Pandemia de coronavírus: o que você precisa saber para se proteger
Saiba quais são os sintomas, o que fazer para tentar se prevenir e quais são as recomendações oficiais
A Organização Mundial da Saúde declarou na quarta-feira, 11 de março, que o surto de coronavírus é uma “pandemia global”. Tedros Ghebreyesus, o diretor-geral da organização, afirmou em entrevista coletiva que o alto número de casos fora da China torna necessário mudar a definição de pandemia. “Estamos preocupados com os níveis alarmantes de propagação e com os níveis alarmantes de inação”. No Brasil, a situação evolui a cada dia, assim como as recomendações oficiais à população (siga aqui em tempo real). Veja o que mais é importante saber sobre o coronavírus:
O que fazer para evitar o contágio?
Lavar as mãos com frequência, com água e sabão. “Álcool gel funciona também. E como nem sempre você tem uma pia por perto, então é bom ter um álcool gel na mesa de trabalho, principalmente se você trabalha com atendimento ao público”, explica a Izabel Marcílio, médica epidemiologista do núcleo de vigilância epidemiológica do Hospital das Clínicas de São Paulo. O protocolo básico é: tossir cobrindo a boca e o nariz com o cotovelo flexionado, evitar tocar olhos, nariz e boca, evitar aglomerações e manter distância das demais pessoas, especialmente das que estão com tosse ou febre.
É verdade que devo mudar a forma de cumprimentar as pessoas?
Sim. Segundo o Ministério da Saúde, deve-se evitar abraços, apertos de mãos e beijos no rosto. Assim, você se protege e também a sua família de doenças respiratórias, incluindo o coronavírus.
Quem deve usar máscaras?
Segundo o MInistério da Saúde, as máscaras faciais descartáveis devem ser utilizadas por profissionais da saúde, cuidadores de idosos, mães que estão amamentando e pessoas diagnosticadas com o coronavírus. Para os demais, utilizar lenço descartável para higiene nasal é outra medida importante. Deve-se cobrir o nariz e a boca com um lenço de papel quando espirrar ou tossir e jogá-lo no lixo.
Devo evitar viajar? E se tiver voltado de viagem da Europa, por exemplo?
“Evitar viagens é prudente", diz Izabel. Para o caso de quem voltou de locais com muitos casos da doença, a recomendação da OMS é o monitoramento dos sintomas por 14 dias e a medição de temperatura duas vezes por dia. Na sexta-feira, dia 13, o Ministério da Saúde recomendeu que as pessoas que voltarem do exterior devem ficar ao menos 7 dias em casa. Em caso de sintomas como falta de ar, febre ou tosse, deve procurar uma unidade médica.
Se eu tiver que viajar, devo viajar usando máscara?
“O contágio em um avião pode acontecer, mas já percebemos que com esse vírus o mais importante é o contato, conversar, ter contato e estar próximo a alguém infectado. Esse contato próximo é mais perigoso que o contato só respiratório, de só estar num mesmo ambiente", diz Izabel. “Então não tem por que usar máscara se você não está doente. Quem tem que usar é a pessoa que está doente, é ela quem transmite”. O ideal, no entanto, é evitar ao máximo as viagens.
Devo evitar usar o transporte público?
Se não é possível evitar de todo, procure não usar nos horários de pico, especialmente nos Estados em que há transmissão sustentada da doença, como Rio e São Paulo, quando já não é possível identificar a origem da infecção e o contágio ganha velocidade.
Posso ir a shows, cinema e shopping?
A recomendação é evitar aglomerações. Em especial, para áreas com transmissão local da doença, como Rio e São Paulo, os promotores de evento estão sendo estimulados a cancelar ou adiar eventos. É especialmente recomendado que idosos e doentes crônicos evitem contato social como idas ao cinema e shoppings. Na Europa, onde a situação em alguns países é crítica, ganha terreno a campanha #EuFicoEmCasa.
Posso ir para a academia? Correr no parque pode?
Vale a regra de evitar aglomeração de pessoas. A recomendação é privilegiar exercíos ao ar livre. Mesmo assim, a Prefeitura de São Paulo recomenda não praticar atividades em grupo em parques e equipamentos públicos.
