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Manobra de Haddad é “lamentável”, diz Movimento Passe Livre

Grupo diz que prefeitura convoca grupos que não representam ninguém para 'teatro'

Manifestante durante protesto na última sexta-feira.
Manifestante durante protesto na última sexta-feira.NACHO DOCE (REUTERS)

Horas antes do ato contra o aumento das tarifas de transporte público que convocou para a avenida Paulista, às 17h desta sexta-feira, o Movimento Passe Livre (MPL) divulgou uma nota em que condena o que chama de “manobra lamentável [da prefeitura] para tentar acabar com a luta da população de São Paulo”.

A nota faz referência à matéria publicada nesta quinta-feira pelo EL PAÍS, que afirma que o prefeito Fernando Haddad se reuniu com 15 jovens da Juventude do PT, que também representavam outros movimentos estudantis, sindicais e de moradia, para articular atos paralelos aos do MPL. O objetivo do encontro é tentar enfraquecer as passeatas do movimento, que foram o estopim para os grandes protestos de 2013 que se espalharam pelo país após serem violentamente reprimidos pela polícia.

Na ocasião, Haddad foi o mais afetado pelos atos. O encontro com os jovens do PT, nesta quarta-feira pela manhã, aconteceu cinco dias depois do primeiro ato do grupo, que levou 5.000 pessoas às ruas, na estimativa da Polícia Militar, e terminou violentamente reprimido bem próximo à avenida Paulista.

“Segundo grave denúncia feita pelo jornal EL PAÍS, Haddad articulou uma manobra lamentável para tentar acabar com a luta da população de São Paulo, convocando grupos da base aliada do governo que já não representam ninguém (se conseguem convocar 50 pessoas é muito), para um teatro em que estes grupos exigiriam uma ampliação do passe escolar e o prefeito simularia estar em negociação”, afirma o grupo na nota. “A história recente deveria ter ensinado aos governantes que os acordões à portas fechadas não representam a vontade da população. E agora a população percebeu que as condições de vida só melhoram quando ela mesma se organiza de forma independente e verdadeira para assim o exigir”, continua o texto, que afirma ainda que a mobilização irá continuar até que o transporte funcione para a população.

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A articulação de Haddad nos bastidores pretende posicioná-lo com um político que dialoga tanto com o próprio partido, quanto com os movimentos sociais. A falta de comunicação é uma das maiores críticas feitas a Haddad dentro do próprio PT. Em 2013, ele foi acusado de demorar a se movimentar politicamente para conter os atos, que acabaram o obrigando a revogar o aumento das tarifas de 3,20 para os 3 reais atuais. O aumento de 3,50, feito no último dia 6 de janeiro, veio acompanhado de uma série de medidas que tentavam diminuir o impacto da ação, como a gratuidade para parte dos estudantes, por exemplo.

A medida não surtiu efeito e o MPL, que defende que o transporte deve ser gratuito para todos, conseguiu levar às ruas no último dia 9 um grande número de pessoas, o que surpreendeu não só a prefeitura, mas muitos dos participantes. Até uma parte da própria Juventude do PT, descontente com o aumento, considerado politicamente inábil, decidiu participar dos protestos do MPL.

Por outro lado, há uma grande insatisfação de muitos movimentos sociais tradicionais com o protagonismo que o MPL tem assumido no debate sobre as tarifas de transporte. Haddad procura explorado essa insatisfação. Recebeu na última quinta-feira entidades estudantis, entre elas União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Estadual dos Estudantes (UEE), e concordou com a formação de uma mesa de diálogo permanente que discuta a ampliação da gratuidade da tarifa para outros grupos de estudantes que ainda não estão contemplados. Esses movimentos estudantis já haviam decidido no último sábado que não estariam mais presentes nas próximas manifestações do MPL, apesar de terem participado dos atos de 2013 e da última sexta-feira.

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