.

“Que Deusinho guarde minha filha em sua glória... te amo, te amei e te amarei sempre... Não sei o que será de mim sem ti... Sisyta, minha filha... para sempre. Aqui não há um adeus, só que você se adiantou um pouquinho”, escreveu o jornalista no Facebook, horas antes de embarcar em um voo da Copa para o Panamá, com destino a Medellín, onde chegou na noite de terça-feira com sua esposa e filho. “Falei com minha filha ontem pela manhã, eu a aconselhei que não esquecesse tudo o que aprendera... ao nos despedirmos ficamos de nos ver no sábado e fiquei tranquilo porque já estava acostumado com suas viagens”, tinha dito a órgãos da mídia boliviana na terça de manhã.

Os psicólogos que estão no aeroporto dizem que este momento é um dos mais difíceis para as famílias das vítimas. “É quando enfrentam a realidade, quando descartam qualquer possibilidade de que estejam vivos. A esperança se desvanece”, diz uma das especialistas enviadas pela Prefeitura. Que sejam de outro país, que não falem o mesmo idioma e que tenham que recorrer a um processo legal complexo aumenta o trauma da situação, segundo Daniel Liévano, outro especialista.

Gilberto Batistello fala dos jogadores do Chapecoense tentando ocultar as lágrimas. É o advogado de várias famílias dos esportistas que, por questões econômicas, não puderam viajar para a Colômbia. Não sabe espanhol e, a seu lado, um jovem com a camiseta da equipe serve de tradutor. É um torcedor que nasceu em Chapecó e há três anos vive em Medellín. Na manhã desta quarta-feira se encontraram por acaso. O jovem é um voluntário que desde terça-feira quer ajudar e que, como conta Batistello, tampouco acreditava que fosse verdade que sua equipe houvesse desaparecido nas montanhas de Antioquia.

“Fiquei sabendo na madrugada, achei que era uma piada. Depois confirmei com as notícias, me reuni com algumas famílias e tomei um avião até aqui”, diz o advogado, um homem chegado aos jogadores e habitante de Chapecó. Está em Medellín porque será ele quem supervisionará o processo de reconhecimento e envio dos corpos de vários esportistas à sua cidade. “Vemos que tudo está sendo muito rápido e que com a documentação que chegou na noite de terça-feira a repatriação ocorrerá em poucos dias.” Ele permanecerá nesta espécie de embaixada improvisada até que o último corpo seja enviado ao Brasil.

O setor de Medicina legal já determinou, conforme a autópsia, que todos faleceram por morte violenta. Três funerárias de Medellín serão as encarregadas do manejo dos corpos para serem enviados a seus países. Depois de 18 horas de trabalho na montanha onde o avião caiu, no fim da noite de terça-feira os 71 corpos permaneciam no necrotério. Segundo informaram a este jornal, nas próximas horas sairão os primeiros 20. Três aviões da Força Aérea do Brasil estão em Manaus à espera da indicação para viajar a Medellín e recolher os cadáveres.

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