Nova variante do coronavírus leva países a se fecharem a viajantes do sul da África. Anvisa pede restrições no Brasil

Agência de vigilância recomenda suspensão imediata de voos de seis países, incluindo a África do Sul. União Europeia, Reino Unido, Israel e Estados Unidos decidiram proibir as viagens

Aeroporto internacional de Hong Kong, onde a nova mutação também foi detectada.TYRONE SIU (Reuters)
Bruxelas / São Paulo / Madri -

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A nova variante do coronavírus identificada pela África do Sul —chamada B.1.1.529— provocou a derrubada de Bolsas de valores e anúncios de fechamento de suas fronteiras para viajantes vindos da parte sul do continente africano. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu nesta sexta-feira uma nota em que recomenda ao Governo a suspensão imediata de voos procedentes de seis países: África do Sul, Botsuana, Eswatini (antiga Suazilândia), Lesoto, Namíbia e Zimbábue. A orientação foi enviada para a Casa Civil, Ministério da Saúde, Ministério da Infraestrutura e Ministério da Justiça e Segurança Pública, pastas às quais cabe uma decisão oficial. “A prevenção deve ser feita agora. Não há sentido em aguardar”, declarou em entrevista ao canal GloboNews Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa. Os 27 países da União Europeia decidiram suspender os voos da região, assim como Reino Unido, Israel e Estados Unidos —onde, segundo a Casa Branca, as restrições entrarão em vigor em 29 de setembro.

Na nota, a agência pede ainda a suspensão, em caráter temporário, da autorização de desembarque no Brasil de viajante estrangeiro com passagem pelos mesmos países da região nos últimos 14 dias, além da realização de uma quarentena, logo após o desembarque no Brasil, para viajantes brasileiros e acompanhantes que tenham passado por esses locais também nas últimas duas semanas.

“Considerando não haver, no momento, malha aérea com voos procedentes diretamente da África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue para o Brasil e visando o controle da disseminação de nova variante do SARS-CoV-2 identificada, a Anvisa recomenda a restrição de entrada de viajantes com essas procedências por qualquer meio de transporte (aéreo, rodoviário ou aquaviário) [...] Fica mantida a recomendação de suspensão de voos procedentes desse país, caso ocorra programação, durante o período de adoção das restrições abordadas”, explica a nota.

O documento apresenta como justificativa o potencial de “maior transmissibilidade” da variante e sua possível ligação com o “aumento contínuo de infecções por SARS-CoV-2 nos referidos países, cuja cobertura vacinal ainda encontra-se baixa”. Cita que medidas semelhantes já vem sendo adotadas na Europa.

A Casa Branca informou nesta sexta que, devido à propagação da nova variante, decidiu restringir a entrada nos Estados de viajantes da África do Sul e de outros sete países da região, informa Yolanda Monge. “Meu assessor e membros de nossa equipe de resposta à covid-19 me informaram sobre a variante ómicron”, explicou o presidente Joe Biden através de um comunicado. As novas restrições entrarão em vigor a partir de 29 de novembro. “Sempre nos guiaremos pelo que a ciência e minha equipe de médicos recomendem”, assegura o mandatário.

A presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também propôs a suspensão das conexões aéreas para a região. “A Comissão Europeia proporá, em estreita coordenação com os Estados-membros, acionar o freio de emergência para parar o tráfego aéreo da região do sul da África para a variante B.1.1.529″, anunciou Von der Leyen em uma mensagem no Twitter na manhã desta sexta-feira. Os 27 países da União Europeia decidiram então suspender os voos da região. Alemanha, Italia, Holanda, Espanha e França já haviam adotado a suspensão antes do posicionamento do bloco, assim como o Reino Unido. Israel, onde o Governo disse na sexta-feira de manhã que havia detectado três possíveis casos da nova cepa, optou por incluir os países da região africana em sua lista vermelha, o que impede a entrada de estrangeiros de seis nações: África do Sul, Lesoto, Botsuana, Zimbábue, Moçambique, Namíbia e Eswatini.

Tanto a África do Sul quanto os outros países que compõem a região já são considerados pela União Europeia como Estados em risco de saúde devido à pandemia e, portanto, seus cidadãos só poderiam entrar bloco se fossem passageiros em trânsito ou por motivos de trabalho (trabalhadores da saúde, trabalhadores sazonais, diplomatas, marítimos, estudantes).

Na véspera, a comissão havia recomendado aos Estados-membros uma dose de reforço da vacina. A orientação é limitar o período de validade do certificado de vacinação a nove meses, o que exigiria uma terceira aplicação após esse período para obter o documento que permite viajar sem restrições dentro da UE.

Embora ainda não tenha sido detectada em seu território, os sinos de alerta sobre a nova variante estão soando na Europa no momento em que o bloco se encontra no meio de uma nova onda da pandemia, que atinge particularmente os países com taxas de vacinação mais baixas. O ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, declarou: “A última coisa que precisamos é de uma nova variante que cause ainda mais problemas”. As autoridades sanitárias alemãs notificaram um total de 76.414 infecções diárias por coronavírus nesta sexta-feira, um novo recorde, superando os quase 76.000 casos positivos relatados no dia anterior.

A nova variante, que tem cerca de 30 mutações, foi detectada em Botsuana, Hong Kong e Israel, além da África do Sul. A Organização Mundial da Saúde (OMS) deve emitir uma declaração sobre a B.1.1.529 nesta sexta-feira.

No caso do Reino Unido, o Governo apelou para uma ação rápida. O ministro dos Transportes, Grant Shapps, explicou: “É importante que tratemos de agir imediatamente, e ao fazê-lo desaceleramos a entrada potencial [da variante] no país”. Espera-se que a mudança dê aos cientistas tempo para “trabalhar no sequenciamento do genoma, que leva várias semanas” para descobrir o quão “preocupante é esta variante específica”, disse Shapps em uma declaração relatada pela Efe.

As mutações do vírus inicial podem torná-lo mais contagioso até se tornarem dominantes. Foi o caso da variante delta, descoberta inicialmente na Índia, que, segundo a OMS, reduziu a eficácia das vacinas contra a transmissão da covid-19 para cerca de 40%. Por enquanto, os cientistas sul-africanos não sabem se as vacinas existentes são eficazes contra essa nova forma do vírus.

“É uma variante a ser acompanhada, e é preocupante”, disse Maria Van Kerkhove, chefe da unidade técnica contra a covid-19 da OMS. “Ainda não sabemos muito sobre esta variante, sabemos que ela tem um alto número de mutações, e a preocupação é que isso afete o comportamento do vírus”, disse Van Kerkhove, referindo-se à capacidade de transmissão e à eficácia dos tratamentos, diagnósticos e vacinas. “Levará alguns dias para ver o impacto que pode ter e o potencial das vacinas contra a variante”, disse ela, observando que um grupo consultivo da OMS realizará uma reunião nesta sexta-feira para discutir a questão. “Não há motivo para alarme, mas temos que ver o que [a mutação] significa”, disse Van Kerkhove.

A vacinação nos dois países africanos onde a nova variante foi detectada até o momento é muito baixa em comparação com os países mais ricos. Em Botsuana, apenas 19% da população está totalmente imunizada e 17% têm só uma dose. Na África do Sul, 24% estão totalmente imunizados e outros 4% têm só uma dose, de acordo com os dados coletados pelo site Our World in Data..

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