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María Corina Machado: “A indiferença é cumplicidade”

A opositora afirma em Lima que continua sendo deputada e que retorna à Venezuela para continuar apoiando "a causa da liberdade"

María Corina Machado, nesta segunda-feira em Lima.
María Corina Machado, nesta segunda-feira em Lima.C. B. (AFP)

A deputada venezuelana da Mesa de Unidad Democrática (MUD) María Corina Machado usou a maior parte de seu tempo em um seminário internacional inaugurado pelo escritor Mario Vargas Llosa em Lima para descrever a violência que sofrem desde janeiro os jovens em seu país. A opositora opinou que não haverá retrocesso na mobilização cidadã contra o regime do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, o qual qualificou de "castro-comunista".

Embora minutos antes o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, anunciasse sua destituição do Parlamento, ele teve que esperar uma breve declaração à imprensa para conhecer sua resposta. "Sou María Corina Machado, sou e continuarei sendo deputada pela Assembleia Nacional da Venezuela. Conheço bem meus deveres e meus direitos e seguirei lutando e trabalhando como deputada nestas horas terríveis de repressão na Venezuela. O senhor Cabello deveria ler a Constituição e o regulamento da Assembleia. A diretiva da Assembleia não tem atribuições para destituir, só se pode ser destituído por morte, renúncia, sentença firme ou por uma revogação, e evidentemente este não é o caso”, disse a cerca de  30 jornalistas no extremo de um auditório da Universidade de Lima.

“O senhor Cabello está demonstrando o desespero de um regime que se sabe fraco, que está desesperado e que acredita que desta forma vai intimidar os venezuelanos ou submeter  seus representantes: enganam-se. Esta ação nos dá mais força e mais razões para continuar na luta e eu continuo sendo deputada da Assembleia Nacional até que o povo da Venezuela assim o decida. Seguirei lutando dentro e fora da Assembleia, dentro e fora da Venezuela”, assegurou.

Quando Machado chegou ao evento América Latina: oportunidades e desafios, a plateia a esperava por três horas e meia e a notícia de sua saída corria rapidamente. Na inauguração do evento, Vargas Llosa comentou que não tinha certeza de que a deputada venezuelana chegaria a Lima e um dos organizadores indicou que, na noite do domingo, Machado teve dificuldades para sair do aeroporto de Maiquetía em Caracas.

O prêmio Nobel de Literatura 2010 e presidente da Fundação para a Liberdade, promotora deste seminário anual, pediu no início do encontro um aplauso para os venezuelanos presentes no auditório, e umas 350 pessoas o atenderam. “Há um mês e meio estamos interessados pelos estudantes venezuelanos e por quem resiste aos esforços ditatoriais”, acrescentou Vargas Llosa. “Se a Venezuela cai, a ameaça totalitária não vai ficar ali”, advertiu. Depois elogiou a deputada Machado por seu desempenho na semana passada em Washington e referiu-se a “essa 'carabina de Ambrosio' chamada de OEA”.

Perguntada pelo que esperava do presidente peruano, Ollanta Humala, Machado propôs uma demanda geral aos chefes de Estado. “Esta (a destituição) é a evidência de um regime que persegue, que censura, que reprime, que tortura. Isso tem um nome só: é uma ditadura. Esperamos muito dos chefes de Estado e de Governo: que chamem as coisas por seu devido nome”, respondeu.

A deputada criticou que os tribunais venezuelanos estejam controlados: “Não há apenas um que decida com independência, por isso seguirei acompanhando os que lutam em suas necessidades e em sua causa pela liberdade”, agregou. “Este processo é irreversível e volta à Venezuela o antes possível”, afirmou a líder da oposição venezuelana que teve o septo fraturado por uma militante chavista numa surra em abril de 2013 no Legislativo.

Durante sua intervenção na mesa O desafio do neopopulismo, Machado sustentou que “após oito semanas de brutal repressão, hoje o governo passou uma lista vermelha que não pode ser escondida. Aos democratas do mundo dizemos que a indiferença é cumplicidade”.

“Vamos conquistar a democracia e a liberdade. Quanto tempo? O que for necessário, mas nunca em 15 anos o regime tem estado tão fraco como hoje, nunca temos estado tão próximos de conquistar a democracia como nestas horas”, assegurou a líder da MUD.

Na mesma sessão interveio o prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, que condenou os Governos baseados no personalismo e no messianismo, e sugeriu que a Argentina potencialize o Mercosul para convergir com a Aliança do Pacífico -formada por Colômbia, Chile, México e Peru-. Em uma mesa prévia, o ex-presidente mexicano Felipe Calderón leu parte de um pronunciamento do Clube de Madri, assinado por 96 ex-chefes de Estado e de Governo, que condena a violência e chamem ao diálogo a Venezuela.

Machado comentou três episódios recentes e duros, como o testemunho da dor de mães de estudantes falecidos ou feridos por disparos nos protestos. Levando em conta a decisão de Cabello  contra a sua pessoa, a deputada se expressou com serenidade enquanto compartilhava -com um auditório a seu favor- o desastre que enfrenta seu país.

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