Devo trabalhar de casa?
O home office é uma recomendação, especialmente nos Estados onde já há transmissão sustentada, como Rio e São Paulo.
Se tiver de ir ao local de trabalho, qual deve ser o procedimento?
Se ainda não há possibilidade de trabalhar de casa, evite reuniões numerosas. A Organização Mundial da Saúde também divulgou uma cartilha específica para ambientes laborais. Valem as mesmas regras de higiene: limpar frequentemente com desinfetante mesas, teclados, telefones, celulares e outros utensílios de trabalho. Tantos os locais públicos como privados devem oferecer:
- local para lavar a mão frequentemente
- dispenser com álcool gel
- ter toalhas de papel descartável
- aumentar a frequência de limpeza de corrimões, elevadores e outros lugares de contato intenso com álcool gel ou solução com água sanitária (9 partes de água para uma de água sanitária)
Quem está com sintomas como tosse seca e febre baixa, deve ser encorajado a ir para casa (se para trabalhar de casa ou descansar, a decisão é da empresa).
E em casa, como devo fazer com a limpeza?
De acordo com o MInistério da Saúde, se houver álcool gel, ele também deve ser usado para limpar objetos como telefones, teclados. Para o resto da limpeza doméstica, recomenda-se a utilização dos produtos usuais, dando preferência para o uso da água sanitária (misture num balde 9 partes de água e uma parte de água sanitária) para desinfetar superfícies. Para as roupas, limpeza normal, a não ser que haja infectados na residência (ler mais abaixo).
Devo mandar meus filhos para escola? E as universidades?
No caso de Rio e São Paulo, onde já há transmissão sustentada dos casos, já há recomendações específicas. No Rio, as aulas de todos os níveis estão suspensas. Em São Paulo, a suspensão vai ser gradual nas instituições públicas e privadas. A recomendação paulista é: se puder, não envie as crianças à escola já a partir da segunda-feira, 16, mas evite que elas sejam cuidadas por pessoas com mais de 55 anos (o mais importante grupo de risco, ver mais abaixo). Várias universidades já cancelaram aulas e estão programando atividades e ensino à distância.
Devo comprar remédios ou comida em quantidade?
Num cenário de alta transmissão, que o especialistas dizem não estar longe no caso brasileiro, recomenda-se ter mais produtos de higiene (incluindo fraldas, no caso das crianças), tudo para evitar locais de grande circulação. Para doentes crônicos, recomenda-se ter receitas de mais longo prazo do que o habitual para medicamentos.
Quando começarão as restrições mais drásticas, como quarentenas impedindo a circulação de pessoas?
Na sexta-feira, dia 13, o Governo federal anunciou que poderá ser declarada quarentena, com medidas impedindo a circulação, quando o país atingir 80% da ocupação dos leitos de UTI disponíveis para o atendimento à doença. Em que momento nós estamos desta ocupação, não está claro. Até sexta, havia 12 pacientes graves no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, a ocupação é definida pelo gestor local.
Quais são os sintomas do coronavírus?
Os sintomas são de uma gripe comum. Pode ter febre ou não, tosse e dificuldade de respirar. Alguns pacientes relatam dor, congestão nasal, dor de garganta e diarreia. O sintoma mais grave, nos casos sintomáticos, é a falta de ar. Quem sentir falta de ar, deve procurar uma unidade médica. Quem sentir apenas coriza, apenas moleza no corpo ou apenas febre pode ligar para o número 136 e escutar orientações médicas.
Quais são os fatores de risco para a doença?
Se teve contato direto com alguém que teve a doença confirmada, se viajou para um país com muitos casos confirmados, se, por exemplo, tiver um colega de trabalho com a doença confirmada. No entanto, essa situação está mudando, já que no Rio e em São Paulo, por exemplo, já há circulação maior do vírus.
Quantas pessoas um doente confirmado pode contaminar?
De acordo com Izabel, cada doente pode contaminar em média 2,5 pessoas.
Como saber se eu estive em contato direto com algum doente confirmado?
Se considera contato direto quando a distância entre as duas pessoa é de menos de dois metros durante um tempo contínuo.
