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CONFERÊNCIA DE GENEBRA II

Os opositores sírios aceitam seguir negociando com Bashar al-Assad

A Coalizão Nacional Síria diz que só resta, ao regime sírio, transferir poderes Seu líder Ahmad Jarba acusa Damasco de amparar o terrorismo e praticar tortura

Ahmad Jarba, líder da Coalizão Nacional Síria, em Genebra.
Ahmad Jarba, líder da Coalizão Nacional Síria, em Genebra.P. DESMAZES (AFP)

Apesar das graves acusações contra ela, no primeiro dia da conferência de paz de Genebra II nesta quinta-feira, a opositora Coalizão Nacional Síria anunciou que seguirá negociando, principalmente porque “o mundo viu agora a verdadeira cara do regime”, segundo disse em uma coletiva de imprensa seu presidente, Ahmad Jarba. As conversas se retomarão nesta sexta-feira, em uma jornada onde o regime e a oposição reconhecida pelo Ocidente falarão diretamente pela primeira vez, selando as condições e os prazos da negociação.

“Asseguro-lhes que se Bashar al-Assad fosse capaz de governar a Síria, eu não estaria aqui hoje”, disse Jarba. Após o discurso do ministro das Relações Exteriores do regime sírio, Wallid al Muallem, que no início do encontro na quarta-feira acusou os opositores de “traidores” e “agentes pagos pelo inimigo”, Arba considera que “o mundo já tem provas suficientes para se convencer de que al-Assad não pode nem é capaz de se manter no poder”. Empregando uma expressão comum na Síria, Jarba disse que “o regime de al-Assad está morto, e aos mortos só cabe enterrá-los”.

Como fez a delegação do regime sírio no primeiro dia do encontro, que começou na localidade de Montreux e agora se mudou para Genebra, Jarba acusou o regime de amparar o terrorismo e de recorrer a métodos como a tortura. Os opositores pediram uma investigação internacional sobre um relatório recente que assegura que 11.000 presos morreram nos cárceres sírios e que contém abundantes provas fotográficas de tortura, como contusões ou pescoços marcados por cordas. Os EUA estão com os opositores nessa petição.

Em sua coletiva de imprensa, Jarba disse também que o ministro russo das Relações Exteriores, Sergéi Lavrov, lhe disse em uma reunião na semana passada que “não necessariamente se apega a al-Assad”. Apesar disso, a Rússia é um dos principais aliados do regime sírio na cena internacional e vetou várias resoluções de condenação a este país no Conselho de Segurança da ONU. Em seu comparecimento no início do encontro de Genebra, Lavrov pediu uma saída negociada para o conflito sem “pré-condições”, dando a entender que a saída de al-Assad ainda não é certa.

Nesta quinta-feira, em uma entrevista ao canal Al Arabiya na localidade suíça de Davos, o secretário norte-americano de Estado, John Kerry, admitiu que ainda não vê al-Assad disposto a abandonar o poder. “Obviamente ainda não chegou a esse ponto”, disse. Todos os participantes da conferência de Genebra II — 39 países além da ONU e a Liga de Estados Árabes — aceitam as recomendações do comunicado de Genebra I, emitido em 2012, que pede uma transição política na Síria para conseguir o fim das hostilidades. Até a data morreram 130.000 pessoas no conflito e nove milhões abandonaram seus lares.

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