“Não há confirmação oficial de um Plano B para o Rio 2016”
O general nega que o COI pretenda levar os Jogos para Londres. Para ele, entender o papel de cada um foi o que atrasou as obras
O general Fernando Azevedo e Silva (Rio de Janeiro, 1952) foi eleito em novembro passado pela presidenta Dilma Roussef para tomar as rédeas da Autoridade Pública Olímpica e desbloquear a paralisia política que, segundo o Comitê Olímpico Internacional, estavam provocando os atrasos nas obras dos Jogos Olímpicos do Rio 2016. Azevedo, que coordenou a participação de 51 atletas das Forças Armadas brasileiras nos Jogos Olímpicos de Londres 2012, disse ter vivido outras “situações difíceis” na sua vida: liderou comandos de para-quedistas e encabeçou um dos contingentes que participou da pacificação do Haiti depois do golpe de estado de 2004. Na porta de seu escritório, um relógio avisa o tempo que falta para a abertura do evento (825 dias, 3 horas e alguns minutos) e recorda que “a vitória é de todos”. Por estes meses conseguiu que as administrações federal, estadual e municipal se pusessem de acordo sobre as respectivas responsabilidades. Não quer falar do passado, nem de seu antecessor no cargo, o ex Ministro Márcio Fortes. Sabe que trabalha sem margem de erro, mas se mostra convencido de que quando se encerrarem os primeiros Jogos Olímpicos organizados na América Latina, “o povo brasileiro estará orgulhoso”. “Temos de cumprir esta missão”, disse ao EL PAÍS no seu escritório, localizado em um prédio central da cidade do Rio de Janeiro.
Pergunta. Quais são as atribuições fundamentais da Autoridade Pública Olímpica (APO)?
Resposta. A APO foi um modelo adotado nos jogos de Londres, para auxiliar a integração das diferentes entidades políticas e o Comitê Organizado local. Minha finalidade é coordenar a integração destas entidades, garantir que os compromissos organizacionais para a realização do Rio 2016 sejam cumpridos. Uma parte essencial é a publicação da matriz de responsabilidade, o documento oficial em que se designam as diferentes responsabilidades financeiras e de execução de obras e serviços, revista a cada seis meses.
P. Li que o senhor definiu seu trabalho atual como “um combate sem vítimas”. Onde surgem as maiores complicações?
R. Organizar as Olimpíadas é muito complexo. Implica uma gama enorme de participantes, somadas às exigências do COI e das federações internacionais, que querem (e com razão) o melhor para suas modalidades. É um verdadeiro combate sem vítimas, tem uma grande complexidade.
P. Especialmente quando as obras estão atrasadas, suponho. Qual é o percentual de obras terminadas? Segundo fontes do COI, não superam os 10%.
R. Eu posso lhe falar da matriz de responsabilidades. Dos 52 projetos previstos, 24 tem um grau de maturação igual ou superior a 3 (iniciadas ou iniciando-se). [A escala vai de 1 a 6, sendo este último “pronto para utilizar”]. Se te falo de porcentagens, vou errar, pois não estou no combate das obras. O mais importante, o coração dos Jogos, é o Parque Olímpico da Barra, e sua construção está dentro dos prazos. A segunda questão que mais preocupava era o Parque Olímpico Deodoro, o segundo maior. Já está licitado. As instalações das duas modalidades mais complexas (tiro e hipismo) já existem. As outras modalidades são simples.
P. Existe a possibilidade de que se eliminem algumas modalidades para assegurar a viabilidade dos Jogos?
R. Não contemplamos esta possibilidade de nenhuma maneira. Vamos realizar o previsto, sou otimista por natureza.
P. Qual sua opinião sobre boatos da imprensa internacional que colocam Londres (e Moscou, inclusive) como possíveis “Planos B” para substituir o Rio no caso de um atraso insuperável?
R. Você mesmo já disse: O Plano B é um boato. Não há nenhuma confirmação oficial destas noticias por parte do COI. Em nenhuma nota oficial ele confirmou os boatos de um Plano B. Pelo contrario: Os desmentiu.
P. O COI decidiu intervir na preparação dos Jogos no mês passado frente ao alarme geral das Federações.
R. O COI terá presença mais constante, mas eles mesmos desmentiram que seja uma intervenção. Eu vejo como uma forma de ajuda; o COI é quem tem mais experiência em Jogos Olímpicos. É o dono do evento. É sua marca. E quer ajudar. A mensagem de Gilbert Felli (diretor executivo do COI, nomeado gestor de acompanhamento das obras) é de otimismo. Querem dar oportunidades a outros continentes. Farão um acompanhamento mais detalhado do processo, o que é parte do jogo.
P. Há uma corrente de opinião dentro e fora do Brasil que diz que o COI, depois da Copa do Mundo, poderia rever a eleição do Rio como sede.
R. Não creio. O pensamento do COI é de êxito dos Jogos do Rio. Não tenho dúvidas.
P. Qual é sua maior preocupação a respeito da preparação dos Jogos?
R. Não tenho preocupações. Temos menos flexibilidade com o Parque Deodoro, que está em fase de licitação (as obras começaram em setembro). É o assunto que requer mais atenção, mas as modalidades mais complicadas estão encaminhadas. O terreno, além disso, está em zona militar, o que não requer processo de expropriação. A modalidade que merecerá atenção mais especial é a canoagem slalom.
P. Como explica a lentidão das obras?
R. É evidente que o quanto antes elas acabem, melhor. Se terminarem muitos anos antes, melhor ainda. Mas não será o nosso caso. A legislação brasileira é muito rígida, com varias normas diferentes. O atraso se deu pela demora em identificar os diferentes responsáveis. Governo Federal, Estado do Rio e município. Faltou definir a matriz de responsabilidades. Por isso algumas etapas foram queimadas, mas não há nada que configure um panorama impossível, que precise de magia para viabilizar os Jogos.
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