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Senado dos EUA acusa CIA de cometer brutalidades em interrogatórios

Obama afirma que relatório deve contribuir "para deixar essas práticas no passado"

Presidenta do Comitê de Inteligência do Senado, Dianne Feinstein.
Presidenta do Comitê de Inteligência do Senado, Dianne Feinstein.AP

Brutal e implacável, o relatório tornado público nesta terça-feira pelo Comitê de Inteligência do Senado dos EUA conclui também que a CIA atuou por sua própria contra durante os anos de luta na guerra contra o terrorismo, mentindo e sem informar à Casa Branca e ao Congresso. Além disso, em alguns casos, os detidos pela Agência de Inteligência foram submetidos a técnicas brutais de interrogatório que não haviam sido aprovadas pelo Departamento de Justiça nem mesmo por Langley, a sede da Central de Inteligência.

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O presidente George W. Bush disse reiteradamente durante seus anos na Casa Branca que o programa de detenção e interrogatórios era “humano e legal” e dava resultados para desmantelar planos terroristas e capturar líderes da Al Qaeda. Enquanto isso, a CIA coordenou vazamentos de informações secretas em meios de comunicação, “incluindo informações erradas”, para rebater as “críticas, moldar a opinião pública e evitar ações do Congresso para restringir” o programa.

O relatório conclui que as chamadas técnicas de interrogatório reforçado, postas em prática em prisões secretas ao redor do mundo pelo Governo de George W. Bush após os ataques terroristas do 11 de Setembro, foram inefetivas ou não conseguiram obter a cooperação dos detidos. A brutalidade das técnicas chegou a ser tamanha em alguns casos que funcionários da Agência resolveram dar um fim aos procedimentos, mas altos cargos da organização de espionagem determinaram que os eles fossem mantidos.

A Casa Branca emitiu apenas um comunicado, após a divulgação pública do relatório, no qual afirma que as práticas de tortura da CIA contra suspeitos de terrorismo durante a década passada não ajudaram nos “esforços contra o terrorismo” nem os interesses de segurança nacional do país.

O relatório “documenta um programa preocupante” de interrogatório de suspeitos de terrorismo entre 2001 e 2009, e deve contribuir “para deixar essas práticas onde pertencem, no passado”, finaliza Obama em seu comunicado.

O relatório conta com 20 pontos e tem descrições muito duras e detalhadas sobre as técnicas que a Agência Central de Inteligência usou nos anos posteriores aos ataques terroristas da Al Qaeda contra Nova York e o Pentágono.

As técnicas para quebrar os suspeitos e obter informação sobre células da Al Qaeda iam desde a privação do sono –até uma semana sem dormir—, ameaças de caráter sexual e o tristemente famoso waterboarding

O documento elaborado ao longo de vários anos –desde 2009— tem 524 páginas que são o resumo de um memorando de mais de 6.000 cujo conteúdo não será tornado público. Duzentas das 500 páginas são dedicadas à história do programa de interrogatórios, e são documentados 119 casos de presos –dos quais, ao menos 39 sofreram torturas consideradas como Técnicas Reforçadas de Interrogatório.

A investigação foi realizada somente pelos membros democratas do Comitê e conta com uma réplica republicana por parte dos membros desse partido no Comitê.

As técnicas para quebrar os suspeitos e obter informação sobre células da Al Qaeda iam desde a privação do sono –até uma semana sem dormir—, ameaças de caráter sexual, o tristemente famoso waterboarding (asfixia dentro da água) ou ameaças de morte realizadas pelos interrogadores norte-americanos. O suspeito de ataque contra o porta-aviões USS Cole, Al Nashiri, foi ameaçado de ser perfurado na cabeça com uma furadeira.

Com a aprovação da equipe médica da CIA, alguns prisioneiros eram submetidos à técnica conhecida como alimentação retal ou hidratação retal, uma vez que o chefe de interrogatórios da Agência considerava que o procedimento conseguia obter “um controle total sobre o detido”.

A respeito da técnica de waterboarding, a qual o mentor do 11 de Setembro foi submetido até 83 vezes, o relatório aponta que foi aplicada em mais prisioneiros do que a CIA reconhece, apenas três.

O relatório afirma que o diretor da CIA, George Tenet, publicou em janeiro de 2003 diretrizes oficiais sobre os métodos de interrogatórios e as condições de confinamento nos centros de detenção. Naquele momento, diz o relatório, 40 dos 119 presos já haviam sido detidos.

O documento destaca que um centro ao qual denomina com o pseudônimo Cobalt chegou a abrigar “mais da metade” dos 119 detidos identificados. Este centro iniciou suas operações em setembro de 2002. Foram realizados “interrogatórios frequentes, não autorizados e não supervisionados, de presos usando técnicas físicas duras de questionamento que não faziam parte –e nunca fizeram— do programa formal de interrogatório reforçado”.

Outra das conclusões é que a CIA “não estava preparada” quando começou a operar o programa, mais de seis meses depois de receber, em 17 de setembro de 2001, uma autorização do presidente Bush em um memorando de notificação de ações secretas, para deter secretamente suspeitos que representassem um risco aos EUA ou tivessem preparado atentados terroristas. Mas essas autorizações “não faziam referência às técnicas de interrogatório”.

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