Alberto Fernández se cerca da velha esquerda sul-americana, incluindo Lula e Mujica, para comemorar a metade do seu mandato
Presidente argentino promete melhorar a distribuição de renda, mas isso não depende só dele. Acordo com o FMI marcará os dois últimos anos do seu mandato
Alberto Fernández transformou o 38º aniversário da reinstauração da democracia na Argentina numa celebração popular de apoio ao seu Governo, dois anos depois da sua posse como chefe de Estado. Acompanhado por sua vice-presidenta, Cristina Fernández de Kirchner, e dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e José Mujica (Uruguai), Fernández agradeceu a presença na praça de Maio de pessoas que são referências para os direitos humanos, junto com milhares de militantes peronistas.T ambém se comprometeu a melhorar o desgastado poder aquisitivo dos argentinos na segunda metade de seu mandato.
“Dezenas de milhares de argentinos que entregaram sua vida foram desaparecidos, torturados. Pela memória de todos eles, cuidemos da nossa democracia, a defendamos a ferro e fogo”, disse Fernández nos primeiros minutos de seu discurso sobre um palanque montado em frente à Casa Rosada, sede do governo. Antes dele, Mujica, Lula e Kirchner já haviam salientado a importância de cuidar da democracia num continente onde metade da sua população se mostra desencantada com esse sistema político.
Sem a presença da oposição, que criticou o custo do ato público, o presidente e sua vice atacaram a gestão do antecessor de Fernández, Mauricio Macri, os meios de comunicação e os Judiciários pelo que consideram uma perseguição contra Lula no Brasil e contra Cristina Kirchner na Argentina. “Estou com você, Cristina, porque sei da sua inocência e honestidade”, disse o presidente à sua vice, após declarar apoio a Lula nas eleições presidenciais brasileiras de 2022.
O mandatário argentino tentou desenhar um futuro mais luminoso que o presente, marcado pela dura situação econômica do país depois de três anos de crise econômica agravada pela pandemia de covid-19, da qual está apenas começando a se recuperar. “Prometo a vocês que no ano que vem farei tudo o que estiver ao meu alcance para que a distribuição de renda melhore, e os lucros não fiquem no bolso de alguns poucos”, afirmou o presidente argentino.
Cumprir tal promessa é algo complexo. Não depende apenas da capacidade do Governo de estabilizar a complexa situação econômica do país, mas também da negociação em curso com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para reestruturar a dívida de 45 bilhões de dólares contraída durante o Governo Macri. A Argentina está obrigada a alcançar um acordo nos próximos meses porque não tem como arcar com os vencimentos de 2022, no valor de 19 bilhões de dólares.
“O FMI tem vivido condicionando a democracia argentina”, advertiu a vice-presidenta ao recordar os planos de ajuste impulsionados pelo organismo internacional em crise anteriores no país sul-americano. “Agora os temos outra vez aqui dentro. Fiquem sabendo, libertários, que eles vêm para controlar nossas contas”, acrescentou.
Uma missão técnica integrada por funcionários do Ministério da Economia e do Banco Central da Argentina negocia em Washington os termos do acordo com o FMI. “Fique tranquila, Cristina, não vamos negociar nada que signifique pôr em xeque o desenvolvimento social na Argentina. Não vamos negociar nada que ponha em perigo o crescimento do país”, respondeu o presidente. “A Argentina do ajuste é história”, afirmou.
O tom otimista do Executivo peronista se choca com as projeções de muitos economistas. A maioria dá como certo que a inflação se acelerará em 2022 e será ainda superior à deste ano, que rondará 50%. O crescimento, por sua vez, se desacelerará depois da recuperação próxima a 7,5% neste 2021, depois do histórico desabamento de 9,9% em 2020, o ano mais duro da pandemia de covid-19.
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