_
_
_
_

Vacinas evitam covid-19 grave pela variante ômicron, apontam cientistas da África do Sul

Conclusões preliminares de estudo indicam que a nova cepa pode ser detectável já com o exame de PCR, sem ser preciso segmentar o genoma

Uma mulher se submete a um exame de covid-19 num local de Soweto, na África do Sul, nesta quinta-feira.
Uma mulher se submete a um exame de covid-19 num local de Soweto, na África do Sul, nesta quinta-feira.Denis Farrell (AP)

Aviso aos leitores: o EL PAÍS mantém abertas as informações essenciais sobre o coronavírus durante a crise. Se você quer apoiar nosso jornalismo, clique aqui para assinar.

A Rede de Vigilância do Genoma na África do Sul (NGS-SA, na sigla em inglês) apresentou na quarta-feira à Comissão de Saúde do Parlamento os avanços preliminares de seu estudo sobre a variante ômicron do coronavírus SARS-CoV2. Ainda precisam de mais tempo para ajustar os dados, mas, no que já consideram o começo da quarta onda da covid-19, informam que seu foco atual é na transmissibilidade da nova variante e na proteção que as vacinas oferecem contra elas. Richard Lessels, especialista em doenças transmissíveis disse que “uma grande parte da população está obtendo a imunidade com as vacinas ou passando pela doença, por isso é complexo dizer qual será a evolução. A genética da ômicron é completamente diferente da delta ou das variantes anteriores”. Tampouco se sabe por enquanto se o período de incubação se mantém na média em cinco dias comprovada até agora. Mas, observou Lessels, já existe a certeza de que “as vacinas são a ferramenta capaz de impedir que a doença seja grave e exija hospitalização”.

“Não nos preocupa tanto o número de mutações, e sim onde se concentram, porque muitas estão na proteína da espícula, especificamente em partes cruciais para o acesso a nossas células. Não sabemos se os anticorpos poderão com elas”, explicou Lessels. Também disse que, embora a maior parte dos pacientes com a nova variante a supere com sintomas apenas leves, “é muito cedo para dizer quão perigosa é a ômicron, porque foi detectada muito recentemente”. “Não sabemos se veremos casos mais graves ou não”, acrescentou.

Durante a apresentação, o especialista confirmou que a variante ômicron, já presente em todas as províncias sul-africanas, vai tomar o lugar da delta, “que vinha se expandindo em níveis muito baixos”, e destacou que o exame PCR é capaz de detectá-la sem a necessidade sequenciamento do genoma. “Um dos três sinais ou alvos no PCR dá negativo, os outros dois dão positivo, por isso o exame continua dando positivo, mas se observa algo diferente. Não é possível detectar o gene da espícula. E foi isso que ocorreu no laboratório Lancet, em Gauteng. Perceberam que alguns dos casos positivos tinham esta marca: a queda do gene. Algo que não acontece com a delta. Por isso, com o PCR podemos seguir o rastro desta variante em tempo real, não é preciso ter o sequenciamento genético completo, que costuma demorar duas semanas em laboratório.”

O efeito das mutações combinadas da variante ômicron no comportamento do vírus é a grande incógnita. Entre os dados que os cientistas já conseguiram confirmar, destacam-se os seguintes: a transmissibilidade é maior; as vacinas, embora a variante esteja afetando pacientes com a pauta completa, evitam a hospitalização; o risco de reinfecção é maior; o efeito da medicação (dexametasona) não se altera, porque esta não trata o vírus, apenas acalma os sintomas; e, sobre a possibilidade de ser mais virulento, observam que, por ter contagiado sobretudo jovens de 20 a 39 anos, com maior capacidade imunológica para resistir à covid-19, não podem concluir nada por enquanto.

O Instituto Nacional de Doenças Infecciosas da África do Sul (NICD, na sigla em inglês) confirmou que, de 249 sequenciamentos feitos em novembro, 183 resultaram ser da ômicron. A imunidade após a cura, cuja duração é desconhecida, não oferece proteção contra esta variante.

A batalha da vacinação

Gauteng —a província mais populosa da África do Sul, onde ficam Pretória e Johanesburgo— continua registrando o maior número diário de novos casos, seguida de KwaZulu-Natal e Cabo Ocidental. Dos 15 milhões de habitantes de Gauteng, 8 milhões não se vacinaram, e o índice de transmissão (a quantidade média de indivíduos contagiados por uma única pessoa) saltou de 1 para 2,3. “Fica claro que os jovens que não estão vacinados representam uma grande preocupação. Continuamos lançando a mensagem de que se vacinar é importante, porque as pessoas vacinadas estão experimentando apenas sintomas leves”, apontou David Makhura, chefe do Governo regional de Gauteng, depois de instaurar um novo mantra: “Manter a calma e se vacinar”.

Lembrando que milhões de pessoas devem se deslocar pelo país com a chegada do verão e o fim do ano letivo, o que pode espalhar ainda mais a ômicron, Makhura pediu aos indecisos e às pessoas que só receberam uma dose da vacina (700.000 pessoas esperam a segunda dose no país, segundo dados oficiais) que compareçam maciçamente aos postos de vacinação. E anunciou a instalação de unidades móveis de aplicação cobrindo 40 colégios de toda a província, para que os jovens não tenham desculpa.

O aumento dos casos em Gauteng, com uma média de 20% a mais a cada dia na última semana, não acompanha o ritmo das internações. Mary Kawonga, membro do comitê de assessoramento do Executivo provincial disse que “a análise da situação continua, mas estamos otimistas, porque o número de pacientes admitidos é menor do que com o mesmo número de contágios na terceira onda, assim como a idade dos internados, entre os quais o percentual de vacinação é mais baixo”.

A variante ômicron já foi detectada em mais de 20 países, mas a África do Sul e Botsuana continuam acumulando 62% dos casos identificados no mundo. Enquanto os cientistas trabalham intensamente para prever como a nova linhagem vai se comportar nos próximos meses, na África do Sul, com 41,97% da população adulta vacinada, mantém-se a calma sem baixar a guarda.

Apoie nosso jornalismo. Assine o EL PAÍS clicando aqui

Inscreva-se aqui para receber a newsletter diária do EL PAÍS Brasil: reportagens, análises, entrevistas exclusivas e as principais informações do dia no seu e-mail, de segunda a sexta. Inscreva-se também para receber nossa newsletter semanal aos sábados, com os destaques da cobertura na semana.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_