_
_
_
_

Escócia diz não à independência

Os escoceses recusaram a separação no referendo com uma diferença de dez pontos A diferença foi maior do que as pesquisas indicavam

Eleitores em um posto de votação em Pitlochry.. / R. C. (REUTERS) / REUTERS-LIVEFoto: reuters_live

O Reino Unido sobreviveu ao referendo pela independência da Escócia. Apesar de o sim ter ganho em Glasgow e em Dundee, o resultado final foi uma clara vitória do não, com 55% dos votos à frente de 45% (cerca de 2 milhões de votos contra 1,6 milhão). Edimburgo, a capital, optou ainda mais claramente a favor de manter a integridade do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, com cerca de 60% de seus cidadãos votando contra a independência. Como era esperado, as regiões mais prósperas da Escócia escolheram continuar dentro do Reino Unido, enquanto as áreas mais pobres votaram pela independência, ainda que de maneira insuficiente.

Mais informações
Escócia vota sobre três séculos de história
O petróleo também vota
O medo do impacto econômico detém o crescimento do independentismo escocês
A Escócia pondera o preço de seu divórcio
Dez perguntas e respostas sobre uma Escócia independente
EDITORIAL | A Escócia é única
Resultado do referendo por zonas do país (em espanhol)
Alegria e tristeza depois do resultado (em espanhol)

O líder do governo escocês e do movimento independentista, Alex Salmond, fez um discurso em Edimburgo pouco depois das 6h (2h em Brasília) para reconhecer a derrota de sua proposta e fazer um apelo pela união do país. Ele também ressaltou que mais de 1,5 milhão de escoceses (entre 4,3 milhões de eleitores) votaram pela independência e que o país inteiro espera agora que os partidos unionistas cumpram sua promessa de transferir aceleradamente novos poderes para a Escócia. Foi uma doce derrota para ele.

Para o primeiro-ministro britânico, David Cameron, foi uma vitória nítida mas não livre de amargura. O país evitou a ruptura e evitou também abrir um foco adicional de crise na Europa em um momento histórico delicado, com a crise na Ucrânia em pleno apogeu, a economia ainda mancando e diversos movimentos separatistas na Espanha, na França, na Itália e na Bélgica pendentes da decisão dos escoceses. Mas do que ganhar, Cameron evitou uma derrota que ameaçava arruinar sua carreira política.

A decisão de Cameron de eliminar da consulta pública a opção de obter uma maior autonomia como alternativa à independência acabou levando o país a um racha. O vertiginoso salto do “sim” nas últimas semanas obrigou o premiê a colocar sobre a mesa um pacote de poderes autônomos muito mais ambiciosos do que ele tinha calculado, e que Salmond começou a cobrar já nesta manhã. Em seu primeiro discurso público em Downing Street após o referendo, Cameron se comprometeu justamente a avançar com a transferência de responsabilidades. “Assim como a Escócia votará separadamente, no Parlamento escocês, sobre assuntos fiscais, sobre os gastos públicos e sobre benefícios sociais, também será dado esse direito à Inglaterra, ao País de Gales e à Irlanda do Norte”, afirmou.

Apesar de os independentistas terem nitidamente perdido o referendo, não foram esmagados. Conseguiram com a consulta a possibilidade de obter amplos poderes fiscais, sociais e trabalhistas, e provocaram um renascimento do debate político de base que desfavorece os partidos tradicionais e enfraquece os líderes de Westminster.

O ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown sai para votar nesta quinta-feira.
O ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown sai para votar nesta quinta-feira.Jeff J Mitchell (Getty Images)

O comparecimento superou os 85%, batendo recordes históricos, mesmo tendo ficado em 75% em Glasgow. É possível que ali, na maior cidade escocesa, muitos eleitores trabalhistas tenham preferido a abstenção para evitar a difícil decisão de acatar o pedido do Partido Trabalhista de votar a favor da união ou o pedido de seus corações de votar a favor da independência.

