O regime sírio destrói milhares de casas em bairros da oposição
Um relatório da Human Rights Watch afirma que isso é feito para "castigar as comunidades" As autoridades usam explosivos e escavadeiras para a "limpeza", segundo a ONG internacional
O regime sírio usou as demolições em massa de edifícios como arma de guerra, segundo revela um relatório da organização Human Rights Watch (HRW) divulgado nesta quinta-feira. Ao todo, 140 hectares foram completamente arrasados pelo governo nos doze meses anteriores a julho de 2013. Essas demolições foram feitas, sobretudo, nas províncias de Hama e Damasco, onde as linhas de batalha foram se alterando notavelmente ao longo dos meses. À medida que o regime recupera terreno, a HRW teme que essas demolições, ilegais segundo o direito internacional, se tornem mais comuns.
Base do relatório
O relatório de 38 páginas está baseado em uma análise detalhada de imagens de satélite de alta resolução, vídeos e fotografias. Bem como uma entrevista com 16 testemunhas das demolições e proprietários de casas destruídas.
Além disso, a Human Rights Watch examinou os relatórios dos meios de comunicação, favoráveis ao Governo, e os vídeos da destruição e a pós-guerra publicado no Youtube.
O regime negocia desde a semana passada com os opositores no encontro de Genebra II na Suíça, na qual não se chegou nenhum acordo concreto, além de uma evacuação de 500 famílias civis no centro da cidade de Homs (que ainda não foi cumprida), um disputado reduto rebelde. No passado, as forças leais ao presidente Bachar el Asad empregaram armas proibidas pela legislação internacional, como o lançamento de barris carregados de explosivos desde helicópteros. Em dezembro a Comissão de Direitos Humanos da ONU acusou altos servidores públicos do regime por crimes de guerra e contra a humanidade, além de sérias violações dos direitos humanos, como a tortura e as execuções sumárias.
O novo relatório da HRW documenta sete casos de demolições em massa de bairros onde havia apoio aos rebeldes. Para isso, foram comparadas imagens de satélite de 16 zonas diferentes das províncias de Hama e Damasco. Além disso, a HRW entrevistou 16 civis sírios que viram suas casas destruídas e contrastou essa informação com vídeos publicados e distribuídos nas redes sociais Youtube e Facebook. Os casos documentados estão em Masha el Arbeen e Wadi el Juz, em Hama; Qadun, Tadamun, Barzé, a base aérea Mezé e Harran el Awamid, em Damasco.
“Muitos dos edifícios destruídos eram blocos de apartamentos muito altos, alguns de oito andares. Milhares de famílias perderam seus lares por estas demolições”, diz o relatório, intitulado ‘Totalmente arrasados’ [Razed to the ground], que acusa el Asad de “ter apagado do mapa comunidades inteiras”.
Várias testemunhas e vítimas das demolições afirmaram que as forças governamentais avisaram com pouco tempo, se é que chegaram a advertir, sobre o que pretendiam fazer, tornando impossível que seus pertences fossem retirados. Além disso, os proprietários das casas disseram não ter recebido nenhuma compensação. A destruição foi realizada com explosivos e maquinaria pesada como escavadeiras.
Um proprietário de um restaurante local do bairro Qadun de Damasco, disse à Human Rights Watch que as forças de segurança lhe negaram a permissão para retirar qualquer coisa do local e o obrigaram a se ir a pé, deixando sua moto para trás. "Enquanto caminhava, olhei para trás e vi a escavadeira demolindo meu negócio" disse. "Diante dos meus olhos, vi todo o trabalho duro da minha família destruído em um segundo", concluiu.
Ole Solvang, um dos pesquisadores da HRW, explica por telefone que “é difícil atribuir a uma única intenção do governo com esta estratégia”. “Em alguns casos, parece ser castigo coletivo a civis que apoiam os opositores. Em outros casos, o governo arrasa comunidades porque quer aniquilar milícias rebeldes que se refugiam nessa área. E também tenho visto tamanha destruição em casos em que o regime quer proteger uma determinada área, como um aeroporto militar”, acrescenta. De fato, várias dessas demolições foram feitas ao redor dos aeroportos militar de Meze e civil de Damasco.
Os servidores públicos governamentais e os meios de comunicação favoráveis ao Governo afirmaram —segundo o relatório— que as demolições são parte dos esforços de planejamento urbano e da eliminação dos edifícios construídos ilegalmente. No entanto, vários proprietários afirmam que tinham todas as permissões e documentos necessários para suas casas.
Tamara Alrifai, porta-voz da ONG, explica por telefone que as demolições também funcionam para intimidar os cidadãos. No relatório, são citados depoimentos de vizinhos entrevistados que viram as demolições e receberam advertências dos militares. “Após as demolições, o exército veio até o nosso bairro para nos dizer, em alto e bom tom, que também destruiriam as nossas comunidades como já destruíram Wadi al Joz ou Masha al Aberdeen”, diz um das testemunhas citadas pela HRW.
Um dos principais motivos de preocupação para as organizações humanitárias é que estas demolições em massa, que, por enquanto, somam a mesma superfície de 200 campos de futebol e começaram a ocorrer também em Homs, se generalizem à medida em que o regime vai ganhando terreno para os rebeldes, como uma forma de represália. Nos últimos meses, El Asad recuperou várias zonas arrebatadas pela oposição, como Al Qusair, em Homs, e vários bairros nas periferias de Damasco.
Na quarta-feira, o exército sírio cercou um grupo de militantes rebeldes no castelo de Crac des Chevaliers, declarado patrimônio da humanidade pela UNESCO e já danado nesta guerra que dura quase três anos e já cobrou 130.000 vidas.
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