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Rios da América Latina entre os mais contaminados do mundo

70% do esgoto da região vai parar nos rios, causando um problema de saúde pública e de meio ambiente

Pergunta: O que é mais claro que a água? Resposta: Quase todo o resto.

Essa é uma realidade cada vez mais verdadeira para América Latina,onde três quartos do esgoto voltam aos rios e outras fontes hídricas, criando um sério problema de saúde pública e para o meio ambiente, segundo advertem analistas do Banco Mundial.

O problema é especialmente preocupante em uma região como a América Latina, onde 80% da população vive em cidades, e uma grande parte em comunidades próximas a fontes contaminadas.

Também há sérios desdobramentos ecológicos. A América Latina é uma das regiões mais ricas em biodiversidade do mundo e é dona de nada menos do que um terço das fontes de água do mundo. A contaminação da água coloca tudo isso em risco.

Como responder a um desafio tão grande? A analista em água e saneamento, Carmen Yee-Batista, diz que a resposta tem várias facetas, pois é preciso reformar a produção de água, investir em infraestrutura e regular o uso do território (isto é, onde pode se viver).

Yee-Batista, do Banco Mundial, afirma que a situação é ainda mais complexa porque “70% das águas residuais da região não são tratadas. Drenamos a água, a usamos e a devolvemos aos rios completamente contaminada”, diz.

Devido à complexidade do problema, o processo de produção de água deve ser revisado de uma maneira completa: fornecimento, esgoto e saneamento e drenagem urbana, ou seja, investir em sistemas de encanamentos de esgoto que evacuem a água das chuvas. E tudo isto sem perder de vista o planejamento urbano. “Queremos que o azul volte aos rios e as cidades voltem a ser mais verdes”, diz a analista.

Timidamente, várias cidades latino-americanas, como Buenos Aires, Tegucigalpa, São Paulo e Assunção, estão trabalhando em soluções para a manipulação e distribuição de água e descontaminação dos rios.

Este é o caso de recuperação do Rio Bogotá, que recebe as dejetos de mais de oito milhões e meio de habitantes que vivem na capital colombiana. O local não tem a capacidade de assimilar tanta contaminação. Atualmente, trabalha-se no tratamento das águas residuais. Também estuda-se alargar o rio para que tenha mais capacidade de armazenamento e a realocação das pessoas que vivem às margens e na recuperação das nascentes.

Esses avanços apresentam também um paradoxo. Por exemplo, no Uruguai a abrangência da rede de água é de 99%, mas quase a metade da água potável é perdida devido a encanamentos velhos, roubos e fraudes.

“Constroem-se redes, mas após 20 anos são necessárias mudanças que não estão sendo realizadas. Ou seja, gastamos muito dinheiro em infraestrutura, em recolher esta água, em distribuí-la, mas, mesmo assim, estamos perdendo”, afirma Yee-Batista, destacando que isso acontece em grande parte da região.

Daí decorre que um problema comum nas cidades latino-americanas seja a qualidade e continuidade do serviço -acesso durante as 24 horas do dia, todos os dias –, de pressão adequada e a clareza da água. Além disso, muitos fornecedores não são autossustentáveis financeiramente e dependem dos governos já que as tarifas não cobrem os custos de operação.

A analista lembra que a falta de acesso à água potável é ainda uma amarga realidade para 32 milhões de pessoas na América Latina. E que só esforços integrais poderão mudar essa realidade.

María Victoria Ojea é produtora on-line do Banco Mundial.

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