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As mulheres ganham independência, mas o salário ainda é menor que o dos homens

Pesquisa do IBGE mostra que quatro a cada dez famílias brasileiras apontam a mãe ou esposa como a responsável pela casa

Carla Jiménez

Uma mesma pergunta era repetida pelos entrevistadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) durante visita às casas das famílias entrevistadas para a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) no ano passado. “Quem é o responsável pela tomada de decisões na sua casa?” A cada dez visitas, praticamente em quatro a figura feminina presente era apontada como tal, fosse ela mãe ou simplesmente esposa. Nem sempre a mulher na casa era o arrimo do lar, ou seja, aquela que sustentava financeiramente a família.

Porém, uma década foi suficiente para consolidar uma mudança social que é vista diariamente nas ruas do Brasil, mas que agora se apresenta formalmemte nas estatísticas oficiais. O número de mulheres que são reconhecidas como a dona da última palavra em suas famílias cresceu dez pontos porcentuais entre 2002 e 2012. Há uma década, o Brasil registrava 28% dos domicílios com uma figura feminina mais forte. No ano passado, esse total chegava a 38%.

Se por um lado esses dados mostram um quadro mais equilibrado, em relação a padrões conservadores que colocam a figura masculina como a principal do núcleo familiar, a diferença de salários no mercado de trabalho brasileiro revela que o machismo ainda impera. O levantamento do IBGE mostra que em 2012 o rendimento das mulheres acima de 16 anos equivalia a 73% do ganho dos homens ocupando os mesmos cargos. Trata-se de uma evolução ainda muito modesta em comparação com 2002, quando a diferença era de 70%.

A desigualdade é ainda maior em trabalhos informais, onde as mulheres ganham o equivalente a 66% do que os homens recebem pelo mesmo trabalho. O salário é menor apesar de as representantes femininas estudarem mais que o sexo oposto. A media de estudos dos brasileiros de 25 anos ou mais passou de 6,1 anos para 7,6 anos. Entre os homens, porem, essa media é de 7,4 anos e entre as mulheres, 7,7 anos.

Entre os casais onde os dois trabalham, 73% das mulheres ganham menos do que os seus maridos. A diferença pode ser explicada pelo número de horas trabalhadas. Os homens tinham uma jornada semanal de 42,1 horas em 2012, enquanto o expediente das mulheres era de uma média de 36,1 horas. Na jornada doméstica, no entanto, as mulheres trabalham o dobro dos homens: enquanto o sexo masculino gasta dez horas com afazeres de casa, as mulheres dedicam 20,8 horas. Embora muitos homens realcem aderir sem reclamar à divisão de tarefas do lar, na última década o número de horas que eles gastaram em casa se manteve a mesma. As mulheres, por sua vez, se mostraram mais produtivas: reduziram em duas horas o tempo reservado a lavar louças, roupas, cuidar dos filhos etc.

A frequência de crianças de zero a três anos em creches subiu de 11,7% para 21,2% na última década, porém, o benefício ainda tem uma distrubuição desigual. Mais de 60% das crianças que estavam em creches no ano passado eram filhos ou filhas de famílias mais ricas, e apenas 22% das famílias mais pobres tinham acesso ao benefício.

Famílias

Em dez anos, mais brasileiros decidiram viver sós, sem dividir a escova de dente. Das 65,9 milhões dos lares apontados pelo IBGE, 13,2% eram constituídos por pessoas que vivem sós. Em 2002, esse percentual era de 9,3%. Na última década outro padrão de comportamento ficou mais acentuado: casais que decidem não ter filho passou de 14% para 19%.

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