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As primeiras vítimas fatais agravam o conflito de rua da Ucrânia

Médicos da oposição confirmam que cinco pessoas morreram e há 300 feridas

Pilar Bonet

O conflito político e de rua da Ucrânia entrou em uma nova fase na manhã desta quarta-feira com a morte dos dois primeiros manifestantes em confrontos com as forças de segurança. Elas lançaram uma ofensiva com a qual conseguiram empurrar a linha de frente do protesto e afastá-la para longe dos edifícios oficiais do governo, a Presidência e o Parlamento. Médicos da oposição confirmam que cinco pessoas morreram e há 300 feridas.

A promotoria do Estado, no entanto, confirmou a morte de duas pessoas, Serguei Nigoián, com cerca de 20 anos, e um homem não identificado, de cerca de 30 anos. Nigoián teria morrido de madrugada devido aos ferimentos causados por arma de fogo no peito e no pescoço, de acordo com fontes da oposição. A julgar pelo ritmo acelerado dos acontecimentos, estas podem não ser as últimas mortes, pois foi organizada uma mobilização geral na sede central dos sindicatos, que recebeu até o momento a maior concentração de manifestantes. De lá partem colunas de homens bem dispostos, com capacetes, máscaras de gás e paus em direção ao “fronte”, que agora está na Praça da Europa, perto do hotel Dnipró.

Centenas e centenas de homens de todas as idades chegam à Praça da Independência geralmente armados com bastões de diversas consistências, material e tamanho. A energia e a determinação deles não deixam dúvidas de que todos estão dispostos a resistir com esses instrumentos ao avanço das forças da ordem pública, formadas por agentes da BERKUT (tropas especiais de intervenção) em formação fechada e apoiadas por tropas do Ministério do Interior. O Ministério da Defesa da Ucrânia informou que não tem nenhuma intenção de intervir no confronto com os manifestantes.

Em uma breve entrevista coletiva à imprensa na sede dos sindicatos, o deputado Alexandr Turchinov, do partido do primeira-ministra Yulia Tymoshenko, que está presa, disse que o número de mortos pode ser maior do que a cifra oficial. Turchinov pediu aos “homens” que defendam a “Euromaidan” e pediu para mulheres e crianças que se abstenham de ir à Praça da Independência. O deputado, que coordena a defesa dos manifestantes, disse que as autoridades “têm transgredido todas as leis e estão atirando contra pessoas desarmadas, jornalistas e médicos”.

“Além disso”, continuou ele, “nós acreditamos que existem mais vítimas, porque algumas pessoas que morreram após serem feridas por arma de fogo foram transferidas ao seu território por membros da BERKUT”. Segundo Turchinov, as tropas de elite começaram a usar munição real contra manifestantes.

A crise que mantém a Ucrânia na expectativa começou em novembro, depois que o presidente do país, Viktor Yanukovytch, decidiu não assinar o Acordo de Associação com a União Europeia que deveria ocorrer no final daquele mês em Vilnius. Durante dois meses, os manifestantes mantiveram o protesto permanente conhecido como “Euromaidan” que, nos fins de semana, de forma regular, era reforçado com passeatas populares de centenas de milhares de pessoas. No entanto, o padrão de protesto que já havia se tornado uma rotina mudou após a adoção, em 16 de janeiro, de leis que reforçam os poderes da polícia e limitam as liberdades civis.

Estas leis, que foram aprovadas pelos deputados do Partido das Regiões, que é maioria, entraram em vigor à meia-noite de terça para quarta-feira. Durante a mais recente onda de confrontos, os manifestantes jogaram coquetéis molotov e paralelepípedos contra os agentes da ordem pública, e as explosões de agressividade que já eram vistas anteriormente em novembro nas fileiras da oposição se tornaram mais intensas e mais numerosas. Os líderes da oposição não controlam mais os radicais.

Os três líderes da oposição, Arseniy Yatsenyuk, o boxeador Vitali Klitschko e o nacionalista Oleg Tiagnibok, foram convocados para uma reunião na manhã desta quarta-feira com Yanukovytch. Isso quer dizer que o presidente está pronto para conversar com eles, coisa que no passado não quis fazer, o que motivou Klitschko a não participar das negociações dirigidas pelo secretário do Conselho de Segurança, Andrei Kliuyev.

O presidente disse nesta manhã que lamenta a morte das pessoas no conflito “causada por extremistas políticos”. “Expressamos nossas condolências às famílias dos falecidos”, observou em um comunicado que insta os cidadãos a não se submeterem aos radicais políticos. “Ainda não é tarde demais para parar e regular o conflito pacificamente”, disse ele.

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