PMDB abandona Dilma e celebra mais um passo para “Temer presidente”
Decisão deve causar efeito cascata em outras siglas e somar votos ao impeachment Governo promete reagir redistribuindo cargos e colando imagem de "golpista" em vice
“Brasil pra frente, Temer presidente” e “Fora PT” foram os poucos gritos de guerra que conseguiu cantar a claque de dirigentes peemedebistas que participou do encontro relâmpago do diretório nacional da legenda nesta terça-feira, em Brasília, quando a sigla anunciou o rompimento com o Governo Dilma Rousseff. Foram menos de cinco minutos e faltou tempo para mais palavras de ordem, mas o recado estava dado: todos os esforços da cúpula do partido que não ocupa a presidência desde 1990 a partir de agora estarão voltados para o impeachment contra presidenta que, se aprovado, levará a assunção ao cargo do vice-presidente peemedebista Michel Temer. Temer, que articulou o abandono do Planalto nas últimas semanas, não compareceu ao ato para tentar evitar a imagem de "que estaria estimulando o rompimento para ver a presidência cair em seu colo”, afirmou um parlamentar ligado ao vice.
A decisão de cerca de cem membros do diretório do PMDB foi aprovada por aclamação e, com ela, o partido anunciou a entrega imediata dos cargos, incluindo os seis ministros que ainda estão nas funções. Três deles, Katia Abreu (Agricultura), Celso Pansera (Ciência Tecnologia) e Marcelo Castro (Saúde), no entanto, evitaram o contato com os colegas e abriram dissidência. Pelas contas do Planalto, cerca de 600 cargos que hoje estão com a sigla ficarão vagos nas próximas semanas e a redistribuição deles é o único ativo do Governo para tentar recompor os ministérios e a base de sustentação no Congresso.
“Não tenho dúvida de que o impeachment ganhará força agora. O rompimento deveria ter acontecido muitos meses atrás. Mas antes agora, do que nunca”, ponderou o deputado pernambucano Jarbas Vasconcelos. Nos cálculos dos peemedebistas opositores, 60 dos 68 deputados da legenda deverão votar a favor da destituição de Rousseff e o processo deve durar no máximo mais dois meses. Ainda assim, o secretário-executivo do partido, Eliseu Padilha, nega que esse assunto esteja sendo debatido internamente. “Impeachment não está no nosso programa. Temos de ter o partido fora da base do Governo para nos tornarmos um player em 2018”. E insiste Padilha: “O melhor que o PMDB pode fazer em se tratando de impeachment é não fazer nada. O que fizer pode tirar o processo da linha”.
A tese de ruptura com o PT ganhou força depois que os protestos sociais contra a gestão Dilma cresceram. Visto como um partido governista desde a redemocratização do país, a legenda entende que era o momento de ser protagonista e aproveitou a fragilidade da presidenta para abandonar o barco e anunciar que deverá ter candidato em 2018, mesmo que o vice-presidente Michel Temer assuma o cargo ainda neste ano. “Temos uma corrente do partido que nunca foi do Governo. Fazíamos uma batalha de guerrilha, estávamos na selva, sem espaço, e agora descemos da montanha. Éramos 11 deputados opositores, agora, somos imensa maioria. Ganhamos espaço e por isso decidimos romper. O impeachment é o próximo passo”, afirmou o deputado gaúcho Osmar Terra.
O único nome do partido que saiu em defesa pública de Rousseff foi a ministra Kátia Abreu. Em entrevista à rádio CBN, disse que se o impeachment prosperar da forma como está, o país testemunharia um golpe, ecoando os argumentos oficiais do Planalto. “É um processo traumático que deixa feridas duradouras numa nação”, declarou. Se os ministros não deixarem seus cargos até 12 de abril, eles serão expulsos da legenda.
Outro aliado de primeira hora de Rousseff, o presidente do Senado, Renan Calheiros, também não esteve no evento e disse que precisaria ser independente, caso o processo de impeachment da presidenta seja aprovada na Câmara e seja enviado ao Senado. “Se esse processo chegar no Senado, espero que não chegue...”, disse em uma breve entrevista coletiva no corredor do Senado.
As reações e efeito cascata
As reações no mundo político sobre a oficialização do desembarque peemedebista foram quase imediatas. Assim que terminou o encontro, dirigentes do PSOL e do PT trataram de dizer que a “saída Temer” não era a melhor para o país. “Não podemos aceitar um impeachment sem argumentos jurídicos da forma como está ocorrendo. Não queremos ser governados por alguém que é investigado pela Operação Lava Jato, assim como o Eduardo Cunha”, reclamou o líder do PSOL, Ivan Valente.
A fundadora da REDE, a ex-senadora Marina Silva, afirmou, por meio de seu Facebook, que o PMDB é o mesmo partido de sempre, que decide romper com o Governo sem dar satisfação à sociedade ou pedir desculpas por ter sido um dos responsáveis pela atual crise. “(...)nenhuma autocrítica, nenhuma proposta. Apenas a jogada política supostamente magistral para tentar se descolar da crise política e reinventar-se como solução. Continua o mesmo e velho PMDB tentando renascer das cinzas da fogueira que ele ajudou a atear”.
Além da demissão coletiva, a decisão dos peemedebistas deverá causar um efeito cascata entre outras legendas. Os deputados do PP anunciaram que nesta quarta-feira farão uma reunião para definir se também rompem com a gestão Rousseff. Nos cálculos dos parlamentares, 30 dos 49 deputados da legenda são contra a permanência no Governo. O PR e o PDT podem tratar do assunto nas próximas semanas. Para complicar mais a situação de Rousseff no Legislativo, o PT perdeu uma importante voz no Senado. Filiado à legenda desde sua fundação, há 33 anos, o senador baiano Walter Pinheiro anunciou nesta terça-feira que se desligou do partido alegando que a atual gestão se distanciou do programa partidário.
Para tentar reagir à perda de apoio, o Governo Rousseff tentará distribuir os cargos do PMDB para outras legendas na expectativa de conseguir o mínimo de sustentação no Congresso para frear o impeachment. O ministro do Gabinete pessoal da Presidência, Jaques Wagner, chamou a estratégia de repactuação. “A decisão deles [peemedebistas] chega em boa hora, porque oferece à presidenta Dilma uma ótima oportunidade de repactuar o seu Governo”.
Os ataques a Temer não tardaram. “Era jurista, agora é golpista”, declarou o líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA). “Os últimos movimentos dele foram de um cidadão desleal com quem está ao seu lado”, reclamou outro deputado petista, Léo de Brito (AC). A outra é vincular Temer ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que é réu no Supremo Tribunal Federal dentro da operação Lava Jato.
A reação direta de Rousseff, ainda que sutil, foi simbólica. Ela cancelou sua viagem para os Estados Unidos na próxima quinta-feira, onde participaria da Cúpula de Segurança Nuclear. Por estar no exterior, ela teria de passar o comando do país, por ora temporariamente, ao seu vice. Preferiu não fazê-lo.
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