OMS prevê queda inédita do número de homens fumantes no mundo
Relatório divulgado nesta quinta-feira estima que 2020 terá menos 10 milhões de tabagistas que em 2018
Cada vez menos gente no mundo acende um cigarro diariamente. O número de fumantes começou a diminuir em 2018, graças ao fato de as mulheres abandonarem esse hábito. Em 2020, pela primeira vez desde que existem medições, a Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que o número de homens que fumam também caia.
O Relatório Global de Tendências na Prevalência do Tabaco, publicado pela OMS nesta quinta-feira, indica uma “grande mudança na epidemia”. Graças às pesquisas realizadas pelo organismo em diferentes países e a um modelo estatístico de evolução populacional, projeta que em 2020 haverá 10 milhões de fumantes menos do que em 2018 (entre eles, um milhão de homens); em 2025, esse número cairá outros 27 milhões, atingindo 1,299 bilhão de fumantes em todo o mundo.
“As reduções no consumo mundial de tabaco mostram que quando os Governos introduzem e fortalecem suas ações integrais baseadas em evidências, podem proteger o bem-estar de seus cidadãos e comunidades”, explicou ontem por telefone Ruediger Krech, diretor de Promoção da Saúde da OMS.
Embora a diminuição do número de fumantes a cada ano seja modesta, os valores relativos apontam para uma tendência descendente muito mais acentuada: à medida que a população mundial cresce, a porcentagem de fumantes cai com força há duas décadas. No ano 2000, uma em cada três pessoas fumava em todo o planeta e quase metade dos homens fumava (contra 16% das mulheres); hoje, uma em cada cinco pessoas é fumante (37,5% dos homens e 8% das mulheres).
Monitorar o consumo de tabaco, proteger a população do fumo, oferecer ajuda para parar de fumar, alertar sobre os perigos, aumentar os impostos e fazer cumprir as proibições à publicidade, promoção e patrocínio são os seis fatores decisivos para essa conquista. Configuram uma estratégia chamada Mpower (a sigla em inglês de cada um desses seis pilares) que a OMS lançou em 2008 para deter o que qualifica como “uma das maiores ameaças à saúde pública que o mundo teve de enfrentar”. Mata ao menos oito milhões de pessoas por ano, das quais quase 900.000 são não fumantes expostos ao fumo passivo.
Projeta que em 2020 haverá 10 milhões de fumantes menos do que dois anos atrás; em 2025, esse número cairá outros 27 milhões, atingindo 1,299 bilhão de fumantes em todo o mundo
A prevalência do consumo de tabaco está diminuindo em todas as regiões do mundo. Mas existem grandes diferenças entre elas: enquanto na Europa, para 2020, a OMS estima que 25,6% das pessoas fumarão, superada apenas pelo Sudeste Asiático (27,9%). Na América fica em 17,5 % e na África mal ultrapassa os 12%. Muitos dos esforços das empresas de tabaco para crescer estão concentrados neste continente, conforme denunciam as maiores organizações contra o tabagismo. Lá estão alguns países onde o problema está crescendo com força.
“Os dados são claros: o consumo de tabaco diminui quando os Governos implementam políticas que demonstram incentivar o abandono e dissuadir os jovens de começar a consumi-lo. O problema é que a indústria do tabaco continua minando essas medidas em todo o mundo e comercializando seus produtos de forma agressiva”, afirma Gan Quan, diretor de Controle de Tabaco da União Internacional contra a Tuberculose e Doenças Pulmonares e membro da ONG contra o tabaco STOP.
No ano 2000, uma em cada três pessoas fumava em todo o planeta e quase metade dos homens fumava (contra 16% das mulheres); hoje, uma em cada cinco pessoas é fumante (37,5% dos homens e 8% das mulheres)
Na última conferência da União, realizada em novembro em Hyderabad (Índia), vários estudos mostraram as estratégias da indústria para alcançar principalmente os adolescentes dessas regiões. Um deles foi o elaborado por Sessou Leonce Dieudonné, que mostrou uma pesquisa na qual afirma que as grandes empresas de tabaco vendem e anunciam cigarros perto das escolas. A comercialização de unidades avulsas, de tabaco aromatizado e a publicidade vistosa são algumas das práticas documentadas por este e por outros estudos. “As empresas se dirigem sistematicamente às crianças nas proximidades das escolas e as incentivam a começar com o tabaco, consideram-nas uma reserva para repor fumantes, violando seus próprios códigos de conduta, guiados exclusivamente pelo lucro e não pela saúde pública”, condena Dieudonné.
A British American Tobacco, a Philip Morris e a Japan Tobacco International, as três maiores empresas de tabaco do mundo, negam as acusações e afirmam que não promovem de forma alguma o consumo de tabaco por menores.