Putin quer abrir a Rússia ao ‘turismo da vacina’ contra o coronavírus
Presidente russo acusa o Ocidente de restringir imunizantes como a Sputnik V por razões políticas. Nesta sexta, a Anvisa autorizou a importação “controlada” do imunizante por seis Estados brasileiros
O número de pessoas vacinadas contra o coronavírus na Rússia estagnou, mas seu presidente, Vladimir Putin, quer abrir o país para estrangeiros que desejem receber imunizantes russos. O presidente russo ordenou nesta sexta-feira que o Governo faça um plano até o final do mês com o objetivo de lançar o turismo da vacina contra a covid-19. Em um pronunciamento no Fórum Econômico de São Petersburgo, no qual garantiu que a Rússia está saindo da pandemia com o pé direito, Putin elogiou as vacinas produzidas no país —que aguardam a aprovação da Organização Mundial de Saúde (OMS)— e acusou o Ocidente de criar obstáculos para sua compra em razão de “proibições por motivação política”. A poucos dias da cúpula com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, Putin também acusou Washington de tentar frear o desenvolvimento da Rússia.
Apesar de a Rússia ter sido o primeiro país do mundo a registrar uma vacina contra o coronavírus —a Sputnik V, amplamente apoiada pelo Kremlin— e a campanha de imunização ter começado em dezembro passado, nesse país de 144 milhões de habitantes apenas cerca de 20 milhões as pessoas receberam pelo menos uma dose de uma das três vacinas russas disponíveis, de acordo com dados do Governo. Nesta sexta, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a importação excepcional da Sputnik, sob condições controladas, a pedido de seis Estados brasileiros (Bahia, Maranhão, Sergipe, Ceará, Pernambuco e Piauí). O imunizante ainda não obteve a autorização de uso no país.
Na Rússia, a desconfiança da população, os problemas de abastecimento e produção durante os primeiros meses e o cansaço da pandemia levaram ao estancamento dos números da vacinação em um país que registra cerca de 9.000 infecções diárias e cerca de 400 mortes; o número total de mortos é de 123.037, de acordo com a questionada contagem oficial (a agência de estatísticas estadual Rosstat afirma, no entanto, que houve um excesso de mortalidade de mais de 460.000 pessoas desde o início da pandemia).
Além disso, após as primeiras semanas, em que a vacinação era gratuita para todos e quase sem exigências burocráticas, atualmente apenas estrangeiros com autorização de residência (um grupo muito pequeno) podem ser vacinados na Rússia, o que deixa de fora milhares de pessoas que não têm acesso à vacinação; nem oficialmente por canais privados. Mais um problema de saúde pública para alcançar a imunidade de rebanho no país.
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Clique aquiDurante seu discurso, presencial, no plenário do fórum, Putin conclamou os russos a se vacinarem, mas rejeitou as reivindicações de algumas autoridades russas que pediram que a imunização seja obrigatória. Algumas regiões, como Moscou, lançaram programas para promover a imunização e oferecer vale-presentes aos aposentados que se vacinarem. A Rússia mantém suas fronteiras fechadas para a população da maioria dos países —quase todos os Estados membros da União Europeia, por exemplo— e mesmo assim o presidente russo convidou estrangeiros para visitar a Rússia para receber a vacina contra a covid-19. “A Rússia não só cobre totalmente as próprias necessidades, como também podemos dar aos estrangeiros a oportunidade de vir aqui e serem vacinados. Eu sei que existe uma demanda generalizada para isso”, disse ele.
Há meses, o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF) —o fundo soberano da Rússia—, que financiou a vacina Sputnik V, vinha propondo a ideia de lançar programas de turismo de vacinas. Até agora, algumas agências de viagens organizaram visitas de turismo de saúde para duas centenas de cidadãos alemães que foram a Moscou para se imunizar em uma clínica particular. Nesta sexta-feira, Kirill Dmitriev, diretor da RDIF, declarou que a Rússia poderá se abrir ao turismo de vacinas em julho.
A iniciativa viria, no entanto, em um momento em que é muito provável que a maioria dos países desenvolvidos tenha resolvido a escassez de vacinas sofrida nos primeiros meses do ano. E viajar para a Rússia com um desses “pacotes turísticos” pode sair muito caro para os cidadãos desses Estados que agora enfrentam a falta de imunizantes.
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