“Aceito o veredicto dado pelo povo e peço a todos os escoceses que façam como eu e aceitem a vontade democrática dos escoceses. Mas houve um voto substancial a favor da independência deste país no futuro”, enfatizou Salmond, em Edimburgo. “O processo que tivemos dá um crédito enorme à Escócia. O comparecimento de 86% é único no mundo em um referendo e é uma vitória da democracia e da participação política”, acrescentou. “A Escócia inteira espera que se honre com rapidez as promessas dos partidos unionistas de transferir mais poderes para a Escócia”, afirmou, deixando claro que essa é uma aspiração não apenas dos que votaram pela independência mas também de todo o país.

Salmond elogiou o fato de “tantos escoceses terem se comprometido com o processo político pela primeira vez e terem decidido participar do processo democrático. Isso vai impedir um retorno à política de sempre. Quase 45%, ou 1,6 milhões de nossos cidadãos, votaram pela independência, algo que, no passado, nunca pensamos que poderia ser possível. Espero que o establishment de Westminster perceba a quantidade de gente que está seguindo adiante na Escócia. Agora temos que seguir adiante como uma nação”, concluiu.

O líder da campanha do “não”, o ex-ministro trabalhista Alastair Darling, fez um apelo por união depois de dar às boas-vindas à vitória unionista. “Expusemos nossos argumentos e ganhamos. O silêncio ganhou”, declarou, com ironia.

Os resultados de Aberdeen, no noroeste da Escócia, fizeram a candidatura unionista disparar na contagem dos votos, pouco antes das 6h. O “não” venceu ali com 59% dos votos, contra 41% obtidos pelo “sim”. Alguns minutos antes de se divulgar o resultado de Aberdeen, o conselho municipal de Dumfries informou que o “não” reunira um esmagador 66% enquanto o “sim” conquistou 34% dos votos.

A noite de contagem de votos começou a conta-gotas. Os menores conselhos municipais em termos eleitorais começaram a divulgar seus resultados pouco antes da 1h (21h da quinta-feira em Brasília). Em Clackmannanshire, o primeiro condado a divulgar seus resultados, o “não” ganhou com 54% dos votos, contra 46% do “sim”. Em Orkney Islands, o “não” obteve 67% do apoio, frente a 33% do “sim”. Com um tamanho semelhante, 64% dos eleitores de Shetland Islands votou “não” à independência, enquanto 36% foi a favor. Em Eilean Siar, o “não” venceu por seis pontos de diferença, 53% a 47%.

A primeira vitória para o “sim” veio de Dundee, no leste escocês, que representa 2,77% do total de eleitores, pouco antes das 4h (0h em Brasília). Os independentistas obtiveram 57% dos votos, enquanto o “não” ficou com 43%. Minutos depois foi a vez de West Dunbartonshire comemorar a maioria independentista, com 54% contra 46%. O conselho de North Lanarkshire também confirmou uma vitória apertada do “sim”, com 51% dos apoios. Pouco depois, Inverclyde anunciou que os independentistas perderam com 49,9% dos votos, frente a 50,1% dos unionistas.

Em Renfrewshire (3,14% do eleitorado) os partidários da permanência no Reino Unido venceram com folga de 62% sobre 43%. A vitória também foi ampla em East Lothian, com 62% de adesões ao “não”, e em Stirling, com 60%. Os partidários de seguir no Reino Unido ganharam também em Midlothian, com 56% dos votos, e em Falkirk, com 53% contra 47%.

Os unionistas também venceram com a maioria das urnas nos conselhos de Fife (55%), Aberdeenshire (60%), Angus(56%), Argyll & Bute (58%), Moray (58%), East Dunbartonshire (61%), East Renfrewshire (63%), North Ayshire (51%), Perth & Kinross (60%), Scottish Borders (66%), South Ayrshire (58%), East Ayshire (53%), South Lanarkshire (55%) e West Lothian (55%).

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_