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Guia básico para entender e falar o ‘carioquêx’ no Rio durante os Jogos Olímpicos

No Rio, 'mermão', não se fala português, mas um idioma próprio. Veja e entenda alguns diálogos que você certamente vai escutar na cidade

Felipe Betim
Espectadores da partida de rugby entre Austrália e Colômbia, neste sábado.
Espectadores da partida de rugby entre Austrália e Colômbia, neste sábado. David Rogers (Getty Images)

Se você, amante dos esportes desde sempre, decidiu dar as caras no Rio de Janeiro para curtir o momento olímpico da cidade, mas vem encontrando dificuldade para entender o que os cariocas falam, calma. Como em qualquer lugar do Brasil e do mundo, os cariocas tem um sotaque próprio e, mais que isso, sua própria forma de se expressar. Mas atenção: independente de estar no bar com os amigos, em uma reunião séria de trabalho ou te atendendo em um restaurante, o jeito meio folgado, meio marrento, meio gingado na hora de falar não muda. Não tente entender. Os cariocas simplesmente não sabem diferenciar essas diversas situações do dia.

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Caso você venha de outras partes do Brasil, aprenda como jogar pelos ares todas as convenções comportamentais e da língua portuguesa. Prepare-se para forçar o chiado do “s” (herança da migração portuguesa na época colonial), para arranhar da garganta ao pronunciar o “r” e para trocar o “e” pelo “i” (Exemplo: no Rio, a palavra 'esquerda' vira 'ixquerrrrda'). Se você é um estrangeiro que já começa dar seus primeiros passos para aprender o português, esqueça.

Porque aqui, 'mermão', se fala 'carioquêx'. E algum desses diálogos abaixo você certamente vai escutar na cidade.

— Coé mermão, beleza?

Um típico cumprimento carioca. "Mermão" vem de "meu irmão" e pode ser usado tanto com uma pessoa íntima como com um estranho na rua.

"Coé" vem de "qual é". Na frase acima, é usado como vocativo. Mas também pode ter uma conotação afrontadora (Exemplo: "Mermão, cóe, tu tá maluco?") ou ainda como um indicador de incerteza (Exemplo: "Mermão, coé a tua?")

— Nossa, que lugar MANEIRO!

— Sim, IRADO!

Tanto maneiro como irado significam aprovação, são sinônimos de "legal". Mas atenção: apesar de terem o mesmo significado, seu uso depende da intensidade. Algo pode ser "maneiro", mas só é "irado" se for muuuuito maneiro.

— Se liga, tu viu que vai rolar um chopp com a galera hoje?

— Já vou fazer outra parada, sacou?

"Se liga" é como muitas pessoas iniciam uma frase, uma forma de pedir atenção ao que vai ser dito. Já "parada" é uma das palavras mais cariocas que existe e deveria ser difundida em todo o Brasil. Significa "coisa", e realmente pode ser usada para descrever qualquer coisa em qualquer situação. E "sacou" é sinônimo de "entendeu". Sacou?

Uma observação importante: no Rio, o pronome "tu" é usado em conversas informais (ou seja, todas) e virou pronome de tratamento. Portanto, não tenha medo de usá-lo com um verbo na terceira pessoa do singular.

— Caraca, não acredito que fiz isso.

— Tô ligado. Mó cilada.

"Caraca" expressa surpresa e pode ser uma forma mais educada de dizer palavrões como "caralho". Não que os cariocas liguem muito para formalidade, mas sabe como é, né. Já "tô ligado" é como se responde quando se quer concordar com a afirmação anterior. E "mó" é o diminutivo de "maior".

— Bora pra night hoje?

— Já é, partiu.

O carioca dificilmente dirá "vamos". E se optar por esta palavra, vai dizer "vamu". No entanto, na maioria das vezes ele vai dizer "bora", que é a aglutinação de "vamos embora". Ou então, "partiu". E se gostar de alguma ideia, simplesmente vai dizer "já é". Caso você queira avançar mais um nível em seu carioquêx, pode dizer também "demorô" (que vem de "demorou").

— Se liga, maluco, to pegando o busão agora. Chego em 15.

— Ah, na moral, para de caô!

Esta é fácil: "busão" significa "ônibus". O que você precisa entender aqui é o seguinte: se o carioca diz que está entrando no ônibus, na verdade ele ainda nem saiu de casa. Se ele diz que vai chegar em 15 minutos, na verdade ele vai chegar em 40 minutos. Você pode responder que "é mentira", mas no Rio é sempre melhor dizer que é "caô". "na moral" por substituir um "por favor" ou "sério".

E não precisa se irritar ainda mais achando que estão te chamando de louco. "Maluco" no Rio pode ser qualquer pessoa.

— Muuléééqui, to bolado com essa parada.

A palavra "moloque" no Rio normalmente é dita com bastante dramaticidade e, mais uma vez, pode ser qualquer pessoa, não necessariamente um garoto de pouca idade. As gerações mais novas também gostam de falar "lequi" ou "lesqui", mas respeitemos o carioquêx erudito, por favor. Já "bolado" pode expressar preocupação ou incômodo com algo em qualquer situação, seja ela muito grave ou não.

— Tu é mó vacilão, mané!

Se alguém diz que você está "vacilando" ou é um "vacilão", é porque você está marcando bobeira. Simples assim. Já "mané", mais uma vez, pode ser qualquer pessoa. Seu significado original remete alguém menos inteligente, tolo ou desleixado, mas não precisa ficar ofendido.

— Aê maluco, se liga nessa parada.

Se você chegou até aqui, entendeu perfeitamente a frase anterior.

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