14 pontos-chave sobre o Oriente Médio e o papel do Estado Islâmico
Única solução para o conflito que atinge a região é uma negociação entre todas as partes

“Uma charada envolvida em um mistério dentro de um enigma”. Winston Churchill
Se há um lugar do mundo em que existe o potencial para que as forças armadas do Ocidente se envolvam em uma nova guerra –e onde, para muitos de seus habitantes, a guerra já é uma realidade atroz– esse lugar é o Oriente Médio. Oferecemos um guia para tentar ajudar a interpretar o caos que aflige essa região.
1. Não se equivocaram aqueles que previram que os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington mudariam o mundo. Apesar de 15 dos 19 integrantes da Al Qaeda naquele dia serem procedentes da Arábia Saudita, e de o extremismo religioso que professavam também ter origem na Arábia Saudita, o presidente George W. Bush foi à guerra contra o Iraque e derrubou seu ditador, Saddam Hussein, que não teve qualquer ligação com aqueles atentados nos Estados Unidos.
2. A queda de Saddam encerrou o equilíbrio de poder no Iraque entre os muçulmanos xiitas e sunitas, cuja inimizade evoca a de católicos e protestantes nas guerras religiosas europeias dos séculos XVI e XVII. Hoje, um conflito desordenado e brutal entre xiitas e sunitas se estende por toda a região, tendo o Estado Islâmico em seu epicentro sangrento.
3. A boa notícia parecia ser que da confusão generalizada surgiu a Primavera Árabe. Tiranos caíram e a democracia parecia chegar finalmente à região. Muitos comemoraram no Ocidente. O que não compreenderam foi que todos os países têm a sua própria idade; que para que floresça a democracia, é preciso certo grau de maturidade histórica e cultural. No Egito, no Iraque e na Líbia a maioria vivia melhor e com mais tranquilidade quando Saddam, Mubarak e Kadafi –todos já apoiados em algum dia pelo Ocidente– estavam no poder.
4. Também vão se arrepender alguns que se levantaram contra Bashar al-Assad na Síria, hoje foco de um conflito em convulsão que a cada dia ganha contornos mais geopolíticos. Alguns dos países envolvidos direta ou indiretamente na guerra síria são: Turquia, Iraque, Irã, Arábia Saudita, Rússia, Estados Unidos e, sob o guarda-chuva da OTAN, as principais potências militares europeias.
5. Os Estados Unidos e a OTAN alinharam-se contra o Estado Islâmico, cujas bases no Iraque têm sido bombardeadas pelo ar, não sem a morte também de muitos civis. Mas, isso aparte, tudo se torna confuso. Ao atacar o Estado Islâmico estão apoiando implicitamente Assad, a quem desejam ver derrubado. Ou pelo menos é o dizem. Se dissessem a Barack Obama e aos chefes de Governo da União Europeia que poderiam atrasar o relógio e voltar ao tempo em que Assad governava com mãos de ferro, mas com estabilidade, o que responderiam?
6. Os Estados Unidos e a OTAN têm como aliada a Arábia Saudita, que (lembremos) durante décadas financiou a expansão do islamismo fundamentalista wahabi, que resultou na criação de dois monstros, a Al Qaeda e o Estado Islâmico. A Arábia Saudita implementou institucionalmente em seu reino a decapitação e a crucificação, castigos que o Estado Islâmico impõe de forma mais anárquica no território que conquistou, o chamado califado.
7. O Irã, nação xiita, é o inimigo mais temido e odiado da Arábia Saudita e, desde a chegada ao poder do aiatolá Khomeini, em 1979, é inimigo também dos Estados Unidos. O Irã apoia Assad na Síria, mas, como a Arábia Saudita, se opõe ao Estado Islâmico.
8. A Turquia, país-membro da OTAN, mantém antigos laços de amizade com o Irã, mas se opõe a Assad, com o qual se alinhou nos bombardeios contra o Estado Islâmico, também aproveitando a ocasião para atacar os curdos, seus inimigos internos. Os curdos, que recebem apoio dos Estados Unidos (aliados da Turquia na OTAN), representam o único grupo autóctone na Síria e no Iraque capaz de montar uma oposição militar eficaz frente ao Estado Islâmico.
9. A Rússia, aliada da Síria e do Irã, se juntou com especial violência ao bombardeio no território em conflito há 10 dias, centrado fogo em grupos conhecidos no Ocidente como opositores “moderados” a Assad, alguns dos quais tendo inclusive recebido treinamento militar dos Estados Unidos.
10. A questão agora é se a política de bombardeios, tanto dos russos como das forças da OTAN, vai contribuir para a destruição do Estado Islâmico ou se, ao gerar terror entre civis previamente indecisos, ou apolíticos e brandos em seus compromissos religiosos, vai resultar no recrutamento de mais jihadistas, fortalecendo o Estado Islâmico.
11. Um novo fator na complicada equação é o papel beligerante que a Rússia assumiu. A aventura militar de Vladimir Putin tem como objetivo acabar com a guerra na Síria e afiançar seu aliado Assad no poder. Mas pode ser que resulte em uma escalada de ataques jihadistas em território russo, e pode também propiciar um enfrentamento perigoso com a OTAN, que alertou, na semana passada, sobre a violação do espaço aéreo turco por aviões militares russos.
12. Simplificando, e para resumir, em um lado do conflito estão Estados Unidos, Europa, Turquia e Arábia Saudita; do outro, estão Rússia, Irã e Síria. O Iraque, um Estado falido, ocupa um lugar entre os dois lados. Mas todos têm interesses próprios, muitas vezes discrepantes, e o único ponto que une os dois lados é o inimigo em comum representado pelo Estado Islâmico.
13. A única forma de vencer o Estado Islâmico militarmente seria ocupando o amplo território que o grupo controla atualmente. Durante anos. Mas isso já foi testado no Iraque e no Afeganistão, e não funcionou. Não é uma opção realista, já que o preço em sangue não é algo que queiram pagar os habitantes dos Estados Unidos, nem da Europa Ocidental, e nem –seguramente– da Rússia.
14. A única solução imaginável seria uma negociação entre todas as partes, inclusive o Estado Islâmico. Curiosamente, são especialistas militares, não políticos, os que propõem essa eventual saída. Hoje parece impossível. O que está claro é que reinam a morte, o terror e o caos –com o risco de que tudo fique ainda pior.
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