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O PT se resigna a passar para uma oposição traumática

Alguns membros do partido afirmam que é necessário voltar a se conectar com as ruas

Antonio Jiménez Barca
Apoiadores de Dilma, em uma manifestação.
Apoiadores de Dilma, em uma manifestação.NELSON ALMEIDA (AFP)

Foram retirados do poder, em que estavam há 13 anos, de maneira traumática, de um dia para o outro. Os membros e militantes do Partido dos Trabalhadores (PT) do Brasil, a formação de Lula e Dilma Rousseff, a única com estrutura de partido e capacidade de mobilização no Brasil, passa à oposição, com Rousseff afastada da presidência. Nocauteado, aprendendo a digerir seus erros, o grande partido da esquerda brasileira ainda pensa em qual deve ser a estratégia para reconquistar o Governo: a curto prazo, para devolvê-lo a Rousseff em até 180 dias. Ou a médio, tentando entregá-lo novamente a Lula nas eleições de 2018.

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Na sexta-feira, um dia depois da votação do Senado a favor da abertura do processo de impeachment, um funcionário do presidente interino Michel Temer, contrariando ordens suas, retirou um retrato oficial da afastada Dilma Rousseff da parede, dentro de um dos prédios do Governo em Brasília. Ao virá-lo para guardá-lo, encontrou uma folha presa com fita adesiva, que continha a seguinte mensagem: “Conspiradores e golpistas: a história não os absolverá”. A anedota pode servir de metáfora do atual PT: escondido, submerso, desacreditado e derrotado, mas com capacidade de surpreender e reagir.

E o processo de impeachment, apesar de tudo, serviu de estopim, como explica o senador petista Humberto Costa: “Oito meses atrás, ninguém nos dava nada do ponto de vista eleitoral. Mas o que aconteceu voltou a conscientizar muita gente. E mobilizá-los. Se conseguirmos juntar todos, os militantes, os simpatizantes e os movimentos sociais de base, podemos nos remontar”.

O PT, que nasceu das mãos de Lula nas grandes greves da Grande São Paulo, no final dos anos 70, foi, no princípio, uma organização próxima às ruas, reivindicativa, soldada aos movimentos sociais que buscam casas ou terras.

Depois de treze anos de governo (dois mandatos de Lula e quase um e meio de Rousseff), segundo Costa, o partido perdeu não apenas popularidade, mas também o contato com as bases, desconectou-se da sociedade brasileira, e além disso, não se atreveu a realizar a grande reforma política necessária para acabar com os vícios herdados (um Parlamento com trinta partidos, por exemplo), que transformam cada iniciativa política em um emaranhado de alianças e interesses.

E perdeu as ruas: as maiores manifestações da história democrática do Brasil foram realizadas nos últimos meses contra Rousseff. Costa admite isso, mas ajusta o dado: “Eram contra Rousseff, mas não a favor de Temer. Temer também não tem popularidade”.

É verdade. Em uma recente pesquisa reproduzida pelo jornal O Globo, na quinta-feira, o atual presidente interino do Brasil apresenta um magro apoio de 1%, caso queira apresentar-se nas eleições de 2018, o que, de qualquer maneira, já anunciou que não fará.

Para depor definitivamente Rousseff, é necessário que dois terços do Senado (54 de 81) votem em uma nova sessão, que deve ser realizada antes de outubro. Na sessão da última quinta-feira, 55 votaram contra a presidenta. Está tudo muito apertado. Tudo é muito provável. “Dependerá dos rumos da economia, dos rumos do governo Temer e do que acontece nas ruas”, explica Costa.

Já há vozes no PT que propõem que, se nessa decisiva votação, Rousseff for deposta, o partido deve pedir eleições antecipadas. Também nesse caso, será necessário que exista uma mobilização nas ruas. Logo, segundo muitos especialistas, o PT precisa recuperar a sua identidade perdida de partido de oposição, empurrado pelas manifestações.

E se tudo falhar, resta Lula, o velho líder do partido, de 73 anos, mais cansado e mais desacreditado do que nunca, devido aos escândalos de corrupção que o golpeiam e a polêmica tentativa de nomeá-lo ministro para que escapasse da Justiça, escondendo-se no cargo. Apesar de tudo, continua sendo, segundo várias pesquisas, o político mais popular do país, o que mais votos receberia caso as eleições fossem realizadas hoje. Isso dá a medida das raízes populares do seu partido, do seu carisma e da sua própria projeção.

Também é verdade que Lula gera, por outro lado, mais rejeição que quase nenhum outro personagem político brasileiro, segundo essas mesmas pesquisas, o que, em uma eleição com dois turnos, complicaria a sua vitória. E as acusações que balançam sobre ele por parte do juiz Sérgio Moro podem levá-lo à prisão, ou a outros interrogatórios em delegacias de polícia, repercutidos internacionalmente por todas as televisões do mundo, como já aconteceu em março, que matariam sua nova campanha eleitoral.

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