As caras do protesto anti-Dilma em SP
O que pensam os manifestantes que lotaram a avenida Paulista na tarde deste domingo
A multidão de manifestantes anti-Governo, na maioria brancos e de classe média e média alta, tinham uma ideia em comum: a de que a petista Dilma Rousseff não serve para governar o país. Mas, dentro dessa massa de gente, havia uma série de posições divergentes do que deveria ser feito a respeito disso.
Havia os que defendiam o impeachment. Outros, que advogavam em prol de uma ampla reforma política. Tinha ainda aqueles que achavam que o Brasil precisa mesmo é se livrar da ameaça comunista que o PT representa e, por isso, pediam uma intervenção militar –a posição, entretanto, foi rejeitada por muitos, que vaiaram e hostilizaram o discurso. Saiba abaixo o que pensam alguns dos manifestantes que estiveram na avenida Paulista neste domingo.
“Se tiver impeachment vai ter nova eleição”
Karin Salden, 28, administradora e dona de uma fábrica de peças para carro segurava uma faixa em que pedia a renúncia da Dilma. Mas ela afirma que quer mesmo é o impeachment. Quando questionada se sabia quem assumiria o Governo nesse caso, ela disse que acreditava que seriam convocadas novas eleições. "Aí entra o Aécio, né?". Quando informada que quem assumiria, no caso de um impeachment, seria Michel Temer, fez uma cara de tristeza. "Aí fica difícil!". "Mas a verdade é que eu não aguento mais. Os pequenos empresários estão sofrendo muito com tanta demissão, aumento em tudo" desabafou.
“O maior problema é a corrupção”
As amigas Caroline Zanette Warmling, 28, nutricionista ( à esquerda da foto) e Renata Coral Franzner, 27, dona de casa, foram em um grupo de seis pessoas para o ato contra Rousseff. Elas confessavam não saber se há, no momento, base legal para a ocorrência de um impeachment, mas acham que a força da manifestação pode ajudar no processo. "Acho que pode acontecer porque ela vai sair muito enfraquecida”, afirmava Caroline. “O maior problema do país hoje é a corrupção. É muita. E a consequência disso é que não tem saúde, educação. Estamos cansados disso", diz Renata.
“Não temos estrutura para ajudar ninguém”
Estudante do último ano em uma faculdade de medicina em Franca (interior de São Paulo), Bruna Bitelli, 24, chorava no ombro da mãe enquanto ouvia o hino nacional tocado do carro de som do Revoltados On Line. Emocionada, ela explicou que desejava o impeachment de Dilma Rousseff para por fim no “descaso do Governo com a saúde. "Eu faço medicina e vejo as coisas horríveis que acontecem. Minha classe não é reconhecida pelo Governo, a gente não tem estrutura no trabalho para ajudar ninguém", afirmava ela, que atende em um posto de saúde do SUS em Santos. “Foi esse Governo que fez isso, foi ele que trouxe o Mais Médicos”.
"Vamos assinar o impeachment da Dilma”
O partido Solidariedade aproveitou a multidão para colocar uma tenda, onde recolhia assinaturas para a abertura de impeachment de Rousseff . A reportagem foi abordada por uma senhora, que disparou, enquanto entregava algumas folhas do abaixo-assinado: “você está incumbida de pegar algumas assinaturas pelo Brasil”. Um dos responsáveis pelo recolhimento do apoio era o militante do partido, Michel Cruz. "Vamos assinar o impeachment da Dilma, pessoal", gritava ele. "Primeiro vamos tirar a Dilma, depois a gente vê quem fica e o que faremos depois", afirmou.
“Os nomes na linha sucessória são lamentáveis”
O casal Andrea Cardoso Ribeiro, 44, advogada, e Mario Sérgio Ribeiro, 55, empresário, defendiam a necessidade de repensar o sistema político existente atualmente. Para eles, é necessário fazer uma reforma política, para que existam apenas dois partidos, como nos Estados Unidos. Mas eles também levantavam a bandeira do parlamentarismo. “Mas a maioria da população nem sabe o que é isso”, dizia ele.
"Impeachment não adianta porque os nomes na linha sucessória são lamentáveis. Mesmo se tivesse uma eleição nova e o Aécio ganhasse, o país está tão dividido que nada adiantaria", continuava. "Dentro do presidencialismo, seria melhor agora que surgisse um nome novo, que ninguém conhecesse para presidente", afirmava Andrea. Nenhum dois acredita que a intervenção militar seja a resposta.
“Querem a 'cubanização' do Brasil”
Daniel Martins, do Instituto Plínio Correia de Oliveira (fundador da organização conservadora Tradição Família e Propriedade, a TFP), participa da marcha na Paulista. “Vemos a família e o direito de propriedade ameaçados por este Governo socialista. Querem a 'cubanização' do Brasil", diz ele. Para Martins, o Governo Dilma é "muito próximo à Venezuela" e "muito parecido com o governo espanhol de Felipe Calderón, que também enxuga as propriedades privadas, como Dilma". Ele é à favor do Impeachment, "dentro das cláusulas legais".
"O comunismo não presta, não deu certo em nenhum país"
A aposentada Regina Silva, 62, não quis mostrar o rosto na foto. Ela carregava uma faixa contra o comunismo e explicava: "sou contra o Foro de São Paulo, que quer implementar o comunismo na América Latina inteira. O comunismo não presta, não deu certo em nenhum país. Neles, só os ditadores se dão bem", dizia. Ela, no entanto, acredita que o impeachment de Rousseff não é a solução. "Tem que sair todos os comunistas. Sou a favor de uma ditadura militar". Quando questionada se uma ditadura militar também não era governada por ditadores ela refutou. "Eu vivi a ditadura. Naquela época, os perseguidos eram só os terroristas, não as pessoas de bem."
"O PT rouba, mas faz alguma coisa pelo pobre"
Para a artesã Inaiá Marina Ramos dos Santos, que trabalha na calçada da Paulista há 10 anos, esses protestos pedindo a saída de Dilma não resolvem os problemas do país. "Se sair a Dilma, quem entra? Não adianta! Quando tiraram o Collor, quem entrou no lugar?", pergunta ela, que votou em Dilma Nas duas últimas eleições. "O PT rouba mas faz alguma coisa pelo pobre", diz.
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