Novo Governo de Israel lança primeiro ataque a Gaza desde o início do cessar-fogo
Aviação bombardeia posições do Hamas em represália pelo uso de balões incendiários vindos do território palestino
A aviação israelense atacou na madrugada desta quarta-feira posições do Hamas na Faixa de Gaza pela primeira vez desde a declaração do cessar-fogo de 21 de maio, que pôs fim a uma escalada bélica de 11 dias. O bombardeio, que causou danos materiais em bases da milícia palestina na capital do enclave e em Khan Yunis (sul), foi uma represália pelo uso de aproximadamente 20 balões incendiários que foram soltos na Faixa de Gaza e queimaram lavouras dos arredores, já em território israelense. Foi a primeira ação armada ordenada pelo novo Governo israelense, que tomou posse no domingo após desalojar o conservador Benjamin Netanyahu, que passou 12 anos como primeiro-ministro.
As Forças Armadas advertiram em nota que “Israel está preparado para qualquer cenário, incluído a retomada das hostilidades”. A escalada do mês passado resultou na morte de mais de 240 palestinos, entre eles 67 menores, e 13 israelenses, sendo um militar. Um porta-voz do Hamas anunciou que “a resistência islâmica continuaria defendendo os direitos palestinos e seus lugares sagrados (em Jerusalém)”.
Na terça-feira, Jerusalém Oriental reviveu cenas de tensão como as que antecederam há um mês a maior onda de hostilidades nos últimos sete anos entre Israel e as milícias de Gaza. Quase 5.000 extremistas judeus marcharam perante o recinto amuralhado da Cidade Velha gritando reivindicações nacionalistas, em um desfile interpretado como um desafio ao governo de coalizão ampla constituído no domingo. A mobilização de mais de 2.000 policiais impediu confrontos com centenas de contramanifestantes palestinos que se reuniram naquela parte de Jerusalém. Os agentes vigiaram para que a passeata seguisse o trajeto previsto, desviado de seu tradicional percurso por um bairro majoritariamente árabe.
Milhares de jovens, em sua grande maioria colonos ultradireitistas e religiosos, pulavam sincopadamente sob inúmeras bandeiras israelenses em frente à emblemática Porta de Damasco, embora sem atravessá-la, como nas edições anteriores do desfile, o que é visto como uma provocação por se tratar do principal acesso ao bairro muçulmano do centro histórico. O desfile é parte da celebração do Dia de Jerusalém, alusivo à conquista da parte oriental da cidade por tropas israelenses em 1967. A comemoração oficial foi suspensa em 10 de maio por causa do lançamento de foguetes de Gaza contra a província de Jerusalém, uma ação que desencadeou 11 dias de hostilidades entre o Exército israelense e os braços armados do Hamas e da Jihad Islâmica.
A nova onda de violência em Gaza representa o primeiro desafio bélico para o novo Governo israelense dirigido pelo ultranacionalista Naftali Bennett, horas depois de precisar lidar com a delicada questão da manifestação da ultradireita e de grupos radicais judeus em Jerusalém, onde se ouviram gritos de “morte aos árabes!”.
O ministro dos Relações Exteriores, Yair Lapid, sócio-chave no novo Governo, condenou “o uso da bandeira de Israel por elementos extremistas em meio ao ódio e o racismo”. “Isso não é próprio de judeus nem de israelenses, isso não é o que a bandeira simboliza”, clamou pelo Twitter. “Essa gente (os manifestantes) é uma desgraça para Israel.”
A marcha das bandeiras pela Cidade Velha de Jerusalém foi inicialmente reprogramada para quinta-feira passada, mas o então chefe de Governo Netanyahu decidiu adiá-la, numa manobra política aparentemente destinada a torpedear os primeiros dias da gestão de Bennett e da sua heterogênea coalizão, da qual participam inclusive um partido pacifista e uma formação da minoria árabe israelense.
Na tarde de terça-feira, soldados a cavalo da tropa de choque expulsaram os manifestantes palestinos dos arredores da Porta de Damasco, levando 17 detidos e deixando outros 30 feridos entre os participantes de um protesto contra a presença de radicais judeus em Jerusalém Oriental. A marcha nacionalista israelense prosseguiu seu curso pelo exterior das muralhas até o bairro judaico, apenas margeando o bairro muçulmano, até terminar em uma grande concentração em frente à esplanada do Muro das Lamentações.
O enviado das Nações Unidas para o Oriente Médio, Tor Wennesland, advertiu que “a tensão está voltando a aumentar em Jerusalém em um momento politicamente muito sensível”. A constituição de um novo Governo em Israel ocorreu enquanto a ONU e o Egito ainda tentam consolidar o cessar-fogo que entrou em vigor em 21 de maio em Gaza. Wennesland pediu a ambos os lados que evitem ações que possam ser vistas como “provocações”.
No último mês islâmico do Ramadã, entre abril e maio, houve diversos confrontos em Jerusalém entre policiais e manifestantes palestinos na mesquita de Al Aqsa, terceiro lugar mais sagrado do islamismo, situada na Cidade Velha, e no vizinho bairro de Sheikh Jarrah, de onde uma organização de colonos ameaçava expulsar dezenas de famílias palestinas. Israel considera Jerusalém como sua capital única e indivisível, enquanto os palestinos aspiram a transformar a parte oriental da Cidade Santa em capital de seu futuro Estado.
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