Jovem, saudável e na UTI: o risco por coronavírus existe
OMS alerta que, embora a maioria dos casos graves aconteça em idosos, ninguém está isento
O risco zero não existe com o coronavírus. De tanto insistir na importância de proteger os grupos vulneráveis ―pessoas idosas e/ou com patologias anteriores― perde-se de vista que é uma doença que pode afetar qualquer pessoa e que, embora seja improvável, as pessoas jovens e saudáveis também podem sucumbir a ela, necessitar de hospitalização e inclusive morrer. São a exceção que confirma a regra e, quanto mais casos houver, mais exceções à regra serão constatadas.
A primeira que se tornou pública na Espanha, a de uma pessoa jovem e saudável que morreu, foi divulgada na quarta-feira. Era um guarda civil de 37 anos, sem doenças a destacar e que prestava seu serviço normalmente antes de dar positivo e morrer no centro hospitalar Quirón de Alcorcón, na Comunidade de Madri. No mesmo dia, Michael J. Ryan, diretor executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS), alertou: “Temos que ter muito cuidado com a ideia de que esse vírus só mata pessoas idosas. É verdade que os jovens são menos propensos a desenvolver uma doença grave, mas também há um número significativo de jovens que morreram”.
O que faz uma pessoa jovem e saudável morrer por culpa do coronavírus? Existem várias razões: exposição a uma grande carga viral, predisposição genética, alguma fraqueza no sistema imunológico que teria passado despercebida, patologias desconhecidas. Mas tudo se resume, segundo o virologista Juan Ayllón, em que, mais do que de causas, é preciso falar de riscos, de probabilidades: “Se muitas pessoas são infectadas, mesmo que você tenha baixa probabilidade, é como o primeiro prêmio da loteria; é a vez de alguém. Os fatores de risco associados ainda não são bem conhecidos. Temos muito claro que a idade é um fator de risco muito importante, assim como a fragilidade de uma pessoa, que é difícil de definir, mas que abrange muitos fatores”.
Certamente, se sabemos algo é que as pessoas idosas têm muito mais riscos. As estatísticas na China mostraram isso e foram confirmadas onde o coronavírus se espalhou. Na Itália, um artigo publicado na revista The Lancet explica que a média de idade dos mortos era de 81 anos e mais de dois terços tinham diabetes, doenças cardiovasculares ou câncer, ou eram ex-fumantes. 14,1% tinham mais de 90 anos; 42,2%, entre 80 e 89 anos; 32,4%, entre 70 e 79; 8,4%, entre 60 e 69, e 2,8%, entre 50 e 59 anos. No país transalpino, na faixa abaixo de 50 anos as mortes são pouco numerosas e não há nenhuma na faixa abaixo de 30 anos. Isso não significa que isso não possa ocorrer, inclusive em crianças, embora tampouco tenham acontecido.
O exposto acima é a distribuição das mortes, não a taxa de letalidade, ou seja, a relação entre infecções e mortes, que é provisoriamente de um máximo de 20% em maiores de 90 anos e se reduz paulatinamente à medida que a idade diminui (veja o gráfico, em espanhol). Provavelmente, esse número é superior ao real, pois é calculado em relação aos positivos, razão pela qual não são contadas as pessoas assintomáticas nem aquelas que não foram testadas.
Tasa de letalidad en Italia
Datos en porcentaje sobre el total de infectados
confirmados.
Edad
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60-69
9,6
70-79
16,6
80-89
19,0
+90
3,2
Sin datos
Total
5,8
Fuente: Istituto Superiore di Sanità.
EL PAÍS
Tasa de letalidad en Italia
Datos en porcentaje sobre el total de infectados confirmados.
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Fuente: Istituto Superiore di Sanità.
EL PAÍS
Tasa de letalidad en Italia
Datos en porcentaje sobre el total de infectados confirmados.
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Fuente: Istituto Superiore di Sanità.
EL PAÍS
Na Itália, entre as pessoas de 30 a 50 anos, essa taxa de mortalidade é de 0,1%. Nesse décimo de ponto, a grande maioria são pessoas com patologias. De fato, um estudo publicado quarta-feira mostrou que mais de 99% do total de mortos as tinham. Mas por menores que sejam as probabilidades para as pessoas saudáveis, elas existem. Como lembra o doutor Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, “pessoas jovens e saudáveis também morrem ocasionalmente de gripe”.
