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México mobiliza o exército e a polícia para blindar as eleições

A ameaça de boicote lançada por facções sindicais colocou o país diante de um confronto

Jan Martínez Ahrens
Policial em Guerrero (México) ao lado de pichação pelo boicote eleitoral.
Policial em Guerrero (México) ao lado de pichação pelo boicote eleitoral.P. PARDO (AFP)

O México prende a respiração. A ameaça de um boicote às eleições deste domingo lançada por facções sindicais violentas e contrárias à reforma educacional colocou o país diante de um confronto que, se for consumado, pode ter consequências imprevisíveis. Diante desse desafio, o Governo ordenou uma mobilização maciça de Exército, Marinha e Polícia Federal. A operação, apesar de cobrir todo o território nacional, concentra suas forças em Oaxaca, um dos estados mais pobres e atrasados (seu PIB per capita é 2,8 vezes menor do que o brasileiro). É ali que a Coordenação Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE), uma cisão do sindicato majoritário dos professores, conta com maior força e impôs sua lei.

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Em uma escalada de violência, esta central demonstrou ao longo de duas semanas radicais sua capacidade de desafiar na rua o próprio Estado. Fechou estradas, bloqueou aeroportos, tomou centrais de abastecimento de gasolina, destruiu escritórios eleitorais, queimou cédulas e ameaçou várias vezes impedir as eleições. Os ataques aconteceram em Oaxaca, Michoacán, Chiapas, Guerrero e na própria capital. O nível de violência chegou a tal ponto que até o Exército, encarregado da custódia do material eleitoral, recuou em Oaxaca para evitar um confronto. Alarmado por essa ofensiva, o Instituto Nacional Eleitoral tomou medidas extraordinárias e pediu ajuda. A Embaixada dos Estados Unidos pediu a seus cidadãos que não viagem a Oaxaca, e os partidos de oposição exigiram a intervenção imediata da própria presidência.

A resposta do Executivo demonstrou o enorme poder de coerção do sindicato. Em uma tentativa de pôr fim à violência, o Governo decidiu, no fim de maio, aceitar uma de suas mais espinhosas reivindicações: suspender a avaliação dos docentes, uma medida destinada a acabar com o clientelismo que ainda impera na docência. Mas a queda humilhante de um dos símbolos da reforma educacional não serviu para deter a espiral de tensão. A Coordenação, apoiada por organizações paralelas, continuou as mobilizações e redobrou sua chamada ao boicote. Queriam muito mais. Para dar marcha ré, exigiam a retirada completa da reforma. Com esta bandeira, passaram por cima das autoridades da Educação e abriram uma negociação direta com a Secretaria de Governo (equivalente ao Ministério do Interior).

Alarmado com essa ofensiva, o Instituto Nacional Eleitoral tomou medidas extraordinárias e pediu ajuda

As discussões, na manhã de sábado, ainda não tinham chegado ao fim, mas, diante de um possível fracasso, o Governo ordenou a ação militar e policial. Mais de 600 soldados de reforço foram enviados a Oaxaca, e outros milhares de efetivos foram distribuídos pelos pontos nevrálgicos dos estados mais ameaçados, entre eles Michoacán, Guerrero e Chiapas. “Queremos que todos os mexicanos possam ir às urnas com tranquilidade”, afirmou o secretário de Governo, Osorio Chong. O Instituto Nacional Eleitoral, temeroso de um estouro de violência no dia das eleições, para as quais 83 milhões de mexicanos estão convocados (vota-se para deputados federais, nove governadores, 16 assembleias estaduais e 1.009 municípios), pediu aos militares e policiais “o estrito cumprimento da lei e o respeito cuidadoso aos direitos humanos”. O desembarque das forças federais obrigou o sindicato a abandonar as sedes eleitorais tomadas em Oaxaca. Ainda que a tensão tenha diminuído, o grupo não recuou de sua principal reivindicação. No domingo, as espadas continuam empunhadas.

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