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oscar 2016
Crítica
Género de opinião que descreve, elogia ou censura, totalmente ou em parte, uma obra cultural ou de entretenimento. Deve sempre ser escrita por um expert na matéria

Joy, tão pessoal como superestimado

O diretor David O. Russell não consegue algo excepcional com o filme, mas sim medianamente digerível

Jennifer Lawrence em uma cena de 'Joy'.
Jennifer Lawrence em uma cena de 'Joy'.Divulgação
Carlos Boyero

Apesar de nascido e criado em Nova York, como Martin Scorsese, como Woody Allen, e como tantos clássicos que quando é bom é também incomparável, os filmes dirigidos por David O. Russell possuem o inconfundível aroma dos diretores (ou aspirantes a diretores) cuja obra se tornou conhecida no Festival de Sundance. E lá, certamente existem diretores inteligentes e incapazes, pessoas com algo a contar ou apenas com porcarias pretensiosas. E desse meio saíram diretores com talento e personalidade, mas também muitos enganadores, incompetentes, minimalistas, vazios, insuportáveis. Mas está claro que esse cinema independente, com orçamentos escassos e furiosamente contrário às convenções impostas por Hollywood, deve ser forçosamente transgressor, experimental, vanguardista, com o cansativo conceito de autoria exibida a cada plano, no tom de voz, no desprezo às normas clássicas, militando no suposto frescor, prestigiosamente raro.

David O. Russell destila muitas dessas características, mas sempre teve a capacidade de filmar com estrelas e recursos abundantes. Seu cinema também costuma ser premiado com múltiplas indicações ao Oscar e ao Globo de Ouro. É um diretor rentável, excêntrico, “artístico”. Sim, entre aspas. Eu, porém, o acho quase sempre intragável. Ele consegue, além de me aborrecer, atacar meu sistema nervoso.

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Diante da sensação de que improvisa continuamente introduzindo todas as gracinhas que lhe ocorrem durante o filme, tentando em vão e com vocação de destroyer combinar experimento e lirismo, criar situações e personagens forçosamente insólitos, provocando a paciência do espectador retorcendo as histórias, sem que se saiba muito bem se é trágico ou surrealista. O único filme de sua autoria que me pareceu aceitável é O Vencedor. E relaciono vários com a histeria que me provocaram, como Três Reis, O Lado Bom da Vida e Trapaça. Por outro lado, estou convencido de que ele pensa ser muito inquietante.

Assim, eu me aproximo de seu último filme, Joy: O Nome do Sucesso, com desconfiança. Fui informado previamente de que é uma história real, de uma senhora que inventou um esfregão mais cômodo e eficaz e que, posteriormente, se transformou na rainha da venda pela televisão vendendo produtos do lar. E logo de entrada, o argumento não me desperta paixão. Já se sabe, contudo, que o que importa não é o tema, mas como este se desenvolve e que, nas mãos de um diretor genial, poderia vir a ser algo excepcional. Não é o caso.

Joy: o nome do sucesso

Direção: David O. Russell.

Elenco: Jennifer Lawrence, Bradley Cooper, Robert de Niro.

Gênero: drama. EUA, 2015.

Duração: 124 minutos.

Estreia no Brasil: 21 de janeiro de 2016.

Russell não fez algo excepcional, mas sim medianamente digerível. Não está claro se pretende fazer um melodrama, um relato sobre o que a fé inquebrantável na própria capacidade pode conseguir, um conto fantástico sobre a mágica proteção que uma avó humanista e romântica pode exercer sobre o futuro de sua imaginativa e incompreendida netinha ou uma comédia de costumes sobre uma família muito estranha formada pela avó bruxa, sua neta inventora, sua mãe deprimida que há trinta anos não sai do seu quarto, onde vive vendo novelas, seu ex-marido, que ao romper com sua esposa retorna ao porão da velha casa para dividi-lo com o ex-marido da inventora, já que continuam sendo amigos íntimos, e os filhos de ambos. Ou seja, uma confusão. Tudo isso com o nítido toque de Russell.

O diretor volta a outorgar o protagonismo aos seus atores preferidos, Jennifer Lawrence, Robert de Niro e Bradley Cooper. Estão menos intensos e incômodos do que em outras ocasiões. Eu não consigo evitar com a poderosa atriz que é a extremamente incensada Lawrence de associá-la diversas vezes com Renée Zellweger, uma de minhas fobias permanentes. É de se supor que o épico combate da desventurada, mas tenaz, inventora para triunfar e levar adiante sua estranha família pode contagiar sentimentalmente o receptor. Não é o meu caso. Mas pelo menos não me irrita.

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