Cristina, a grande ausente
A irmã mais nova do rei Felipe foi excluída do ato de proclamação A infanta está distanciada da família real por causa da imputação de seu marido no “caso Nóos”


Cristina de Borbón era a irmã que tinha mais afinidades com dom Felipe. Os dois têm interesses em comum e personalidades semelhantes, mais parecidas à de sua mãe. Mas há dois anos, tudo mudou. A imputação de Iñaki Urdangarin no “caso Nóos” interrompeu o relacionamento. O casal que até a quarta-feira era chamado de príncipe e princesa das Astúrias cortou a comunicação com o duque e a duquesa da Palma de Mallorca. O novo Rei quis, assim, deixar claro seu repúdio ao comportamento do cunhado. Os assessores do palácio apoiaram sua decisão, sabendo sobre o dano que o processo judicial poderia trazer para a imagem da Coroa. A ausência da infanta Cristina ficou ainda mais evidente hoje, no ato de proclamação de Felipe VI.
Em 2 de junho, quando dom Juan Carlos anunciou seu desejo de passar o trono a seu filho, os jornalistas de plantão em frente à casa dos duques de Palma de Mallorca, no centro de Genebra, receberam com surpresa as primeiras declarações que a infanta Cristina fez em muito tempo. Antes de entrar em seu carro, a caminho do trabalho, ela parou diante das câmeras e, com um sorriso aberto, disse que estava “feliz” pelo irmão. Ao ser perguntada se tinha falado com ele, respondeu contundente: “Claro que sim”. Era a primeira vez que se confirmava que os irmãos tinham se comunicado.
Cristina foi a grande ausente da quarta-feira no Salão de Colunas do palácio Real e hoje, no semi-círculo do Congresso. Não foi convidada, apesar de ser filha do Rei que deixa o trono e irmã caçula do Rei que acaba de chegar. Nunca ficou tão claro quanto nesses atos o repúdio da Coroa ao comportamento de seu marido e à solidariedade que ela demonstra a ele.
O “caso Nóos” provocou muitos danos à Coroa. Ninguém nega isso na Casa do Rei. E, ainda que não tenha sido uma peça decisiva na escolha de dom Juan Carlos de passar o bastão a seu filho, o escândalo teve uma influência.
Durante muitos meses, a rainha Sofía fez repetidas tentativas para que pelo menos a relação familiar não se rompesse, e reivindicou o direito de visitar sua filha e seus quatro netos Urdangarin-Borbón: Juan, Pablo, Miguel e Irene. Mas as visitas de dona Sofía agora são mais discretas. De fato, em 13 de junho, dona Cristina comemorou seus 49 anos, sem a mãe. Apenas a infanta Elena foi a Genebra naquele dia, sozinha. A irmã mais velha de dom Felipe se tornou a grande mediadora do seio familiar, aquela que mantém contato direto com todos os membros.
Não parece que esta situação vá mudar. O juiz José Castro deve encerrar a instrução do “caso Nóos” dentro dos próximos dias. Depois disso, é possível que a situação dos duques de Palma acabe piorando.