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Euforia e tensão em 24 horas de ‘Fora Dilma’ na Avenida Paulista

Atos registram episódios de conflito na avenida que reúne manifestantes contra Governo desde revelação de áudios

Manifestantes em frente ao prédio da Fiesp
Manifestantes em frente ao prédio da FiespPaulo Whitaker (Reuters)
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Com pelo menos dois quarteirões interrompidos por mais de 24 horas, a Avenida Paulista, em São Paulo, é hoje uma espécie de termômetro marcando uma febre que, se pudesse ser medida, talvez registrasse facilmente para lá de 40 graus. Desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi anunciado novo ministro da Casa Civil e que grampos telefônicos de conversas entre Lula e a presidenta Dilma Rousseff foram divulgados com autorização do juiz Sérgio Moro, manifestantes que refutam qualquer tipo de representação política ocuparam a avenida entoando gritos de ordem que se repetem continuamente.

“Tem que matar todo mundo deles lá [Brasília], tem que ter guerra civil. Não vejo ninguém que possa entrar no lugar do PT”, disse ontem o chef e apresentador do reality show Master Chef Brasil, Henrique Fogaça, ao EL PAÍS, ecoando um sentimento generalizado. Ainda na noite de quarta, a estudante Isadora Schautte, 18 anos, e seu namorado Lucas Brasileiro, 21, foram agredidos e encurralados no vão livre do MASP. Uma bicicleta vermelha, a aparência dos dois e o fato de que Isadora esboçou uma defesa do Governo motivaram a agressão que aconteceu em frente a um posto policial. Um vídeo da CBN mostra o casal acuado e Lucas com um sangramento no rosto.

Ao longo desta quinta-feira, ao menos mais duas brigas foram registradas em vídeo. Em uma delas, um garoto de 17 anos foi agredido por uma dezena de pessoas. Ao tentar entrevistar um grupo de manifestantes, o EL PAÍS foi questionado se a orientação do jornal era “petralha” ou se estava “com nós”. Ao responder que buscamos fazer um trabalho isento, a reportagem foi expulsa aos gritos de “petralha”. E até o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, foi expulso da Paulista e teve seu carro chutado. A pasta comandada por Moraes foi questionada sobre o motivo do fechamento da via por tantas horas, algo que se choca com a postura adotada pela secretaria em outras manifestações pela cidade. No início deste ano, por exemplo, após impedir com bombas de efeito moral um ato do Movimento Passe Livre, o secretário avisou: manifestações só poderiam ocorrer após anúncio prévio dos organizadores.

Segundo Moraes, não houve uma ordem para a Polícia Militar permitir que o ato pró-impeachment ocupasse a via sem aviso prévio. Contudo, o que se viu ao longo do dia foi uma convivência pacífica entre polícia e manifestantes. Em um momento em que o Choque se posicionou para que as pessoas não bloqueassem o cruzamento da Pamplona com a Paulista, manifestantes deram os braços na frente do batalhão e pediram: “Vamos sair daqui, eles só estão aqui para nos proteger”. O tenente coronel Vianna, do batalhão de trânsito, disse que com a ajuda das pessoas não estava tendo problemas em desimpedir o cruzamento e ressaltou ao EL PAÍS que o ato tinha características ordeiras.

Voltados para a frente do icônico prédio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo  (FIESP), onde equipes de televisão têm acesso liberado para filmar a partir do mezanino que dá vista para a Paulista, os manifestantes chegaram aos milhares na noite de quarta, permaneceram em um grupo de dezenas durante a madrugada e ao longo desta quinta aumentaram expressivamente em número. Muitos funcionários de empresas da região, vestidos de preto em protesto à nomeação de Lula, desceram dos prédios corporativos para engrossar a manifestação que segue sem horário para terminar. Desde o começo da movimentação, um clima de indignação, em que cores que não sejam as da bandeira brasileira não são aceitas, esteve presente.

Longe do prédio da Fiesp, nas beiradas do protesto, um público mais calmo participava da movimentação de forma mais discreta. A produtora de cinema Adriana de Godói, 49 anos, estava lá contra o Governo e, calma, refletiu sobre o momento e até esboçou uma crítica a Sérgio Moro que era aclamado pelo resto dos manifestantes: "Estou aqui não porque eu sou vagabunda, mas porque estou desempregada. Não acredito em nenhum político, mas acho que o Moro se apressou ao fazer esses grampos, então agora estamos realmente sem ninguém decente para assumir", disse. Um grupo de colegas, animadas com o ato, também aproveitaram para participar. "Acho que a saída da Dilma vai melhorar a economia brasileira", disse Silvia Lima, 69 anos.

Em meio a palavras de ordem e ao som de um saxofonista que tocava o hino nacional em looping, comerciantes começaram a circular logo cedo vendendo cerveja, água, bandeirolas e pixulecos infláveis. “Viemos correndo para cá para levantar uma grana, já que está difícil de conseguir emprego”, disse um deles. Um senhor com uniforme completo constitucionalista – movimento paulista separatista de 1932 – dizia estar ali para inspirar as pessoas. No final do dia, manifestantes vestidos de verde e amarelo ou preto já armavam barracas no asfalto com a intenção de passar a noite por lá. A temperatura seguia alta.

Nesta sexta, a mesma avenida Paulista receberá o "Ato Pela Democracia" na parte da tarde. Os manifestantes contra o Governo anunciaram em um carro de som que deixarão a avenida, irão para o Largo da Batata e voltarão no sábado. A secretaria de Segurança esclareceu em nota que a "prioridade máxima é garantir a paz e segurança de todos. Se for necessário, adaptando-se a novas circunstâncias para evitar confrontos".

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