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Com saída do Governo, PMDB se distancia do PT, mas não da Lava Jato

Lideranças peemedebistas apostam em discurso de futuro, mas passado ainda deve assombrá-los

Rodolfo Borges
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, durante a reunião do PMDB, nesta terça.
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, durante a reunião do PMDB, nesta terça.Fernando Bizerra Jr. (EFE)
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O PMDB deixou o Governo Dilma Rousseff nesta terça-feira, mas o Governo Dilma deve demorar algum tempo para deixar o PMDB. Ao se descolar de uma administração desgastada política e socialmente, os peemedebistas ensaiam um discurso de futuro, preparando o terreno para as eleições de 2018. Mas seu passado em comum com o PT vai atormentar o partido por algum tempo, como indicam as investigações da Operação Lava Jato. Paulo Roberto Costa, o primeiro executivo da Petrobras a admitir o esquema, contou ao juiz Sergio Moro que os contratos com fornecedores eram fechados na Petrobras mediante pagamento de 1% a 3% em propinas que seriam repartidas entre o PT, PMDB e PP.

Com o desenrolar da operação, os nomes de alguns integrantes do partido começaram a aparecer. O autor da moção que marcou a separação do PMDB do Governo, por exemplo, tem seu nome citado nos relatórios da Lava Jato. Ex-vice-presidente da Caixa, o presidente do PMDB na Bahia, Geddel Vieira Lima, teria atuado em benefício da construtora OAS enquanto estava no cargo. A informação, segundo o jornal O Globo, está em trocas de mensagens com o empreiteiro Léo Pinheiro interceptadas pela Polícia Federal. Nomes de maior relevância do partido, como o presidente do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha, também estão implicados.

Cunha, opositor declarado do Governo Dilma desde julho do ano passado, até já virou réu por conta da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele ainda é alvo de um processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara sob a acusação de ter mentido à CPI da Petrobras sobre a existência de contas no exterior. Já Calheiros, que disse nesta terça-feira esperar que o processo de impeachment não chegue ao Senado e que vinha sustentando apoio ao Governo, é alvo de nove processos no STF por conta das investigações iniciadas em Curitiba.

O vice-presidente Michel Temer, que pode vir a se tornar presidente da República com a queda de Dilma, também está sob o manto da Justiça. Junto com toda a bancada do PMDB no Senado, Temer é mencionado na delação do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) como "padrinho" de dois ex-diretores da Petrobras envolvidos no escândalo. A legenda foi responsável pela indicação de João Augusto Henriques para a BR Distribuidora e de Jorge Zelada para a Área Internacional da Petrobras. Ambos estão presos em Curitiba. O vice-presidente nega vínculo com esses executivos, atribuindo à bancada do PMDB na Câmara as indicações deles. Mesmo assim, o procurador-geral Rodrigo Janot encaminhou ao Supremo uma petição para que seja investigado a partir das informações prestadas por Delcídio.

Outras novidades podem aparecer no desenrolar da operação. Em uma das planilhas apreendidas pela Polícia Federal nas sedes da Odebrecht na semana passada, consta, por exemplo, um codinome Gustavo, que seria na verdade Fernando Soares, ou Fernando Baiano, segundo reportagem do jornal O Estado de São Paulo. Baiano é apontado como lobista e operador financeiro do PMDB e seria um dos receptores de propina da empreiteira.

O que pode comprometer mesmo o vice-presidente é a chapa que o elegeu junto com Dilma, questionada pelo PSDB no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Caso venha a assumir o Palácio do Planalto, Temer poderia ter problemas no próximo ano após o avançar lento do processo no TSE. Conhecido pela habilidade de articulação, o PMDB terá agora, longe do Governo, talvez a maior prova para sua força política. Ainda mais porque todos os seus cálculos e movimentos, por melhores que sejam, permanecem condicionados às novidades infinitas da Operação Lava Jato.

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