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O narcoterror faz campanha eleitoral no México

Decapitação de candidata às eleições de junho retrata perigo de se dedicar à política por lá

Jan Martínez Ahrens
Uma mulher chora no enterro da candidata Aidé Nava.
Uma mulher chora no enterro da candidata Aidé Nava.José Luis de la Cruz (EFE)

Ahuacuotzingo é um pequeno povoado na montanha de Guerrero. Isso significa pelo menos três coisas. Uma, que está encravado no coração dos maiores campos de ópio da América; dois, que o narcotráfico controla a região; e três, que fazer política nessa região é brincar com a vida. Aidé Nava González, de 41 anos, a última candidata do PRD (esquerda) em Ahuacuotzingo e sua família são prova disso. A cabeça de Nava foi encontrada na terça-feira em uma estrada de terra. Ao seu lado, em um cartaz branco, havia uma mensagem escrita com letras vermelhas: “Isso é o que vai acontecer a todos os putos traidores e putos políticos que não queiram se alinhar. Assinado: Puro Rojo ZNS”. O corpo, com inexplicável pudor, tinha sido coberto com uma manta. A autópsia determinou que a política, uma viúva conhecida por sua coragem, foi torturada com uma sanha arrepiante e que, ainda viva, teve seu pescoço cortado. Possivelmente, antes de morrer se lembrou do que aconteceu em 28 de junho de 2014.

Na última década foram assassinados 60 membros do PRD em Guerrero

Naquele dia, Francisco Quiñónez Ramírez, de 42 anos, prefeito de Ahuacuotzingo pelo PRD entre 2009 e 2012, conduzia uma caminhonete Ford Lobo vermelha. Carregava as compras para sua festa de aniversário. Quiñónez era um homem popular e com um forte compromisso social. Sua intenção era voltar a concorrer às eleições de junho de 2015. À altura da saída de Tierras Prietas foi emboscado. Os assassinos tiraram-no do carro e acabaram com sua vida a balas. Tudo aconteceu na frente de sua acompanhante e esposa, Aidé.

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Era a segunda vez que a tragédia fulminava a mulher. Em 11 de outubro de 2012, o filho do casal, Francisco, de 15 anos, foi sequestrado. A última vez que foi visto foi em um vídeo de péssima qualidade no YouTube no qual o garoto implorava a seus pais que pagassem 17.000 dólares de resgate (cerca de 55.000 reais). Até hoje continua no limbo dos desaparecidos, essa terra de ninguém povoada no México por 23.000 pessoas. “Para mim está morto, mas se continua vivo, já não tem pai nem mãe para pagar o resgate. Aqui é assim. Matam você e ninguém investiga nem se sabe nada”, afirma Pedro Nava, primo da assassinada e líder de uma ONG na região. Conhecia bem a falecida e admirava-a: “Aidé decidiu assumir o lugar de seu marido quando o assassinaram. Perguntamos a ela se não tinha medo, disse que sim, mas que preferia seguir adiante”.

A candidata Aidé Nava, em imagem de 2012.
A candidata Aidé Nava, em imagem de 2012.José Luis de la Cruz (EFE)

A política em Guerrero é assim. Na última década foram assassinados 60 membros do PRD nesse Estado vulcânico, o mais violento do México. Também caíram militares e dirigentes do PRI e do PAN. Na porta de sua casa, enquanto tomavam café da manhã em um hotel, em plena estrada... Pouco importa o lugar. O braço do narcoterror há muito tempo chegou à política. O caso de Iguala revelou ao mundo sua imensa barbárie. A morte de Aidé Nava, cotidiana e perdida na montanha, voltou a recordá-lo.

As autoridades federais apontaram três Estados —Guerrero, Michoacán e Tamaulipas— como zonas de alto risco para as eleições locais e estaduais de junho. Em muitos de seus municípios, os candidatos vivem no fio da navalha. Aidé Nava (oficialmente pré-candidata) era um deles. Seu assassinato foi atribuído pelo PRD a Los Rojos (os vermelhos), um cartel selvagem que há muitos anos trava um combate de morte com os Guerreros Unidos, a organização criminosa que causou a tragédia de Iguala. O cartaz que deixaram à beira da estrada foi o auge: o inferno espera quem não se dobra a seus desígnios. O território é deles.

Mesmo não sendo oficial, Ribelín Calzarubias é o provável novo candidato do PRD em Ahuacuotzingo. Não anda com segurança e não confia nas autoridades. “Aqui tudo fica impune, você sabe”, diz sem muitos rodeios. Calzarubias conhecia o casal e também o filho sequestrado. E os três filhos que sobreviveram: “Imagine essa dor; primeiro o irmão, depois o pai e agora a mãe”.

— E o sr. não tem medo de ser morto?

— Veja, alguém tem que dar a cara. Não podemos dar marcha à ré.

Na quinta-feira, Aidé Nava González foi enterrada em sua cidade natal, Pochutla. Centenas de pessoas se reuniram ao cortejo fúnebre. Sua filha mais velha, Vanessa, pediu diante do caixão coberto de flores que o México não deixasse a luta de seus pais cair no esquecimento. Depois se foi para sempre de Ahuacuotzingo.

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