Foi o que aconteceu na China com um bom número de médicos. Ayllón explica que, neste caso, é provavelmente porque foram expostos a uma carga viral muito alta. “Não é o mesmo comer um pedaço de hambúrguer em mau estado do que comer quatro hambúrgueres inteiros”, diz como exemplo. A forma de exposição também é determinante. “Podemos pensar que é contraditório que não recomendem usar uma máscara e depois ver o pessoal de saúde vestido como se fosse astronauta. Mas se você tiver que intubar um paciente, você o expõe a muitos vírus e, especialmente a um que vem do aparelho respiratório; a quantidade de inóculo pode ser enorme”, continua o virologista.
Outra possibilidade é que as pessoas que acreditam que são saudáveis tenham alguma patologia oculta ou um sistema imunológico frágil. “Isso poderia se dever a alguma deficiência imunológica hereditária da qual nem sequer temos conhecimento em uma idade específica. Ou poderia ser devido a outras comorbidades como asma, anemia de células falciformes ou outras”, explica o doutor Rodney Rohde, da Universidade do Texas.
Um terceiro fator que pode explicar as poucas mortes em pessoas jovens e saudáveis são predisposições genéticas dos doentes. “Há muita coisa que não se conhece sobre o vírus e essas predisposições podem interagir com a biologia do vírus, favorecendo-o de alguma maneira e outras vezes nos protegendo”, acrescenta Ayllón.
Nesse mapa de risco, as crianças também não estão isentas. Um estudo em pré-publicação acrescenta informações ao que se sabe sobre o contágio em menores. Embora as patologias sejam muito mais leves do que nos adultos e ainda não haja mortes conhecidas de menores de nove anos, as infecções existem e os casos graves também. Os pesquisadores analisaram 2.143 casos de crianças menores de 18 anos na China. 4% eram assintomáticos; cerca da metade apresentou sintomas leves, como febre, fadiga, tosse, congestão e possivelmente náusea ou diarreia. Mais de um terço sofreu uma doença moderada. Finalmente, 125 crianças, quase 6%, desenvolveram uma doença muito grave. Em entrevista ao The New York Times, Shilu Tong, principal pesquisador do trabalho, disse: “O que isso nos diz é que os hospitais devem se preparar para alguns pacientes pediátricos porque não podemos descartar completamente as crianças”.
Metade dos doentes graves na Holanda é de menores de 50 anos
A França e a Holanda alertaram nos últimos dias sobre casos de coronavírus, inclusive graves, entre pessoas mais jovens do que se considera grupo de risco. Na Holanda, cerca de metade dos 96 pacientes internados em unidades de terapia intensiva tem menos de 50 anos. Na ausência de uma explicação científica, como a doença afeta principalmente idosos ou pessoas com patologias anteriores, Diederik Gommers, presidente da Associação Holandesa de Terapia Intensiva, considera a hipótese de um contágio durante o Carnaval da região, que aconteceu no final de fevereiro. As festas são muito populares, com aglomerações nas ruas e bares cheios de clientes, informa Isabel Ferrer.
Na França, as autoridades de saúde alertam com cada vez mais preocupação que não apenas a epidemia de coronavírus está se “acelerando”, como também que os casos entre os menores de 65 anos estão aumentando, informa Silvia Ayuso. Na terça-feira, ao dar ao final do dia os novos números nacionais, o número dois da Saúde da França, Jérôme Salomon, indicou que, dos 175 mortos desde o início da epidemia, 7% são “menores de 65 anos”. “50% têm menos de 60 anos e 50% têm mais de 60 anos. Então vemos que pode haver casos graves entre adultos ou jovens adultos. (...) Observamos poucos casos entre menores, mas a partir dos 25 ou 30 anos há formas cada vez mais severas e sem que se dê forçosamente uma patologia grave subjacente.”
As razões não são conhecidas, mas os focos de transmissão podem estar por trás da inclinação em relação a grupos populacionais específicos. É cedo para tirar conclusões.
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