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Por que tanta ênfase nos “canalhas” no Senado?

O adjetivo virou munição na troca de provocações entre os senadores durante a votação do impeachment

Marina Rossi
Sessão no Senado nesta quarta-feira.
Sessão no Senado nesta quarta-feira.ANDRESSA ANHOLETE (AFP)
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Foi na madrugada do dia 2 de abril de 1964 que o senador Auro Moura Andrade (PSD) anunciou a um tumultuado Congresso Nacional que João Goulart não era mais presidente do Brasil. O senador insinuou que Jango havia se refugiado fora do Brasil e, portando, declarava a vacância do cargo. “Assim sendo, declaro vaga a presidência da República”, disse.

João Goulart estava, na verdade, em Porto Alegre. Não havia fugido, como insinuava o senador Auro Moura Andrade. Mas a suposta fuga de Jango foi o pretexto usado para anunciar a substituição forçada de Jango pelo presidente da Câmara, o deputado Ranieri Mazzilli (PSD), que abria caminho para a chegada dos militares ao poder e para 21 anos de um período ditatorial. Ciente da manobra do colega de parlamento, o então deputado pelo PSB, Tancredo Neves, reagiu no plenário da casa. “Canalha! Canalha! Canalha!”, gritou Neves, se dirigindo a Andrade que o ignorava.

Cinquenta e dois anos depois, o bordão foi usado como provocação no meio do debate sobre o impeachment de Dilma Rousseff. Sem citar nomes, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) subiu na tribuna e disse: “Não vou reprimir a indignação que me consome. “Canalha! Canalha! Canalha!”. Assim, remetia à frase histórica, numa clara ilação que associou o impeachment ao golpe de 64, estratégia empregada à exaustão pelos dilmistas como Requião. Minutos após a interjeição do senador paranaense, a câmera da TV Senado se voltou para o senador Aécio Neves (PSDB-MG), neto de Tancredo e apoiador do impeachment de Dilma Rousseff.

No dia seguinte, o adjetivo virou munição trocada entre os parlamentares. A começar pelo senador Lindberg Farias (PT-RJ), que ao se pronunciar nesta quarta-feira, repetiu a expressão: “canalhas! Canalhas! Canalhas! Nós nunca esqueceremos esta data”.

O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), um dos mais ativos no processo de destituição da petista, rebateu.“Temos que definir corretamente aqui quais são os verdadeiros canalhas da política brasileira", iniciou a fala. "Canalha são aqueles que assaltaram a Petrobras. Canalhas são aqueles que enriqueceram ilicitamente com dinheiro público. Canalhas são aqueles que usaram verba pública para poder fazer as suas eleições municipais, estaduais e nacional. Canalhas são aqueles que tiraram dinheiro para que o cidadão não tivesse um atendimento digno à saúde. Canalhas são aqueles que deixaram 12 milhões de brasileiros desempregados. Canalhas são aqueles que indiscutivelmente levaram o Brasil a uma situação crítica do ponto [de vista] econômico e social, econômico e de credibilidade internacional”, afirmou.

A relação do impeachment de Dilma Rousseff com o golpe de 64 foi feita desde o início do processo pela ex-presidenta e seu partido, o PT, que explorou a palavra golpe para questionar a legitimidade do impedimento. "Estamos a um passo da concretização de um verdadeiro golpe de Estado", disse Dilma em sua defesa na segunda-feira. A retórica tomou os debates durante o processo de impeachment. De um lado, os que apoiaram a destituição de Dilma argumentaram do amparo legal para tirar um presidente, segundo a Constituição brasileira. “Como pode ser um golpe se a senhora está aqui se defendendo perante o chefe do Supremo?”, questionou o senador tucano Aloísio Nunes, quando Dilma compareceu a Casa nesta segunda. Por outro lado, os dilmistas reforçaram que estava sendo usado uma desculpa muito frágil para consumar a troca de poder com um mandato abreviado.

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