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Não é paranormalidade, mas parece: coisas estranhas acontecem ao dormir

E se você descobrisse que à noite se levanta para devorar o que tem de mais calórico na geladeira?

Você sabe tudo o que é capaz de fazer enquanto dorme? Roncar, mexer as pernas, deixar de respirar (apenas por alguns segundos), encenar durante um sonho, falar e até mesmo se levantar e comer. Uma vasta gama de ocorrências, por vezes inofensivas e passageiras, ou que sinalizam patologias. Como diferenciá-las?

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O livro O Sonho, A Normalidade e A Doença, escrito pelos médicos Eduardo Anitua e Joaquín Durán-Cantolla, que é especialista em pneumologia, medicina do sono e chefe de pesquisa do Hospital Universitário Araba, em Vitoria, na Espanha, fornece uma pista essencial: "O paciente que fica sonolento durante o dia ou que tem grande dificuldade em se concentrar pode estar sofrendo de uma das cerca de 90 doenças relacionadas ao sono”, diz Durán-Cantolla. A doença mais comum, segundo Diego García-Borreguero, neurologista e diretor do Instituto do Sono, é a insônia, seguida da apneia (pausas respiratórias) do sono e da síndrome das pernas inquietas.

Revelamos oito coisas que podem acontecer enquanto você dorme.

1. Mexer as pernas. Leves sacudidas das pernas esporadicamente, logo no início do sono, é totalmente normal. O quadro muda quando os movimentos se tornam frequentes e repetitivos, já que pode ser um sinal da chamada síndrome das pernas inquietas, “uma doença neurológica que provoca um forte impulso de mexer as pernas quando em repouso, especialmente durante o sono. Essas pessoas sacodem as pernas de forma regular e repetitiva, com uma frequência de uma vez a cada minuto", afirma García-Borreguero, acrescentando que, independentemente da frequência, é preciso consultar um médico sempre que se tenha a impressão de que o sintoma interfere no bem-estar diurno. A síndrome das pernas inquietas que, segundo um estudo, é mais frequente nos Estados Unidos e na Europa do que na Ásia, pode ser desencadeada ou aumentar com a ingestão de certos medicamentos. "Antidepressivos, anti-histamínicos (para alergias), antieméticos (contra vômitos) ou medicamentos para dormir, como a doxilamina, acentuam a doença ou a desencadeiam em indivíduos predispostos", diz o neurologista.

"Os antidepressivos, anti-histamínicos, antieméticos ou medicamentos para dormir acentuam ou desencadeiam a síndrome das pernas inquietas”

2. Bater no parceiro. Quem nunca bateu no parceiro de cama acidentalmente no meio de um pesadelo? No entanto, a normalidade se transforma em patologia quando a ação é frequente e exagerada: é chamada de transtorno comportamental durante o sono REM. "Manifesta-se particularmente em homens acima de 50 anos e o comportamento aparece na segunda parte da noite, quando têm sonhos em que são perseguidos ou enfrentam situações de desastres (sonhos de angústia), de modo que reagem fisicamente em resposta aos sonhos, como se estivessem se defendendo ou brigando, ferindo o parceiro", diz García-Borreguero, que distingue o distúrbio de um simples pesadelo, no qual não acontece a encenação (bater, chutar, gritar e até mesmo se mexer como se quisesse correr). O especialista recomenda consultar um médico quando o comportamento ocorre repetidamente. Um estudo realizado por Alex Iranzo, do Hospital Clínic de Barcelona, revelou que a maioria das pessoas com este transtorno desenvolve Parkinson e outras doenças neurológicas. O que também é confirmado pelo neurologista García-Borreguero.

"Quando queremos saber se a impotência de um paciente tem causa orgânica ou, pelo contrário, é psicológica, medimos a ereção durante o sono”, diz García-Borreguero

3. Ter ereções. Aparecem na fase REM do sono, que foi descoberta pelos cientistas nos anos cinquenta, na qual surgem as fantasias. São sintoma de boa saúde sexual. A doença é evidenciada exatamente na situação oposta, ou seja, quando não ocorrem ereções durante o sono. "Ocorrem pela ação dos neurotransmissores no cérebro durante o sono, que estimulam a ereção. Quando queremos saber se a impotência em um paciente tem uma causa orgânica ou, pelo contrário, é psicológica, medimos a ereção durante o sono, de modo que se é um problema médico [orgânico] não há ereção, e, se for algo psicológico, ocorre a ereção ao dormir", afirma García-Borreguero.

