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Obama chega à Argentina e tenta pôr fim à tensão da era kirchnerista

Presidente dos Estados Unidos participará de homenagem às vítimas da ditadura

O presidente Barack Obama chega a Buenos Aires.Foto: reuters_live
Carlos E. Cué

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, já está na Argentina. Chegou de Cuba durante a madrugada desta quarta-feira, em uma viagem que tem um duplo objetivo em Buenos Aires: consagrar a virada de Mauricio Macri para a ortodoxia depois de 12 anos de kirchnerismo e muita tensão com os EUA, e mandar uma mensagem de reconhecimento às vítimas da ditadura argentina, cujo início completa 40 anos nesta quinta-feira. Com a visita, Obama tenta romper com o passado obscuro do Estados Unidos e seu apoio às ditaduras latino-americanas dos anos 1970.

Obama se hospeda no suntuoso palácio Bosch, residência do embaixador dos EUA, vestígio do passado esplendoroso de Buenos Aires e da Argentina. A chegada do presidente norte-americano paralisou a cidade desde a primeira hora do dia, o trânsito nas principais vias foi interrompido à espera da passagem da comitiva oficial. A capital argentina, e sobretudo a simbólica Plaza de Mayo, está cheia de bandeirinhas dos EUA, o que tem provocado críticas nas redes sociais em um país acostumado a uma tensão permanente com Washington nos últimos 12 anos. A mudança foi muito rápida.

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Logo pela manhã, Obama já se reuniu com Macri, num encontro que sinaliza o aval definitivo do homem mais poderoso do planeta ao novo rumo argentino. Em apenas três meses, Macri deu uma guinada radical na política externa e econômica do país e rapidamente sepultou a linha seguida por Cristina Kirchner. Essa guinada, especialmente pelas consequências que teve sobre a inflação, fora de controle há três meses, recebe muitas críticas internas. Macri ganhou as eleições por apenas três pontos e ainda enfrenta muito ceticismo. Mas, fora da Argentina, Macri foi recebido como uma grande noticia porque para os EUA e outros sua chegada representa o fim da era de ouro da esquerda latino-americana protagonizada por Nestor Kirchner, Lula e Hugo Chávez.

Os EUA não escondem sua satisfação com a chegada de Macri, um liberal que vem de uma das famílias empresariais mais ricas e famosas do país. E a visita de Obama é a prova definitiva desse entusiasmo.

Obama e Mauricio Macri se encontraram nesta quarta-feira, na Casa Rosada, em Buenos Aires.
Obama e Mauricio Macri se encontraram nesta quarta-feira, na Casa Rosada, em Buenos Aires.David Fernandez (AP)

O outro ponto alto da viagem de Obama, além do apoio a Macri, é o reconhecimento às vítimas da ditadura argentina. A viagem do presidente dos EUA gerou polêmica na Argentina porque sua chegada coincide com o aniversário dos 40 anos do golpe de Estado que levou ao poder um regime com 30.000 desaparecidos. O kirchnerismo se mobilizou contra a visita. Obama e sua equipe tentaram aplacar as críticas e, finalmente, o presidente não irá ao ESMA, o centro de tortura hoje transformado no “Espaço Memória e Direitos Humanos”. As organizações de direitos humanos encheram o memorial de cartazes contra a visita e esperavam ali para vaiá-lo.

Mas Obama estará em Buenos Aires no dia 24 e, antes de viajar a Bariloche, a joia da coroa argentina com centros de tecnologia de satélites e turismo de alto padrão, comparecerá com Macri a um espaço de homenagem às vítimas em frente ao Rio da Prata. O presidente dos EUA tenta conseguir a presença de Estela de Carlotto, líder das Avós da Plaza de Mayo, mas ela resiste precisamente por causa da tensão que a chegada de Obama provocou no mundo dos direitos humanos.

Obama quer se reunir  com Estela de Carlotto, líder das Avós da Plaza de Mayo, mas ela resiste

Será um gesto importante, mas se espera algo mais. Fontes do Governo argentino acreditam que Obama aproveitará um de seus pronunciamentos públicos em Buenos Aires para lançar uma mensagem clara de ruptura com o passado obscuro dos EUA e seu apoio às ditaduras latino-americanas. Antes de chegar, já lançou um gesto nesse sentido ao anunciar que retiraria o sigilo dos arquivos da ditadura antes de se completarem os 50 anos estabelecidos pela legislação norte-americana.

Obama e Macri também tratarão de vários temas da agenda bilateral, especialmente o combate ao narcotráfico, assunto-chave na Argentina, e os investimentos em energia. Obama viaja com alguns empresários e Macri acredita que a chegada do presidente dos EUA e a imagem que isso vai oferecer ao mundo como respaldo definitivo o transformará em referência no continente, mas sobretudo servirá para que cheguem os investimentos de que a Argentina, em uma situação econômica delicada, necessita com urgência.

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