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Protestos contra aumento da tarifa

Haddad manobra para esvaziar os protestos do MPL em São Paulo

Prefeito se reúne com a juventude do PT para criar uma agenda paralela às manifestações

Primeiro ato do MPL pelas ruas de São Paulo.
Primeiro ato do MPL pelas ruas de São Paulo. SEBASTIÃO MOREIRA (EFE)

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), começou a se mover politicamente para tentar enfraquecer os protestos pela revogação da tarifa do transporte público, iniciados na semana passada e com novo round previsto para esta sexta. Na quarta de manhã, dois dias antes do segundo ato convocado pelo Movimento Passe Livre (MPL), grupo que iniciou a onda de atos que tomou as ruas do país em 2013, Haddad recebeu cerca de 15 integrantes da Juventude do PT. A pauta era o transporte, mas o MPL não foi convidado.

O encontro de três horas não aparece na agenda pública do prefeito. A reunião foi confirmada por uma fonte próxima a Haddad, que disse que ela foi informal, por isso não constava da agenda, e partiu de uma vontade recíproca de redirecionar a discussão sobre transporte público, paralelamente às exigências do MPL. Segundo participantes da reunião, os petistas no encontro também representavam movimentos de moradia, estudantis e sindicais. Eles decidiram criar uma pauta própria de atos com uma “agenda de esquerda que não vai de maneira irresponsável pedir a revogação da tarifa e, sim, pedir avanços”, definiu um dos participantes.

Para o grupo, a tarifa zero, principal bandeira do MPL, não pode dominar o debate sobre a mobilidade na cidade. O movimento é visto como “irresponsável” por não considerar o significado da gratuidade do transporte nas finanças da prefeitura. A exigência do MPL custaria seis bilhões de reais, dinheiro que sairia de áreas como saúde e educação, segundo o prefeito.

A reunião também discutiu como levar às ruas uma bandeira de Haddad: a municipalização da CIDE, um tributo que incide sobre a gasolina e que só chega aos cofres da União. O tema, que não é prioridade do MPL, agora deve ser defendido em aulas e debates públicos em universidades, que poderiam contar com a participação do prefeito. Desde o início do mandato, Haddad advoga para que as prefeituras sejam beneficiadas pelo tributo. Para ele, essa é a saída para baratear as tarifas.

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A articulação paralela do prefeito pretende posicioná-lo como um político que dialoga com as ruas. A estratégia foi colocada rapidamente em prática de novo nesta quinta-feira, quando ele, pessoalmente, recebeu uma comissão das principais entidades estudantis que atuam em São Paulo, que haviam acampado na porta da prefeitura exigindo diálogo e um Passe Livre estudantil irrestrito.

Os estudantes saíram da reunião com compromisso do prefeito de criar uma mesa de negociação permanente para discutir a ampliação da gratuidade. Haddad se comprometeu também a aumentar o benefício para os alunos de escolas técnicas e a estudar os custos de ampliar o Passe Livre para mais estudantes, como beneficiários de bolsas não-governamentais.

Bastidores X ruas

Desde 2013, movimentos sindicais, estudantis e de moradia se sentiam excluídos da movimentação do MPL, que assumiu todo o protagonismo na pauta do transporte público, historicamente ligada a esses movimentos. “As entidades reclamam, mas esses mesmos movimentos não têm o poder de mobilização do MPL nesse momento”, afirma uma das coordenadoras do Levante Popular da Juventude, entidade que recusou o convite para participar da reunião de quarta com o prefeito. “Nós não nos sentimos legitimados pelas ruas para participar dessa reunião que divide a juventude. Para nós, o interlocutor deve ser o MPL.”

Haddad tem explorado essa insatisfação. As entidades estudantis recebidas nesta quinta pelo prefeito, entre elas União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Estadual dos Estudantes (UEE),  que de 2013 até a última sexta participaram dos atos do MPL, decidiram no último sábado que não estarão mais presentes nas próximas manifestações do movimento. “Nos identificamos com a reivindicação de ter um novo sistema de transporte, mas resolvemos defender nossa própria pauta: a ampliação do Passe Livre”, afirma Carina Vitral, presidenta da UEE.

A manobra do prefeito será testada nesta sexta, quando acontece o segundo ato organizado pelo MPL. No primeiro protesto, a entidade conseguiu levar às ruas 5.000 pessoas, na estimativa mais conservadora, feita pela Polícia Militar. O número surpreendeu, porque se acreditava que as medidas anunciadas pela prefeitura junto ao aumento da tarifa, como a gratuidade para parte dos estudantes, conseguiria esvaziar o ato.

Entretanto, o movimento, que se diz apartidário e horizontal, sem lideranças definidas, tem sido bem-sucedido justamente por conseguir a adesão de jovens que não são ligados aos movimentos tradicionais, onde o PT tem forte presença. “A tomada de decisão do grupo é amplamente democrática, o que não existe em outras entidades”, explica João Alexandre Peschanski, professor de ciências políticas da Faculdade Cásper Líbero, um dos autores do livro Cidades Rebeldes, da editora Boitempo, que analisa as manifestações de 2013. Ele afirma que a falta de líderes do MPL faz com que seja difícil a cooptação do movimento pelos Governos.

Assim como em 2013, outro fator que pode influir no aumento dos protestos, longe do controle de Haddad, é a reação ante a violência policial, já vista no último ato. O próprio prefeito, cobrado nestas reuniões para se posicionar contra a repressão policial, considera que a truculência da PM pode levar mais pessoas para as ruas. Independentemente do resultado deste segundo ato, onde a polícia aumentará o efetivo de 800 para 1.000 homens, o prefeito já marcou mais duas reuniões para a próxima semana. E o MPL também não estará nelas.

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