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Grupo anti-Dilma quer ampliar presença em bastiões do PT no país

Para protestos previstos para hoje, MBL aposta em estratégia para crescer no Nordeste

Gil Alessi
Ricardo Ribeiro (à dir.) e outros militantes do MBL da Bahia.
Ricardo Ribeiro (à dir.) e outros militantes do MBL da Bahia.Reprodução

“O Governo argumenta que era uma elite branca, golpista e do sul do país que estava se organizando e indo para a rua gritar 'fora Dilma'”, afirma Renan Henrique Ferreira Santos, integrante da direção nacional do Movimento Brasil Livre (MBL), um dos principais organizadores dos atos contra a presidenta. “Queremos mostrar a eles que isso é uma falácia.” Para tentar acabar com esse rótulo, o grupo adotou uma nova estratégia que espera por à prova neste domingo, quando voltará às ruas em novos protestos pelo impeachment de Rousseff.

A ideia do MBL é reforçar a presença nas regiões Norte e Nordeste do país, bastiões eleitorais do PT desde que chegou ao poder - nas eleições de 2014, a presidenta recebeu maioria dos votos em todos os Estados do Nordeste. “Queremos interiorizar as manifestações pelo impeachment da Dilma para Estados onde o PT não esperaria ser atacado”, diz. “Existem pessoas lá [no Nordeste] que não são reféns da propaganda federal. Encontramos lideranças incríveis em cidades minúsculas do interior de Alagoas e na Bahia, por exemplo”, afirma Santos.

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Foi o MBL, o mais radical dentro do trio de organizações mais ativos e visíveis na promoção dos atos anti-Dilma, que escolheu este domingo como novo round contra o Governo - depois, o Vem Pra Rua e o Revoltados Online se juntaram à convocatória. O anúncio veio logo após os multitudinários protestos de março, que reuniram milhares de pessoas com impacto central na crise política enfrentada por Dilma Rousseff. "Vai ser maior", disseram, então, seus líderes, emulando a frase usada pelo militantes do MPL (Movimento Passe Livre), seus antípodas ideológicos do qual copiam táticas e adaptam palavras de ordem.

Agora, um pouco vítimas do próprio êxito da primeira jornada, nem o MBL nem o Vem pra Rua querem falar em estimativas numéricas de adesão. Preferem falar em capilaridade e maior número de cidades participantes, a ser engrossado especialmente pelo Nordeste - a exceção é o Revoltados On Line, cujo fundador, Marcello Reis, que diz apostar no tripé Rio, São Paulo e Brasília.

O balanço do MBL é de que haverá protestos neste domingo em ao menos 160 cidades no Norte e no Nordeste do país, sendo que destes 50 estão sendo organizados por representantes do grupo. Em março houve atos em cerca de 40 cidades dessas regiões. “Queremos que essas pessoas saibam que elas não estão sozinhas”, diz Santos. O grupo espera, mais do que superar o público do ato anterior, ampliar o número de municípios com protestos.

A estratégia de tentativa de expansão nos bastiões do PT não parece desbaratada tendo em conta as que nas pesquisas de opinião recentes a rejeição de Dilma é ampla em todas as classes e regiões, e teve brusca queda entre os eleitores que votaram na petista em 2014. A questão é se o discurso que mobilizou quem foi às ruas em março cativa também esse eleitorado.

Acho essencial que sejamos fortes no Nordeste. Aqui é base do PT. O que antes era um reduto das oligarquias, agora está nas mãos do partido que se associou a elas”

“Entrei em contato com o MBL há duas semanas. No início éramos três pessoas, agora já somos 17 membros ativos”, afirma Ricardo Almeida Mota Ribeiro, 26, coordenador estadual do recém-criado diretório na Bahia. A criação do núcleo estadual, no entanto, só veio depois de uma sabatina com as lideranças nacionais: “Me perguntaram o que eu achava da Petrobras, e meu posicionamento sobre algumas questões políticas. Queriam ver se minha ideia era a mesma do grupo”. O novato achou a ideia boa, pois garante que os integrantes

Ribeiro conta que esperava ser hostilizado quando foi panfletar em alguns pontos mais populares da capital. “Na Estação da Lapa, onde tem um terminal de ônibus, circulam muitas pessoas das classes D e E. Achei que seria xingado, que as pessoas reagiriam negativamente à ideia do impeachment”, explica. Em poucos minutos, uma surpresa: “boa parte das pessoas aceitaram os panfletos, como alguns diziam ‘isso ai, tem que tirar essa mulher’, e um rapaz me ajudou a distribuir os papéis”. Para ele isso é um indicativo de como a popularidade da presidente está despencando.

“Acho essencial que sejamos fortes no Nordeste. Aqui é base do PT. O que antes era um reduto das oligarquias, agora está nas mãos do partido que se associou a elas”, diz Ribeiro. Para ele, a tese de que os nordestinos votam no partido de Dilma devido aos benefícios sociais é verdadeira, mas não explica tudo: “É inegável que sob o Governo do PT houveram melhoras na economia da região. Há um clientelismo, mas não é apenas isso”.

Discurso liberal 'suavizado' para atrair militantes no Nordeste

Ricardo Almeida Mota Ribeiro, um dos coordenadores do MBL na Bahia, afirma que inicialmente o ideário liberal assusta muitos nordestinos, especialmente no interior dos Estados, por isso algumas adequações na pauta do grupo precisaram ser feitas. “Quando falamos em privatizar a Petrobras, por exemplo, o sujeito olha desconfiado. ‘Como assim? A empresa é nossa, é do Brasil!’. Existe essa crença arraigada de que as estatais são deles”, diz. Na opinião dele, trata-se de uma crença "equivocada, até porque ela não é mais 100% estatal".

Para Ribeiro, a difusão das teorias de Estado Mínimo deve ficar em segundo plano, pelo menos no momento. “Nossa meta inicial é o impeachment da Dilma. É nisso que precisamos focar inicialmente”, afirma. “Algumas de nossas pautas podem ser difíceis para entender. O asilo ao Leopoldo Lopez [opositor venezuelano preso], por exemplo".

De acordo com ele, certos temas não são bem compreendidos por toda a população, o que exige uma certa flexibilidade. Para aproximar a população do movimento, os núcleos estaduais e municipais “abrem espaço para pautas locais”, segundo o coordenador.

O 'Estado mínimo' dentro do MBL

A tarefa de ampliar o número de diretórios do MBL em outros Estados não é das mais fáceis, e a tática do grupo é colocar em prática o que pregam no plano econômico. O papel de liderança do diretório nacional do MBL, de acordo com Santos, se assemelha ao Estado mínimo defendido pelo grupo: “Queremos que os entes regionais tenham autonomia, ao contrário do Estado brasileiro, onde o Governo federal é centralizados. Não queremos controlar ninguém”. Aos coordenadores estaduais e municipais, o MBL oferece apoio jurídico, material sobre como organizar um protesto e oferece a arte para cartazes e panfletos.

O processo de criação de diretórios municipais e estaduais do MBL muitas vezes exige um esforço ativo da coordenação. “Em alguns casos as pessoas nos procuram, em outros pegamos referências de gente ligada a institutos liberais, gente que pensa parecido conosco”, diz Santos. Integrantes de partidos políticos são vetados: “a tendência é que queiram colocar o movimento a serviço dos seus interesses políticos. E além do mais, militantes de partidos tendem a querer mandar”.

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