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De olho na China, Biden inicia sua primeira viagem internacional

Presidente dos EUA, que visita Reino Unido e Bruxelas, quer reforçar compromisso de Washington com seus sócios europeus após o ‘furacão Trump’, mas pedirá firmeza perante o regime de Xi Jinping

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e sua mulher, Jill Biden, se preparam para embarcar no avião presidencial Air Force One, na sexta-feira passada, na base militar de Dover (Maryland).
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e sua mulher, Jill Biden, se preparam para embarcar no avião presidencial Air Force One, na sexta-feira passada, na base militar de Dover (Maryland).Andrew Harnik (AP)
Amanda Mars
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A primeira viagem internacional de Joe Biden como presidente selará o novo papel que os Estados Unidos querem desempenhar no mundo após quatro anos do furacão Donald Trump, que consiste basicamente em liderar o bloco de democracias ocidentais frente à pujança do regime autoritário chinês no âmbito comercial, militar e tecnológico. Biden começa sua viagem pelo Reino Unido, onde participará da reunião do G7 e se encontrará com o primeiro-ministro Boris Johnson e a rainha Elizabeth II; prosseguirá com a cúpula da OTAN na segunda-feira em Bruxelas, onde também se reunirá com as autoridades europeias; e culmina em 16 de junho em Genebra com um encontro bilateral com o presidente russo, Vladimir Putin. O democrata quer reforçar o compromisso de Washington com seus aliados tradicionais depois da fratura sofrida durante a presidência de seu predecessor republicano, mas também pedir pulso firme com Pequim e Moscou.

Biden não é Donald Trump, mas tampouco Barack Obama. “Os Estados Unidos voltaram” é o lema da guinada na política externa da nova Administração democrata, que procura se desvincular da tendência à ruptura do republicano, mas deixando claro que esse retorno não é exatamente ao mesmo lugar onde Obama a deixou ao encerrar seu mandato, em janeiro de 2017. O avanço da China inquieta cada vez mais em Washington, ocupando o centro da agenda externa do novo presidente. O assunto deve pairar durante todo o périplo pela Europa e, na verdade, já ocupou ―junto com a Rússia e a retirada do Afeganistão― boa parte da reunião preparatória que Biden manteve na segunda-feira com o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg.

“O crescimento da China representa algumas oportunidades para nossas economias, através do comércio, e precisamos conversar com eles para assuntos como a mudança climática e o controle de armas”, disse o principal dirigente da aliança militar composta por países da Europa e América do Norte, depois da reunião na Casa Branca. Mas acrescentou que “ao mesmo tempo, logo [a China] será a maior economia do mundo, já dispõe do segundo maior orçamento militar e está investindo em capacidades militares, e não compartilha nossos valores, vemos isso em como liquida os protestos democráticos em Hong Kong, em como trata as minorias como os uigures, ou como ameaça Taiwan”.

Mesmo assim, como salientou numa conferência no mesmo dia no Atlantic Council, um dos grandes think tanks de política externa em Washington, “a China não é um adversário”, embora o vocabulário de Washington e Pequim exale um aroma próprio da Guerra Fria, o que afugenta os europeus. O principal diplomata do Governo Biden para a Ásia, Kurt Campbell, disse em uma conferência no final de maio na Universidade de Stanford, citada pela agência Bloomberg, que “o paradigma dominante” acerca da China agora é o da “competição” entre potências. “O período conhecido habitualmente como vinculação e colaboração (engagement) terminou”, acrescentou.

Em um artigo publicado neste domingo no The Washington Post, Biden fala desta viagem como uma oportunidade de “demonstrar a capacidade das democracias de enfrentarem os desafios e neutralizar as ameaças da nossa era”. E entre eles cita a pandemia, a crise climática e “as atividades nocivas dos Governos da China e Rússia”. Os Estados Unidos “devem liderar o mundo a partir de uma posição de força”, destaca ele no texto, intitulado Minha viagem à Europa trata de os EUA reunirem o apoio das democracias do mundo. Essa é uma diferença radical em relação à postura isolacionista de Trump, que desdenhava da colaboração multilateral, dando mais valor aos acordos bilaterais, e relutava em liderar qualquer coisa.

A relação com a OTAN exemplifica bem essa virada. Logo depois de chegar à Casa Branca, Trump sugeriu que se desligaria da cláusula de defesa coletiva da aliança, que estabelece o dever de assistência mútua entre seus membros. Biden, entretanto, antecipou em seu texto deste domingo que reafirmará o compromisso de Washington com o artigo 5º, que expressa claramente esse princípio e que, na verdade, só foi ativado uma vez, quando os Estados Unidos sofreram os atentados de 11 de setembro de 2001.

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Comércio e tecnologia

No marco dessa cúpula, Biden se reunirá com a presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. Segundo o norte-americano, sua preocupação será “assegurar que as democracias de mercado, não a China nem ninguém mais, escrevam as regras do século XXI sobre comércio e tecnologia”. Especificamente, explorarão novas vias de colaboração na tecnologia 5G e para garantir o abastecimento de semicondutores, os minúsculos microprocessadores ―hoje escassos no mercado― que possibilitam o funcionamento de grande parte dos dispositivos digitais.

A viagem também inclui uma reunião com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, com quem discutirá sobre a Síria e o Afeganistão, e finalizará com a cúpula com Putin. A entrevista terá lugar em um clima de alta tensão entre os dois países, por causa dos ataques cibernéticos sofridos nos últimos meses e anos nos Estados Unidos, e que Washington atribui ao Kremlin; pelas operações de ingerência eleitoral, das quais Moscou se desvincula; e pelas hostilidades da Rússia na Ucrânia. Os Estados Unidos pretendem a “restaurar a previsibilidade e a estabilidade da relação”, e também esse encontro refletirá a mudança de ordem em Washington. Trump manifestava uma desconcertante cordialidade com relação a Putin ao mesmo tempo em que sua Administração impunha sanções à Rússia por estas operações, o que gerou certa irritação, levando-se em conta que essas ingerências eleitorais buscavam a vitória de Trump. Desta vez, Governo e presidente estão no mesmo ritmo.

A agenda da semana europeia de Biden

- Quarta-feira, dia 9: Chegada à base aérea de Mildenhall, na Grã-Bretanha.

- Quinta-feira, dia 10: Encontro com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

- Sexta-feira, dia 11, e sábado dia 12: Cúpula do G-7 na Cornuália (Reino Unido). Trata-se da primeira cúpula presencial deste tipo desde o início da pandemia. A covid-19 será justamente o assunto primordial na reunião, sobretudo maneiras de ajudar os países mais pobres.

- Domingo, dia 13: O presidente Biden e sua esposa visitarão a rainha Elizabeth II antes de embarcarem para Bruxelas.

- Segunda-feira, dia 14: O mandatário norte-americano manterá encontros com outros membros da OTAN. Tem uma reunião prevista também com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que não deverá ser fácil, depois que Biden reconheceu em abril o genocídio armênio pelos turcos.

- Terça-feira, dia 15: Cúpula UE-EUA, em que ambas as partes tentarão recompor as relações após o mandato de Donald Trump, com assuntos como as tarifas do alumínio e o aço, as ajudas às companhias Boeing e Airbus e questões tecnológicas.

- Quarta-feira, dia 16: Em seu último dia na Europa, Biden se reunirá com o presidente russo, Vladimir Putin, em Genebra (Suíça). Apesar dos desejos manifestados pelo presidente norte-americano de melhorar as relações, Washington e Moscou têm frentes abertas como o conflito na Ucrânia, as ingerências em diferentes processos eleitorais e o encarceramento do opositor Alexei Navalny.

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