4. Parar de respirar por segundos (apneia). Quando dormimos, a garganta tende a fechar com a inspiração, mas o organismo dispõe de reflexos para evitar o colapso. Portanto, uma pausa de um ou dois segundos não causa problemas. No entanto, quando excede dez segundos, é considerada significativa. Em algumas pessoas, esses reflexos não funcionam corretamente, e durante o sono podem sofrer asfixias periódicas que obstruem a respiração repetidamente. O distúrbio é conhecido como apneia do sono, um problema que causa sonolência diurna e fadiga. Devemos estar atentos à sua frequência: "Sempre que ocorram mais de cinco pausas respiratórias por hora, devemos consultar um médico", aconselha o pneumologista Durán-Cantolla. O perfil de quem sofre de apneia, segundo explica o especialista em seu livro, é de uma pessoa de meia-idade, frequentemente obesa, embora nem sempre, com um histórico de roncos e repetidas paradas respiratórias durante o sono, geralmente bem observadas pelo parceiro. Além disso, muitas vezes se queixam de fadiga e sonolência diurna. Uma revisão recente de 11 estudos sobre apneia obstrutiva do sono mostra uma predominância entre homens do que entre mulheres, e um aumento do problema com o passar do tempo. A novidade no diagnóstico é um dispositivo eletrônico (Sistema APNiA) para ser utilizado em casa, que registra as informações durante o sono para serem posteriormente verificadas pelo médico. Em caso de apneia leve e moderada, tanto o diagnóstico quanto o tratamento, que consiste em dispositivos intraorais, podem ser realizados por dentistas.

5. Roncar. Não é considerado uma doença, e sim um problema social, produzido pela vibração dos tecidos da garganta. Seu parceiro sofrerá mais do que você. Segundo Durán-Cantolla, o problema aumenta com a idade até os 60 anos, quando começa a diminuir. "Acreditamos que está relacionado com as condições da garganta: as mais rígidas vibram menos, e as mais elásticas vibram mais", explica. É necessário ir ao médico? O pneumologista recomenda consular um médico quando o ronco incomoda o parceiro ou se aparece acompanhado por apneia. Atualmente, é possível tratar o ronco com os dispositivos intraorais que produzem um deslocamento discreto da mandíbula, semelhante ao usado para a apneia.

6. Falar. Apesar de ser estranho que alguém fale enquanto dorme, os sonilóquios, como se conhece essa conduta na medicina, não são algo patológico. “Ao dormir, perdemos o tônus muscular, mas há pessoas que não perdem e conseguem falar ou caminhar enquanto estão dormindo”, explica Durán-Cantolla, especialista em medicina do sono. Exige consulta ao médico? Como recomenda este especialista no livro El sueño. La normalidad y la enfermedad [sem tradução em português], se a conduta não é muito repetitiva nem altera a qualidade do sono, não costuma exigir consulta especializada e nem afetar a qualidade ou a quantidade de sono, apesar de poder gerar um microdespertar.

7. Levantar-se e caminhar. É o que se conhece como sonambulismo, uma conduta que, segundo um estudo realizado nos Estados Unidos no qual foram entrevistados 19.136 indivíduos de vários estados do país, afeta 3,6% da população. No mesmo estudo observou-se que 30,5% dos participantes tinham antecedentes familiares de sonambulismo, algo que Durán-Cantolla também confirma em seu livro: “Costuma apresentar-se em vários membros da família e atualmente acredita-se que tenha base genética”. No entanto, não é algo patológico, segundo comenta esse especialista em medicina do sono, mas um transtorno do movimento que é frequente em crianças.

“É preciso ter em conta que a pessoa com sonambulismo realiza ações semiautomáticas, com as quais está familiarizada, como ir ao banheiro, ir à cozinha, abrir uma porta ou a geladeira, etc, e das quais não se lembra depois. Por isso é importante tomar precauções com as crianças, como fechar bem as portas ou janelas, adverte Durán-Cantolla. Outro de seus conselhos é não acordar o sonâmbulo, mas conduzi-lo suavemente de volta à cama, para evitar assustá-lo ou que reaja com pânico por não saber exatamente onde está. “Costuma desaparecer na adolescência, mas se persistir além dos 20 anos é conveniente ir ao médico para descartar outros problemas”, conclui.

8. Comer de madrugada. Há pessoas que se levantam durante o sono para comer, mas não uma fruta e sim os alimentos mais calóricos. Este transtorno, que é mais frequente em mulheres (66-88%) e em pessoas obesas, ainda é subdiagnosticado, segundo uma pesquisa publicada na Revista de Endocrinologia e Nutrição. “Quem sofre desse mal não costuma contar, porque considera vergonhoso, e pode ter consciência do problema, apesar de não estar totalmente acordado ao fazê-lo”, explica Durán-Cantolla.

Segundo o especialista, já se pesquisou muito sobre as possíveis causas dos transtornos alimentares durante o sono, mas elas ainda não são conhecidas com clareza. Por sua vez, “realmente há fármacos que controlam a alteração e tratamentos de conduta que ajudam a organizar a conduta alimentar destes pacientes”, afirma.

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