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Desestímulo local para o carro, incentivo nacional para comprá-lo

O Plano Diretor pensa a cidade para diminuir o uso de veículos. Já o governo federal anuncia medidas de incentivo a sua venda

Carla Jiménez
Congestionamento na avenida 23 de Maio, em São Paulo.
Congestionamento na avenida 23 de Maio, em São Paulo.Nelson Antoine (AP)

Enquanto os vereadores de São Paulo votavam, nesta segunda-feira, um plano urbanístico para incentivar o uso do transporte, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciava uma vez mais que o governo federal abre mão de parte do imposto cobrado sobre a venda de automóveis para mantê-los a um preço atraente ao consumidor. Num ano de PIB baixo e de geração de emprego nem tão generosa, a medida pretende minorar os impactos negativos que representam a queda de 7,56% nas vendas de carro entre janeiro e junho deste ano, uma notícia preocupante para um país dependente do setor automobilístico.

O Governo fatura com a venda de veículos, uma vez que ao menos 30% do preço do carro corresponde a impostos diretos, que engordam a arrecadação nacional. Mesmo com a queda do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), que teve seu desconto estendido nesta segunda-feira, o caixa do Governo sobe com a melhora nas vendas de veículos, uma vez que outros tributos federais continuam sendo cobrados integralmente. Por isso, a equipe econômica de Dilma Rousseff achou por bem estender o desconto do IPI, que começou a ser dado no final de 2008, quando tomava forma o furacão financeiro que assolou o mundo com a crise que estourou nos Estados Unidos naquele ano.

O Governo fatura com a venda de veículos, uma vez que ao menos 30% do preço do carro corresponde a impostos diretos, que engordam a arrecadação

Seis anos atrás, no entanto, a solução adotada fazia todo sentido. Ao invés de recuar, e encarar fórmulas austeras, o Governo Lula avançou com os incentivos para inverter a curva de pessimismo global daquele momento. E deu certo. A indústria bateu recorde de vendas, precisou contratar gente em meio à crise para dar conta dos pedidos, e o PIB em 2009 caiu 0,2% (muito menos que o resto do mundo), para avançar 7,5% no ano seguinte – a indústria avançou fantásticos 10,5% em 2010.

O benefício macroeconômico, porém, está diretamente ligado ao prejuízo social encarado agora nas grandes cidades. O aumento da venda de carros, que praticamente dobrou entre 2006 e 2013, provocou os engarrafamentos monstruosos que afetam em especial os paulistanos, uma vez que o transporte público continua avançando a passos de tartaruga numa metrópole de 11 milhões de habitantes. Foi essa uma das fagulhas que acendeu o barril de pólvora das manifestações do ano passado, e colocou na cartilha de todos os discursos políticos deste ano as soluções urbanas.

A sociedade do século XXI rechaça o carro como de centro do universo das cidades. Exatamente a distorção que o Plano Diretor tenta desfazer agora. Como fechar essa conta?

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