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“Saber perder é saber que não vamos construir um muro entre nós”

Dilma afirma que todas as lideranças devem mudar o ritmo da discussão pós-campanha

Carla Jiménez
Dilma Rousseff em reunião com PSD, no Planalto nesta quarta.
Dilma Rousseff em reunião com PSD, no Planalto nesta quarta. UESLEI MARCELINO (REUTERS)

Foi em meio a um ato falho que a presidenta Dilma Rousseff acabou falando diretamente para o que agora deve ser, além do maior, o mais barulhento partido de oposição, depois desta campanha eleitoral. Durante encontro com lideranças do Partido Socialista Democrático (PSD), ela ia elogiar o PSD e então disse: “ para mim, o PSDB... o PSD, aliás...”, afirmou ela, se desculpando no final. Diante da gafe, a presidenta achou melhor seguir adiante e dizer o que pensava sobre o partido que agora promete a oposição ferrenha ao seu Governo. “O resultado da eleição é o seguinte: eu fui eleita situação, reeleita presidente. E eles tiveram menos votos, foram indicados para oposição”, completou em seguida, afirmando que isso era democracia. “Saber perder é saber em que ponto você está, não significa que nós vamos construir um muro entre nós.” De um lado estaria situação, e do outro, a oposição.

Antes disso, a presidenta já havia falado de forma indireta sobre o partido rival, afirmando que qualquer tentativa de retaliação por parte de quem ganhou, “ou ressentimento por parte de quem perdeu, é uma incompreensão do processo democrático”, que ajudaria a criar no Brasil um quadro caótico. “Ninguém deve abrir mão das suas convicções, nem das suas posições. O que nós temos que defender é um diálogo com base em propostas”, declarou.

A presidenta admitiu que a campanha eleitoral acirrou os ânimos, mas que a função da presidenta e de todas as lideranças, é mudar o ritmo da discussão. Mas, ainda é preciso colocar para fora todos os sapos que foram engolidos. Para além das diferenças entre os eleitores dos dois partidos, fica evidente que há mágoas pelo meio entre os dois ex rivais da campanha.

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A presidenta, por exemplo, não citou Neves durante o seu discurso da vitória, no dia 26 de outubro, como era esperado depois que a sua reeleição foi confirmada. O senador tucano, por sua vez, também não escondeu durante seu primeiro discurso público no Senado depois da eleição, nesta quarta-feira, os machucados que ficaram da campanha. Em meio à celebração de seus 51 milhões de votos, ele lembrou dos ataques que sofreu com insinuações enviesadas – a campanha petista explorou, por exemplo, o fato de ele ter chamado Dilma de "leviana" por ele não tratar bem as mulheres. Normalmente, um gentleman, como seus próprios adversários reconhecem, ele deixou transparecer nesse momento a expressão de mágoa ao falar dessas passagens.

A queda de braço entre os rivais da campanha eleitoral de 2014 terá, certamente, muitos lances ao longo do segundo mandato da presidenta eleita, onde todos os assuntos que ficaram no caminho serão explorados à exaustão. É o caso da corrupção na Petrobras, a ineficiência da política econômica para retomar o crescimento, e a ideia de regulamentar os conselhos populares, proposta feita por um decreto de Dilma, mas rejeitada pelo Congresso.

Se naturalmente, o tucano viria a fazer oposição no Congresso, as feridas que ficaram pelo caminho podem ser um aditivo a essa ambição. A presidenta precisará de muita habilidade para lidar com um adversário ainda mais feroz.

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