Sem provas, Keiko Fujimori denuncia fraude e agita reta final da apuração eleitoral no Peru
Chefe da missão de observadores da OEA felicita o país andino pela organização do pleito
Keiko Fujimori lançou suspeitas que agitaram a reta final da apuração dos votos na eleição presidencial do Peru. A candidata conservadora havia prometido durante a campanha que aceitaria os resultados, mas na hora da verdade pôs o processo em dúvida. Nesta segunda-feira, quando Pedro Castillo estava 95.000 votos à frente, faltando ainda contabilizar os votos dos peruanos no exterior, Fujimori concedeu entrevista coletiva para denunciar que tem indícios de irregularidades na apuração. No entanto, ela não apresentou nenhuma prova das suas alegações.
“Há uma clara intenção de boicotar a vontade popular”, afirmou Fujimori, pedindo às pessoas que usem a hashtag #FraudeEnMesa para divulgar vídeos que comprovem essa tese. Entre os supostos indícios que ela mencionou estão as impugnações de boletins de urna feitos por membros do partido de Castillo, um procedimento previsto em lei e do qual a sua formação também se vale. Quando os resultados de uma seção não lhe são favoráveis e o documento apresenta algum tipo de imperfeição, os fiscais do partido que se sentirem prejudicados podem pedir sua anulação. A última palavra cabe à autoridade eleitoral. Na prática, a impugnação de um número elevado de urnas não representa nenhuma irregularidade.
Foram relatados, no máximo, incidentes isolados em alguns locais de votação, que as autoridades resolveram e por isso chegaram a ser conhecidos. A candidata do partido Força Popular, que disputa o segundo turno de uma eleição presidencial pela terceira vez consecutiva, só pretendia se pronunciar após a apuração de 100% dos votos. Mas, com 96,387% dos votos apurados, o esquerdista Castillo abriu uma ligeira vantagem (50,28% contra 49,72%). Então Fujimori, acompanhada de dois candidatos a ocupar vice-presidências em seu hipotético Governo, apareceu para atiçar as suspeitas de marmelada.
A declaração de Fujimori contrasta com a avaliação das missões de observação eleitoral. Por exemplo, o chefe da delegação da Organização dos Estados Americanos (OEA) felicitou o Peru na tarde de segunda-feira pela realização pacífica e democrática da jornada anterior. “Reconheço às autoridades eleitorais pela organização de um processo de grande complexidade, marcado pela pandemia e a polarização política”, disse Rubén Ramírez em um vídeo divulgado no Twitter.
Dada a pouca diferença no número de votos entre os dois candidatos e a demora na apuração ―ainda faltam contabilizar cédulas de zonas rurais e do exterior―, Castillo e Fujimori manifestaram preocupação sobre o respeito aos votos, embora só a conservadora tenha falado diretamente em fraude.
O chefe da missão da OEA pediu a Fujimori e Castillo que aguardem os resultados com paciência e serenidade. “As eventuais inconformidades serão resolvidas pelas vias legais”, disse. A líder do Força Popular está repetindo o roteiro de 2016, quando Pedro Pablo Kuczynski foi dado como vencedor ―por menos de um ponto percentual― na projeção de resultados feita por um instituto de pesquisas. Nos dias seguintes, ela e sua equipe de campanha denunciaram um suposto roubo e, quando a Justiça Eleitoral proclamou vitória de Kuczynski, a líder fujimorista e seu partido usaram moções de censura para tratar de obstruir o Governo recém-eleito.
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Clique aquiApesar da atitude de Fujimori, nem tudo está decidido. A distância ainda é reversível. Falta computar os votos no exterior, onde teoricamente ela tem mais apoio. “Sabemos que estão chegando os votos dos peruanos que residem do exterior e confiamos que com a apuração dessas atas a votação vai se emparelhar”, disse ela.
Além disso, um relatório da missão da União Interamericana de Organismos Eleitorais reconheceu o esforço da ONPE, a entidade responsável por organizar o pleito, e da Justiça Eleitoral “em organizar um processo correto e bem-sucedido, de acordo com os padrões nacionais e internacionais”. Depois do pronunciamento de Fujimori, Iván Lanegra, secretário-geral da ONG peruana Associação Civil Transparência, especializada em observação eleitoral, negou que haja suspeitas fundadas de fraude eleitoral.
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