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Maratona em Lima para salvar a conferência mundial sobre o clima

196 países trabalham contra relógio para fechar um acordo de redução de emissões

Inés Santaeulalia
Centenas simulam estarem mortos diante do local onde ocorre conferência.
Centenas simulam estarem mortos diante do local onde ocorre conferência.Paolo Aguilar (Efe)

O acordo global de combate contra as mudanças climáticas que precisa ser ratificado pelos 196 países presentes na 20a Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP20) ainda não foi fechado. Uma tensão se instalou na sede da cúpula em Lima, que tinha previsto seu encerramento para a sexta-feira. Agora ninguém se atreve a prever quando as negociações vão ser concluídas. “Chegou a hora da verdade e tudo ainda está no ar”, lamentou a organização ambientalista WWF.

Os negociadores tentam chegar a um consenso sobre um texto que estipule os compromissos que cada país está disposto a assumir no combate às mudanças climáticas. O entendimento entre as partes não é fácil, e o desafio é gigantesco: a temperatura média do planeta aumentou 0,8 graus desde a era pré-industrial, e os cientistas acreditam que se a barreira dos 2 graus for ultrapassada, os efeitos serão devastadores.

Nos últimos dias da conferência, vários líderes mundiais tentaram destravar as negociações. Os Estados Unidos, segundo país mais poluente do mundo depois da China, quiseram deixar claro que seu compromisso com o meio ambiente é firme e que não estão mais dispostos a serem apontados como um obstáculo nessa luta. O discurso feito na quinta-feira pelo secretário de Estado americano, John Kerry, foi a intervenção mais aplaudida pelas organizações ambientalistas nos 12 dias do encontro. “Nenhum país pode resolver o problema por si próprio. Não podemos pagar a conta sozinhos”, disse o representante do Governo de Barack Obama.

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O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também deixou claro que não há tempo a perder: “Chegou a hora de negociar de maneira séria”. E o presidente da cúpula, o peruano Manuel Pulgar-Vidal, advertiu os negociadores de que não sairão de Lima “de mãos vazias”.

Ninguém quer falar em fracasso, mas a lentidão das negociações acabou com o otimismo conquistado este ano. O acordo de redução de emissões anunciado pelos Estados Unidos e pela China em novembro e o plano proposto pela União Europeia (o terceiro maior emissor do planeta) pareciam ser o impulso necessário para evitar fracassos como o da conferência de Copenhague, em 2009, o último encontro a reunir a maioria dos líderes mundiais.

Cinco anos depois, não há margem para erros. Em 2015, em Paris, será preciso firmar um novo acordo global que substitua o já obsoleto Protocolo de Kyoto. Em Lima, os países estão obrigados a apresentar um rascunho e a definir quais compromissos cada um deverá assumir para combater as mudanças climáticas. O nível de redução nas emissões de gases de efeito estufa ao que cada nação deve se comprometer e as ajudas econômicas que os países mais pobres exigem para enfrentarem os resultados das mudanças climáticas têm impedido esse acordo até agora.

O documento que está sendo negociado terá sete páginas e contém vários parágrafos abertos a possibilidades distintas. “É apresentado um leque de opções. Algumas boas, outras ruins e outras suficientemente boas”, avalia o WWF. Para a Oxfam, trata-se de uma espécie de “livro-jogo”, onde o leitor é quem escolhe sua própria aventura. Os negociadores tentam agora prorrogar as horas para conseguir em Lima o que não foi obtido nos últimos cinco anos. E isso também apresenta vários caminhos: começar a fazer história no combate às mudanças climáticas ou voltar a firmar um novo fracasso.

Os países se posicionam

JACQUELINE FOWKS
  • A China recusa que os compromissos de redução das emissões sejam apresentados em detalhe porque não aceita uma revisão de sua proposta que avalie se ela é adequada e equilibrada.
  • A União Europeia reitera que, "como mundo de hoje é diferente daquele de 1992", não quer que seja usada a classificação de países desenvolvidos e em desenvolvimento adotada em 1992 para definir quem deve contribuir com a redução das emissões.
  • A Índia e a China não querem ser obrigadas a realizar contribuições (financeiras), mas querem receber financiamento para atividades de adaptação (prevenção e preparação diante das mudanças climáticas) e para eventuais danos provocados por fenômenos climáticos extremos.
  • Os países que possuem reservas de combustíveis fósseis, como os do Oriente Médio, a Bolívia, a Argentina e a Venezuela, entre outros, e os que formam o chamado Grupo Guarda-Chuva (Estados Unidos, Austrália, Canadá) se negaram a votar por algumas das propostas que estavam sobre a mesa.

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