E quais são os grupos de maior risco?
No total, 2% das pessoas que contraíram a doença morreram, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. O índice, porém, tem variado de país. “O grupo de risco são as pessoas mais idosas, com doenças pré-existentes, como hipertensão, diabetes ou doenças obstrutivas crônicas”, diz o professor Helder Nakaya, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Estudo de cientistas chineses publicado nesta semana aponta os aspectos elencados por Nakaya como agravantes do quadro dos pacientes. Apesar disso, todos devem seguir a recomendações, indepentemente do risco de morte. Só o comportamento coletivo pode conter a velocidade de transmissão do vírus e evitar o colapso do sistema de saúde.
O que eu devo fazer se suspeitar que estou doente?
Se você apresentar os sintomas compatíveis com a doença (febre, tosse, dificuldade para respirar) e tiver viajado a zonas consideradas como foco de infecção (China, Coreia do Sul, Singapura, Irã e Itália), e tiver tido contato com uma pessoa com caso confirmado, deve procurar uma unidade de saúde. “Se no HC chegar alguém que o médico achar que essa pessoa é suspeita, ela já sai do hospital de máscara, é recomendável não usar o transporte público, que fique isolada em um cômodo da casa bem ventilado, e que não divida os talheres e copos”, diz Izabel. “A recomendação é que ela fique assim até que os sintomas desapareçam, o que dura cerca de sete dias. Mas se o resultado der negativo antes, ela está liberada”. Ela afirma que geralmente o resultado sai entre um e dois dias. “Todos os casos suspeitos estão sendo monitorados, nós ligamos diariamente para esses pacientes”.
O que fazer se eu moro em um local precário e divido o quarto com muitas pessoas, por exemplo?
A recomendação de isolamento segue sendo a mesma. “Esse é um problema que a gente já enfrenta, porque a recomendação é sempre se alimentar bem, utilizar o medicamento que dá menos efeito colateral, fazer exercícios e quem vive em condições precárias já não tem como seguir essas recomendações”, diz Izabel.
O que fazer se eu preciso conviver com um infectado?
O EL PAÍS fez uma guia só para orientar quem está convivendo com infectados: leia aqui. Segundo o Ministério da Saúde, é importante separar roupas e roupas de cama de pessoas infectadas. Neste caso, a higienização tem que ser feita à parte. Caso não haja a possibilidade de fazer a lavagem destas roupas imediatamente, a recomendação é que elas sejam armazenadas em sacos de lixo plástico até que seja possível lavar. Em caso de velório de infectado, se recomenda velório sem concentração de pessoas.
Como é o teste de coronavírus?
O teste é baseado na coleta de amostras do trato respiratório. Pode ser realizado por um profissional de saúde em casa, mas ainda é incerta a capacidade do Brasil de ter o serviço, geralmente quando o estudo de caso é assintomático ou os sintomas são leves, ou em um centro de saúde, se o paciente é internado por uma condição grave.
No sistema público, como serão os testes?
Em São Paulo e no Rio de Janeiro, só serão feitos testes de coronavírus em casos de pacientes internados. Um dos motivos para segmentação e o custo de testes individuais. Além disso, a rede Sentinela, que são centros em várias cidades do país que já fazem controle epidemiológico, seguirá monitorando, por amostragem, que tipos de vírus se apresentam em quadros de síndrome gripal, entre eles, o coronavírus.
O Governo informou que os planos de saúde terão que cobrir testes para coronavírus. Todos os hospitais estão preparados para fazê-lo?
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que regula os planos, determinou que, sim, as coberturas privadas devem incluir os testes. A ANS, no entanto, ainda está disciplinando quais serão os tipos de teste, os protocolos e o prazo que dará às operadoras de planos para se ajustarem à determinação. Não há dados públicos sobre quais hospitais e laboratórios estão aptos a fazer o procedimento. Segundo o Ministério da Saúde, a meta é ter testes em todos os Estados brasileiros até 18 de março.
Os planos de saúde privados são obrigados a cobrir o tratamento da doença?
Sim. O tratamento para a doença já é garantido aos pacientes com casos confirmados de infecção, mas a cobertura depende da segmentação dos planos de cada paciente.