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Coluna
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Os olhos do mundo estão voltados para o Brasil

Todos querem saber como a crise vai acabar. A mídia internacional começa a contratar mais correspondentes para entender o que ocorre no país

Juan Arias
Dilma Rousseff, em evento em julho.
Dilma Rousseff, em evento em julho.Joedson Alves (AP)

Fazia tempo que o Brasil não era perscrutado com tanta atenção e preocupação fora de suas fronteiras, sobretudo porque a crise da Petrobras e a Operação Lava Jato já afeta vários países estrangeiros. Todos querem saber como a crise vai acabar. A mídia internacional está contatando os correspondentes de seus países em busca de notícias e comentários.

O jornal The New York Times cunhou uma frase que acendeu o alarme ao afirmar que o Brasil passou de nação “emergente” a nação “em emergência”. Este país preocupa, neste momento, não só os países-irmãos do continente latino-americano, mas todas as chancelarias da Europa e Ásia.

“É que tudo foi muito rápido”, comentavam comigo, intrigados, os colegas de uma emissora de rádio chilena e de outra que transmite em espanhol nos Estados Unidos.

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Perguntam o que Lula pensa da crise, se é verdade que a presidenta Dilma Rousseff pode cair, se o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem ainda margem de manobra para frear os gastos e garantir um ajuste final digno de confiança.

Também me perguntam o que a oposição está fazendo e o que pensam as pessoas da rua e dos círculos empresariais. E o jornalista fica perplexo ao ver como a crise é vista e acompanhada até os últimos detalhes longe das fronteiras brasileiras.

Isso é bom ou ruim? É positivo esse interesse e preocupação pelo que até ontem era visto como o gigante econômico da região, capaz de começar a ter protagonismo mundial? Ou está mais para uma atenção mórbida?

Difícil saber. Há quem prefira pensar que seria melhor que esses países se preocupassem com seus problemas domésticos e deixassem o Brasil em paz, ao mesmo tempo que não poucos brasileiros desejam saber como o que se passa aqui dentro é visto e sentido fora do país.

Pessoalmente, acho que em um mundo globalizado nem é possível nem positivo que um país se isole, submerso em suas crises e problemas, sem que os demais se interessem por ele.

Não deixa de ser positivo que o mundo se preocupe e se surpreenda com o que um editorial deste jornal chamou de “tripla crise brasileira”, porque sabe que uma derrocada deste país, de posição-chave na América Latina e que começava a ser uma peça importante no xadrez mundial, pode afetar a todos.

Hoje, dificilmente existem crises econômicas e políticas isoladas no mundo. Umas se alimentam, enriquecem ou empobrecem com as outras. De algum modo todos estamos em um mesmo barco planetário.

Sempre se disse que, quando um país importante com o os Estados Unidos se resfriavam, os outros pegavam uma pneumonia. Hoje, estamos todos tão perto, tão conectados para o bem e para o mal que ninguém fica doente sozinho.

Existe o desejo de que se dissipem quanto antes os fantasmas que hoje, como em todas as crises do mundo, assustam e golpeiam as camadas mais fracas da cadeia social

Apesar da crise atual, o Brasil continua sendo visto como um país invejado por suas possibilidades, suas riquezas naturais e humanas e seu papel estratégico no tabuleiro mundial.

E há algo positivo que se observa na preocupação externa com a crise que o golpeia: não existe satisfação nem sequer dissimulada com os males que afligem o Brasil. Pelo contrário, nota-se uma mescla de simpatia por este país. Ninguém gosta de vê-lo caído no ringue, mas percebe-se, ao se constatar esse interesse pela crise, um desejo de vê-lo novamente vivo e erguido

E os brasileiros? O que pensam da crise?, perguntam no exterior. A resposta não é fácil nem é única porque a sensibilidade proverbial dos brasileiros está ferida e os sentimentos estão à flor da pele.

No entanto, não acho que me engano, escutando pessoas de diferentes estratos sociais, ao acreditar que há um denominador comum que atravessa todos os segmentos da crise e que poderia ser resumido assim: o Brasil é mais importante que seus políticos; os presidentes passam, e os brasileiros com suas virtudes e defeitos e seu desejo de ser felizes seguem seu caminho. Ninguém deseja o pior, nem como vingança. E embora custe às vezes confessar e até acreditar, existe a esperança, às vezes muda e às vezes verbalizada, de que a crise acabe o mais rápido possível para que o país volte a crescer.

Existe o desejo de que se dissipem quanto antes os fantasmas que hoje, como em todas as crises do mundo, assustam e golpeiam as camadas mais fracas da cadeia social.

A esses, por exemplo, que se viram forçados a lançar mão de suas pequenas economias. Haviam começado a fazê-las com orgulho, como os cidadãos dos países desenvolvidos, pensando que amanhã seus filhos poderiam usá-las, mas hoje se veem obrigados a gastá-las para enfrentar a crise.

O Brasil voltará a poder sorrir quando os pobres, que se haviam livrado da miséria, puderam voltar a poder economizar.

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